Os quatro deputados citados na delação premiada do deputado estadual cassado e ex-vereador passo-fundense Diógenes Basegio, têm um argumento em comum: segundo eles, seus nomes foram entregues ao Ministério Público por vingança. A revelação dos parlamentares foi divulgada ontem (4), por veículos do Grupo RBS. São eles Gilberto Capoani (PMDB), Juliano Roso (PCdoB), Álvaro Boessio (PMDB) e Enio Bacci (PDT); todos componentes da comissão de ética que decidiu pela cassação de Basegio no final de 2015. De acordo a reportagem divulgada, o ex-parlamentar confessou “deficiências intencionais no controle de frequência dos funcionários, repasse de parte de salários de cargos de confiança, diárias inidôneas e falsidade no controle da quilometragem dos veículos”.
O então presidente da comissão de ética, Juliano Roso, ressaltou em nota oficial que o “sentimento por vingança” é a real motivação da delação. “Presidi a comissão de ética durante o processo de investigação que culminou na perda do mandato do parlamentar. Talvez, por não reconhecer seus erros, queira colocar, em outros, a culpa pela sua cassação. Seu mandato foi cassado motivado pelas suas próprias atitudes e não pela minha postura na presidência da comissão”, posicionou-se. Roso ainda colocou seu sigilo telefônico e bancário à disposição para, segundo ele, esclarecer a questão o mais cedo possível. “Tenho certeza que a sociedade gaúcha e minha cidade, Passo Fundo, sabe o que está por trás desta denúncia vazia e vingativa feita pelo ex-deputado. Tenho minha consciência tranquila. Apenas conduzi um processo que infelizmente culminou na cassação do mandato do parlamentar. Lamento que este cidadão não tenha aprendido com o que viveu aqui na Casa”, completou. Ao fim da nota, Roso afirmou que mais adiante tomará atitudes “contra essa delação fake [falsa]”.
Outro relacionado na delação, Gilberto Capoani, afirmou que não existem irregularidades em seu gabinete. De acordo com a reportagem, o deputado teria aumentado a quilometragem do veículo do gabinete para ganhar verba maior pelo uso de seu carro particular. Sobre isso, Capoani apontou que “nunca houve adulteração do hodômetro de nenhum veículo”. “Em seus 11 anos de mandato na Assembleia, sequer teve registrado em seu gabinete qualquer [veículo da marca] Palio, mencionado na delação”, pontuou. Os outros dois deputados citados, Álvaro Boessio e Enio Bacci, reiteraram a indignação sobre o assunto. Em nota, Bacci afirmou que está “pagando o preço” por ter sido relator no processo que pediu pela cassação do ex-deputado. “De pronto repudio a citação ao meu nome. Em meu gabinete nunca existiu nenhuma ilegalidade”, reiterou. Bacci disse considerar “cômica” a citação dos quatro deputados da comissão de ética. “A denúncia é infundada e está ligada ao fato de ter votado pela cassação de Basegio”, complementou Boessio.
Procurados, os advogados do ex-deputado não se pronunciaram até o fechamento desta edição. Em março, no entanto - quando veio a público a notícia da delação -, seus representantes afirmaram o compromisso para elucidar os fatos no processo. O presidente da Assembleia, Marlon Santos (PDT), considerou o conteúdo da delação “pífio” e afirmou que as supostas revelações não justificam o benefício recebido por Basegio. Já o Ministério Público afirmou que não irá se manifestar sobre o assunto, já que a delação segue em segredo de Justiça.
Entenda o caso
Ainda em janeiro, o Tribunal de Justiça homologou o acordo de delação de Basegio e outros três assessores ligados ao ex-deputado: o então assessor Álvaro Ambrós, a prima Adriana Ongaratto e a nora Samarina Stédile Basegio. Em troca, poderia haver uma redução da pena: Basegio pode ser condenado a sete anos e seis meses de prisão, convertidos na prestação de serviços comunitários, em períodos de sete horas/semana. Além disso, ele também terá de devolver mais de R$ 2,7 milhões aos cofres públicos e, por três anos terá direitos políticos suspensos. Em 2015, o político foi denunciado por quatro crimes: lavagem de dinheiro, concussão, peculato e organização criminosa.