A preocupação de que a caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria em Passo Fundo, a recepção mais hostil durante sua passagem pelo Rio Grande do Sul acabou se confirmando. Centenas de manifestantes contrários, se posicionaram, ainda pela manhã, na RS 324, para impedir a passagem dos três ônibus com a comitiva. Eles usaram tratores para bloquear a pista. A Brigada Militar revidou com bombas de efeito moral para dispersar o tumulto e liberar a passagem dos veículos. Uma pessoa chegou a ser detida. Diante do clima tenso, o ex-presidente Lula, que havia iniciado a caravana ontem, pela cidade de Ronda Alta, decidiu suspender o ato que estava marcado para às 13h, no centro de Passo Fundo. Ele viajou de carro, de Pontão até Chapecó, e depois seguiria a Porto Alegre em um voo executivo. À noite, participaria do último ato da caravana no Rio Grande do Sul, na cidade de São Leopoldo.
A expectativa de que o clima seria tenso ontem, já vinha se desenhando durante a semana, com uma série de manifestações de grupos contrários. Uma delas partiu de quatro vereadores de Passo Fundo que ingressaram com uma ação popular na Justiça Federal, na tentativa de impedir o ato, que inicialmente estava marcado no Campus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFFS), sob alegação de uso político-partidário da instituição. Mesmo o judiciário tendo indeferido o pedido, a direção da caravana resolveu transferir o ato para a Avenida Brasil, centro. A troca de mensagens, via aplicativos, entre organizadores do protesto, também apontavam para reações mais fortes.
Ainda pela manhã, os manifestantes, organizados pelo Sindicato Rural, iniciaram a concetração na RS 324, entrocamento com a BR 285. O local é um dos principais acessos a Passo Fundo. Eles estacionaram tratores e caminhões nos dois lados da rodovia. Usando faixas e cartazes, entoavam frases contra o ex-presidente. Enfileirados, aguardavam a passagem dos três ônibus da comitiva, segurando ovos, relhos, correntes e pedaços de pau. "Estamos aqui para impedir que ele (Lula) entre em Passo Fundo", disse um dos manifestantes.
A situação ficou mais tensa, por volta das 15h. Com a notícia de que a caravana estava se aproximando, proprietários rapidamente 'jogaram' os tratores para cima da rodovia e abandonaram as máquinas, bloqueando totalmente a via em ambos os sentidos.
Alguns manifestantes sentaram no asfalto e começaram a cantar o hino do Rio Grande. Policiais do 3º Batalhão de Operações Especiais (BOE), jogaram bombas de efeito moral e conseguiram dispersar o grupo. Na ação, o motorista de um dos tratores chegou a ser detido. Em outro ponto da rodovia, eles espalharam pneus na pista e atearam fogo. Os bombeiros tiveram de ser acionados para conter as chamas. O trânsito permaneceu bloqueado nos dois sentidos por mais de uma hora. Um helicópetro da BM sobrevoou o local durante toda a tarde
A espera pela passagem da comitiva se estendeu até por volta das 17h. Informações desencontradas davam conta de que a caravana estava aguardando a liberação da pista. Até que no final da tarde, o Partido dos Trabalhadores confirmou o cancelamento do ato em Passo Fundo por falta de segurança. "Lamentamos o caráter antidemocrático daqueles que não aceitam a pluralidade de ideias no campo político. Já havíamos sido informados sobre a hostilidade, mas não achávamos que seria tanto assim", disse o presidente do diretório municipal do PT, Jorge Gimenez.
Jornalista hostilizada
Durante a cobertura dos protestos, na RS 324, uma Jornalista foi agredida verbalmente por manifestantes que protestavam contra a vinda do ex-presidente Lula a Passo Fundo. O presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Jair Dutra Rodrigues, criticou o fato e disse que a entidade não compartilha com este tipo de manifestação.