Deputados votam hoje parecer que rejeita denuncia

?? nesta quarta-feira, a partir das 9h, que o plenário da Câmara dos Deputados vota se denúncia contra o presidente Michel Temer deve, ou não, seguir em frente

Por
· 5 min de leitura
Movimentação durante leitura do parecer na tarde de ontem (1) foi marcada por articulações para evitar não prosseguimento de investigação contra TemerMovimentação durante leitura do parecer na tarde de ontem (1) foi marcada por articulações para evitar não prosseguimento de investigação contra Temer
Movimentação durante leitura do parecer na tarde de ontem (1) foi marcada por articulações para evitar não prosseguimento de investigação contra Temer
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

As estratégias estão postas para a sessão da Câmara dos Deputados desta quarta-feira (2), quando os parlamentares votam pela admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer. O processo apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda no início de julho acusa Temer pelo crime de corrupção passiva. O cenário de polaridade na Câmara não é de agora: já vem se desenhando desde a apresentação – e rejeição – do primeiro parecer de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), que recomendava dar prosseguimento à denúncia. Na contramão disso está o parecer lido na tarde de ontem (1) elaborado pelo deputado Abi-Ackel (PSDB-MG), que contestou a validade das provas apresentadas contra Temer. O voto recomendado por ele é pelo arquivamento do processo. Se a denúncia for aprovada, a acusação será investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e Temer pode ficar até 180 dias afastado do cargo. Caso contrário, é enterrada entre pilhas e pilhas de processos do Congresso.

Para evitar a investigação

Não foi segredo para ninguém o que o governo Temer fez para tentar barrar o prosseguimento da investigação. Na tarde de ontem, o próprio ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que os ministros com mandato de deputado serão exonerados temporariamente do cargo para retornar à Câmara. O motivo: participar da votação no plenário. Todas deverão ser publicadas na edição do Diário Oficial da União. “Todos votam, exceto Raul Jungmann [ministro da Defesa], que está no Rio de Janeiro. Amanhã o Diário Oficial libera os ministros que querem exercer o direito a voto. O simbolismo da votação se reveste também da participação dos ministros no plenário fazendo as conversas que normalmente se faz e também exercendo o direito ao voto”, disse Padilha.

Essa não é a primeira vez que ministros retornam ao Congresso para votar em matéria de interesse do governo. Em outubro do ano passado, Temer exonerou dois ministros para que votassem a proposta de emenda à Constituição (PEC) que prevê um teto para os gastos públicos. Em abril deste ano, o presidente usou o mesmo recursos ao exonerar os ministros para reassumir o mandato de deputado federal e votar no projeto da reforma trabalhista, que foi aprovada. Também em abril, Temer havia decidido que ministros retornariam mais uma vez à Câmara para participar da votação em plenário da PEC da Reforma da Previdência. O PMDB, partido de Temer, já definiu que toda a sua bancada votará contra a admissibilidade da denúncia. No total, são 63 deputados. A informação veio do presidente do partido e líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). “O PMDB definiu fechamento de questão e qualquer ato em oposição à decisão do partido terá consequências”, disse ele. Além disso, ele também negou que a denúncia será capaz de paralisar os trabalhos na Câmara até que haja definição dos deputados.

Já a  bancada de oposição aproveitou a leitura do relatório na tarde de ontem para articular sobre estratégias de barrar a não-admissibilidade do processo. Uma das possibilidades cogitadas é a de não registrar presença para dificultar o alcance do quórum. O deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS) disse em entrevista que o governo “perdeu o controle da base” e que prevê um impasse na votação. “Vai ser uma briga feia”, declarou. O representante da Rede (RJ), Alessandro Molon, apontou que o governo está “jogando a toalha” e “batendo cabeça” para evitar que a denúncia vá para o STF. "Seja qual for o resultado hoje aqui, o governo já perdeu porque precisou trocar membros da comissão para fabricar um resultado artificial, para manipular a votação da CCJ e isso à custa do dinheiro do povo brasileiro", disse, adiantando que a estratégia dos contrários ao presidente será de apenas garantir quórum caso a sessão não seja "esvaziada".

Relatórios opostos e pressão interna

Mesmo sendo da base aliada, Zveiter defendeu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que a denúncia contra Temer devia, sim, ser analisada. Derrotado, seu parecer foi substituído pelo de Abi-Ackel, que defende o arquivamento da proposta. No relatório de Zveiter, ele enfatizava a necessidade de investigação contra o presidente, já que a denúncia da PGR apresentava sérios indícios de corrupção passiva e, por isso, era preciso esclarecer o ocorrido com a sociedade. Diante disso, muitas trocas foram feitas na CCJ. Uma estratégia governista trocou 25 dos 66 membros da comissão – o que ajudou a garantir a maioria dos votos para derrubar o primeiro parecer.

“A derrota que se afigura hoje aqui é uma derrota que foi montada artificialmente. Uma derrota aqui não vai ser do parecer, vai ser a derrota do povo brasileiro que quer uma política limpa, honesta, correta, que repudia que deputados eleitos livremente pelo voto se submetam as manobras de oferecimento de emendas parlamentares e cargos”, declarou. Alguns dias depois, surge um novo parecer. Desta vez, o texto contesta a acusação de que Temer tenha cometido qualquer crime de corrupção passiva. Com um novo relator, o novo parecer foi lido e votado em pouco mais de uma hora. No novo enunciado, Abi-Ackel questiona a validade técnica das provas apresentadas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Os passos da votação

Existe possibilidade de adiamento da votação. Isso por conta do quórum aguardado para este tipo de processo: é necessário que pelo menos 342 deputados estejam presentes na sessão – dois terços dos 513 parlamentares da casa, número expressivamente alto e difícil de ser atingido, por conta da essência da matéria. Em entrevista, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou acreditar que o quórum será alcançado e a votação concluída até o final da tarde. Com a aprovação, a acusação será investigada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Rito da votação

  1. Tudo começa com a leitura do parecer aprovado na CCJ. Em seu relatório, o tucano pede que a denúncia contra Temer seja arquivada por falta de provas.
  2. Na defesa, o presidente Michel Temer ou seu advogado poderão falar por até 25 minutos.
  3. Depois disso, cada deputado poderá manifestar-se por até cinco minutos.
  4. Após a exposição de quatro oradores, a secretaria esclarece que é permitida a apresentação do requerimento para encerrar a discussão. Este requerimento é submetido à votação dos deputados, no caso do plenário já ter a presença de pelo menos 257 parlamentares – quórum mínimo estabelecido pelo Regimento Interno para votações.
  5. Encerrada a discussão, terá início o processo da votação do parecer. Para encaminhar a votação, poderão falar mais dois oradores contrários e dois favoráveis ao parecer de Abi-Ackel por até 5 minutos cada. Os líderes partidários poderão falar por um minuto para orientar o voto das bancadas.
  6. Aí então o mérito do parecer da CCJ será submetido à votação nominal. Cada deputado deverá responder “sim”, “não” ou abstenção, conforme aprove ou rejeite o voto do parecer. Os parlamentares serão chamados conforme seus estados por ordem alfabética. A chamada será alternada entre estados das regiões Norte e Sul.
  7. Alcançados os 342 votos, a Presidência da Câmara poderá proclamar o resultado. Para derrubar a denúncia, basta que a base aliada tenha a maioria dos votos dentre o mínimo de 342 votantes. Já para aprová-la, a oposição precisa ter, no mínimo, 342 votos. 
Gostou? Compartilhe