Em 2014, o passo-fundense Beto Albuquerque, PSB, interrompeu a corrida para o Senado para enfrentar a disputa presidencial, depois que o candidato socialista Eduardo Campos morreu em um acidente aéreo. Beto foi candidato a vice de Marina Silva. Em 2018, Beto volta ao cenário político para disputar a vaga que almejava inicialmente na eleição passada. Advogado formado pela UPF e político, está filiado ao PSB desde 1986. Tem mais de 30 anos de vida pública. Teve quatro mandatos como deputado federal e dois como deputado estadual.
ON - Por que o senhor quer ser Senador do Rio Grande do Sul?
Beto Albuquerque - Tenho uma longa trajetória política. Uma vida limpa na política. Fui oito anos dep. Estadual, 16 anos dep. Federal, 2 vezes Secretário do Estado, candidato a Vice-Presidente da República em 2014. Não sou nenhum novato, mas tampouco envelheci na política. Tenho muito vigor para ser Senador pelos próximos oito anos e levar a voz das ruas para o Congresso. O que o povo gaúcho está pedindo hoje é alguém que represente a mudança na atitude, de cultura política. Alguém que brigue para melhorar a vida das pessoas que esperam dias, meses, nas filas do SUS; que pagam caro e têm serviço de péssima qualidade em telefonia e internet; que não conseguem colocar os filhos em creches e na escola. Eu vou usar a minha energia para combater a velha política e transformar para melhor a vida das pessoas, que nos últimos anos, só piorou.
ON - Como deve ser a atuação de um Senador? E, caso eleito, como será a sua forma de atuação?
Beto Albuquerque - O Senador tem que representar prioritariamente o RS e o povo gaúcho, acima do seu partido e ideologia. E como eu disse, a atuação de um Senador deve ser mais pragmática. A divisão política que o país passa hoje tirou ainda mais o foco dos problemas que o cidadão enfrenta, e colocou no jogo político e nos problemas que os políticos enfrentam. Isso está errado. Temos que voltar os olhos para as pessoas que estão tentando trabalhar, sobreviver, e cada vez encontram mais dificuldades. Se eu for eleito, meu compromisso vai ser brigar com todas as minhas forças para solucionar problemas que os gaúchos e o RS enfrentam em todas as classes sociais. Defender o desenvolvimento regional, nossos hospitais regionais, o ensino público, escolas de tempo integral, creches, retomada de obras rodoviárias e de saneamento. Defender quem estuda, trabalha, empreende, produz e gera emprego.
ON - Caso eleito, que demandas pautarão o seu mandato?
Beto Albuquerque - Sempre atuei em defesa da Saúde pública de qualidade. E os senadores podem fazer muito por isso e não fazem. Sempre atuei pela educação, e a UERGS é um exemplo disso. Mas é possível ir além. Melhorar a formação básica. E vou ser um senador que vai brigar muito pela reforma tributária. Quero descentralizar a distribuição do que sai dos municípios e chega em Brasília, e fazer com que mais dinheiro fique com quem sabe onde colocar esse dinheiro. E também quero resgatar o valor do trabalho, de quem está disposto a assumir riscos e empreender. O Brasil precisa disso e nosso Estado é um dos maiores berços dessa gente que hoje está ajudando a sustentar o país porque outra parte está sem emprego. Gente que cai e levanta de novo. Então temos que dar condições para que as pessoas tenham tranquilidade para isso. Ter saúde, estudem, e possam trabalhar. E quero olhar com muita atenção e profundidade as reformas políticas e da previdência. Principalmente, acima de tudo, acabar com os privilégios de políticos, como o foro privilegiado, e acabar com privilégios do setor público e benesses dados sem critério a poucos setores e grupos econômicos.
ON - O que é mais urgente na atuação de um Senador para o Rio Grande do Sul?
Beto Albuquerque - Principalmente é chegar lá com energia, vontade e disposição para trazer à tona e atuar na solução dos verdadeiros problemas que nos impedem hoje de trabalhar e andar para a frente. Mas há hoje uma série de obras paradas no Estado, por exemplo. Desde creches até estradas que precisam ser finalizadas. A segurança pública também está entre minhas prioridades. Tem que ser atribuição do Governo Federal e lutarei para federalizar o sistema prisional.
ON - Qual sua opinião sobre a renegociação da dívida do Estado com a União?
Beto Albuquerque - Precisamos resolver de uma vez por todas a questão da nossa dívida pública. O plano que o governador Sartori apresentou é a única saída imediata e viável, porque não existe milagre para resolver essa história. Se tem doído no setor público, é porque o Estado precisa dar o exemplo, e não empurrar o sofrimento só para o cidadão. Cortou-se a própria carne para que ali na frente nós todos possamos ter condições de caminhar novamente, sem o peso de mais dívidas, mais juros e mais empréstimos. O RS está na sua mais profunda crise fiscal e econômica e muito disso vem de um Estado que nunca permitiu nenhum governador terminar o que começou, o que não tornou eficientes nem nos permitiu termos programas de Estado que fossem contínuos e eficazes.
ON - O Brasil vive uma crise política, de credibilidade e uma crise econômica sem precedentes: qual o caminho que o país precisa trilhar para sair deste atoleiro?
Beto Albuquerque - A divisão política faz muito mal para o Brasil. Esqueceu-se que o fim da atividade política é melhorar o país como um todo, e enquanto todos querem melhores condições de vida, de trabalho, de saúde, educação e segurança, passou a se discutir luta partidária. São questões acessórias. Perdeu-se o foco. Quem patrocina essa divisão está fazendo mal para o país. Precisamos rever a nossa cultura política e tirar de Brasília, das Assembleias, das Câmaras de Vereadores, quem representa a cultura do toma lá, dá cá. Só assim poderemos passar uma verdadeira e profunda reforma política. O setor público deve dar o exemplo sempre. É de cima para baixo que começa a se transformar o país. Já estamos andando nesse caminho, mas precisamos intensificar isso e a chance que temos agora é a maior que já tivemos nos últimos anos. Já a questão econômica, que passa pela muito pela solução da crise política, passa também pela educação básica, por valorizar o trabalho e o esforço das pessoas, que é nosso grande capital. Passa por melhores condições de se exercer a criatividade e o empreendedorismo, pelo fim da burocracia. Estamos num momento de crise profunda, mas podemos tirar dela o entendimento verdadeiro dessas questões. É da crise podemos ressurgir mais fortes, e acredito muito que os últimos anos representam uma virada muito positiva. Agora, as pessoas precisam votar bem. Eleger bons senadores e deputados, e isso é tão ou mais importante do que eleger o Presidente certo. A internet pode ser utilizada para se pesquisar a vida dos políticos, o que há 20 anos era impossível. O cidadão precisa utilizar as ferramentas que tem para fazer bom uso do seu voto.
ON - Quais reformas são necessárias para o país e, pela ordem, o que é considera entre as reformas?
Beto Albuquerque - A primeira reforma, que eu acho urgente e necessária é a reforma moral, que está faltando a muitos dos nossos políticos e a alguns partidos. Nós precisamos combater a corrupção permanentemente, e por isso que eu propus, e tramita ainda, desde que eu deixei de ser deputado, uma emenda constitucional que cria o Conselho Nacional de Combate à Corrupção, para diagnosticar e prever possíveis casos de corrupção, ainda antes dela acontecer. Segundo: nós precisamos fazer uma reforma tributária no Brasil. A carga tributária é muito grande, o emaranhado tributário é muito grande. As empresas hoje precisam mais gente trabalhando para controlar as suas obrigações do que para vender seus negócios. Quer dizer, o custo tributário brasileiro é gigante, absurdo, desproporcional. E acima de tudo, nós precisamos inverter a pirâmide. Os municípios hoje têm a maior parte de obrigações e são quem recebe a menor parte dos recursos nacionais. Nos temos que descentralizar o Brasil. Tudo centralizado no Brasil, dinheiro, atribuições, decisões, leis, têm feito muito mal ao Brasil, tanto aos Estados como também aos Municípios. Por isso a reforma federativa, um novo pacto federativo, é tão importante. E creio que depois de Presidente eleito, deputados, senadores, governadores, deputados estaduais, o Brasil tem que discutir a possibilidade de uma constituinte exclusiva, não congressual, que não pare o Brasil para revisar os limites de todos os poderes que hoje estão confusos um sobre o outro. Um querendo fazer o que o outro deve fazer. E essa constituinte não seria feita por políticos, ela seria feita por 120 brasileiros que seriam eleitos e que jamais poderiam concorrer a qualquer coisa depois da revisão constitucional. Eu acredito muito no uso de plebiscitos, de referendos, como formas modernas de fazer aquilo que o Congresso ou as Assembleias Legislativas não têm coragem de fazer e de decidir. Então nós precisamos tornar a democracia mais direta em muitas decisões fundamentais. A reforma trabalhista modernizou algumas áreas de uma lei que nós temos há mais de 60 anos, mas eu acho que cometeu muitos equívocos. E esses equívocos nós vamos ter que, com calma, com cautela, revisar. Como por exemplo a possibilidade de uma mulher, mesmo grávida, ter que conviver durante o trabalho em locais insalubres. Acho que isso não dialoga com a realidade. Eu acho que é preciso modernizar o sistema e a legislação trabalhista, mas você não pode suprimir direitos, e nem tirar, digamos, a representação coletiva dos trabalhadores para grandes negociações, como fez a lei.
ON - Eleito senador, qual será o seu olhar para Passo Fundo (sua terra natal) e para a região?
Beto Albuquerque - Sobre Passo Fundo, primeiro vou ser um senador de todo o Rio Grande, de todos os gaúchos, mas óbvio que Passo Fundo está no meu coração. É a terra onde eu nasci, trabalhei, tive meus primeiros filhos estudei, tenho meus pais morando, me formei, e tive todas as oportunidades para chegar onde eu cheguei nesta hora. Vou lutar por todas as vocações produtivas do Rio Grande, em cada região gaúcha, pelos gaúchos e pelas gaúchas naquilo que todos têm de melhor no seu vigor e na sua visão empreendedora.
ON - Na sua opinião, qual a importância da mídia local e regional com foco nos jornais associados a ADI?
Beto Albuquerque - A mídia local e regional, como os jornais associados à ADI, é uma mídia que nós precisamos proteger e defender. Nós não podemos caminhar para o oligopólio da imprensa, não podemos continuar alimentando o monopólio da mídia, porque quem fala da nossa região, da nossa cidade, das nossas coisas aqui são os rádios e os jornais locais. A mídia regional é superimportante e eu no Congresso Nacional estarei lá defendendo o fortalecimento dessa mídia, defendendo essa mídia do ataque concentrador que há sobre a imprensa regional no Brasil. E também abrindo portas para que a mídia possa se viabilizar financeiramente, economicamente e se manter viva e de pé defendendo seus interesses regionais.