Visão liberal do mercado terá ênfase no governo Bolsonaro

As oscilações do mercado financeiro no pós-eleições marcaram a segunda-feira, com variações positivas e negativas na taxa cambial e na bolsa de valores

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Economista Paulo Guedes assumirá Ministério da Fazenda no governo de Jair BolsonaroEconomista Paulo Guedes assumirá Ministério da Fazenda no governo de Jair Bolsonaro
Economista Paulo Guedes assumirá Ministério da Fazenda no governo de Jair Bolsonaro
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Em resposta às eleições, que tornaram Jair Bolsonaro o 29º presidente do Brasil, o mercado financeiro acordou “eufórico” nesta segunda-feira (29). O adjetivo foi designado pelo economista e professor da UPF, Julcemar Zilli para se referir à movimentação cambial e às ações da bolsa de valores. O dia foi marcado por altas e baixas. Quando os pregões abriram, o dólar estava em baixa e a Ibovespa, o índice que mede o valor das ações negociadas, em alta. As 9h, a moeda comercial estava cotada em R$ 3,59. Por volta de 12h, a moeda americana estava cotada para venda a R$ 3,642, com queda de 0,35% e chegou a ser cotada em R$ 3,92 por volta das 16h30. Na última sexta-feira (26), o dólar havia fechado o dia em queda de 1,39% cotado a R$ 3,6518 para venda. O Ibovespa chegou a 88.359 por volta das 10h. Depois que atingiu o pico, as ações começaram a cair a partir do meio dia, atingindo 83.719 perto das 17h.


Zilli explica que as oscilações são movimentos naturais do mercado em função da especulação, especialmente após um processo eleitoral. “Até o político expor suas ideias, montar seus ministérios, a sua parte técnica e seus assessores, os ajustes que fará no congresso para conseguir maioria, tudo isso deixa o mercado bem nervoso e, automaticamente, essa volatilidade fica presente nas eleições”, analisa. Além disso, o professor explica que a alta das ações e baixa do dólar faz com que muitas pessoas invistam dinheiro no mercado financeiro, o que pressiona a valorização da moeda e a queda na Ibovespa. Em função desses altos e baixos, o economista alerta que é preciso cautela na hora de investir para não acabar tendo prejuízos.

 

Agenda econômica de reformas
Nome já vinculado à campanha do candidato pelo PSL, Paulo Guedes foi anunciado, instantes após a vitória de Bolsonaro, como o futuro Ministro da Fazenda. Outros três nomes foram definidos, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para a Casa Civil, general reformado Augusto Heleno para a Defesa e o tenente-coronel da Aeronáutica e astronauta Marcos Pontes na pasta de Ciência e Tecnologia.


O nome de Guedes indica qual será o perfil econômico do governo Bolsonaro. Com uma visão mais liberal do mercado, a agenda dos próximos quatro anos deverá ser de reformas e de redução no tamanho do estado. Isso significa, entre outras coisas, revisão de gastos e possíveis cortes em ministérios, além de privatizações de estatais. A reforma da Previdência deverá ser uma das principais pautas já que, assim como a linha econômica do governo Michel Temer, a chapa de Bolsonaro também defende a necessidade de mudanças no sistema de aposentadoria para conter o déficit.


“Para ele [Paulo Guedes] e para muitas pessoas, essa questão fiscal, do governo gastar mais do que arrecada, somente vai ser solucionada a partir do momento em que as reformas forem aprovadas ou pelo menos na sua parcialidade”, explica Zilli. O equilíbrio das contas públicas foi um dos compromissos firmados pela chapa e enfatizados no plano de governo de Bolsonaro, disponível para consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


As propostas econômicas pretendidas por Guedes não devem se concretizar no curto espaço de tempo, conforme o especialista. “Para você chegar ao patamar do que a escola – a qual o Paulo Guedes é filiado – presume, leva-se 10, 15, 20 anos. Não é de uma hora para outra. Mas para a economia, no curto prazo, há impressões e propostas que eles querem implementar que já dá um gás para o setor produtivo”, pondera.


E o desemprego?
O desemprego é uma das principais angustias de mais de 12,7 mil brasileiros, que integraram, em setembro, o dado do IBGE que mede o nível de desocupação no período. Reverter esse cenário será um dos desafios da gestão. Para o professor, a estratégia do governo Bolsonaro, neste sentido, será incentivar o setor produtivo a investir, já que, apesar da taxa básica de juros, a Selic, estar baixa, os empresários estavam contidos aguardando quais seriam os rumos do país.


“A partir do momento em que temos um presidente eleito e as propostas começam a ser postas na mesa, o que se imagina é que os empresários vão começar a investir no seu processo produtivo. Com aumento do investimento, automaticamente, se tem a necessidade de geração de empregos, que vai gerar renda e fazer com que essa renda circule na economia e que vai, por sua vez, gerar necessidade de mais emprego”, analisa.

 

Quem é Paulo Guedes?
Conforme perfil disponível no site da Bozano Investimentos, da qual Paulo Guedes é sócio e membro do comitê executivo, o economista com título de PhD na Universidade de Chicago tem larga experiência no mercado financeiro e em iniciativas na educação privada. “Paulo [Guedes] foi um dos fundadores do Banco Pactual S.A. em 1983 e Presidente e acionista majoritário do IBMEC, reconhecida instituição de educação brasileira. Posteriormente fundou a BR Investimentos, empresa focada em private equity, que foi incorporada na criação da Bozano Investimentos. Paulo (...) foi membro do conselho de diversas empresas como Localiza, PDG, Abril Educação e Anima Educação”, descreve resumo.


A estrutura que Paulo Guedes comandará é formada por sete secretarias, como a da Receita Federal e do Tesouro Nacional, além da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Ao ministério estão vinculadas cinco empresas estatais (como a Caixa Econômica), três empresas de economia mista (como o Banco do Brasil), além de quatro autarquias - entre elas, o Banco Central do Brasil.

 

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