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Candidato ao Senado pelo PSB, passo-fundense disse que política teve muitas mudanças e se deve estar atento para interpretar o que vai acontecer e avaliar se ainda cabemos nesse trilho

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As Eleições 2018 abriram espaço para um cenário de mudança de diversas ordens. Desde a renovação de muitas cadeiras no congresso, até a forma de se fazer campanha. Os resultados regionais também reforçam essa mudança. Com representatividade menor, muitos eleitores apostaram em candidatos até então pouco conhecidos e de outras regiões. O candidato ao Senado, Beto Albuquerque, apesar da expressiva votação, que superou os 1,7 milhão de votos, não conseguiu o suficiente para se eleger, mesmo tendo sido o mais votado em praticamente todos os municípios da região. Em visita ao jornal O Nacional, Beto avalia o atual cenário e fala dos rumos que deve tomar neste período.

 

O Nacional - O que representa esses 1,7 milhões de votos que você recebeu?
Beto Albuquerque - Estou em Passo Fundo e fiz questão de vir ao encontro da imprensa para poder agradecer a Passo Fundo pelos quase 62 mil votos que se somaram aos 1,713 milhão de votos que recebi. Sou feliz com esse resultado, lógico que chateado de não ter conseguido me eleger apesar da grandiosa votação que fizemos. Na região fui o primeiro em praticamente 100% dos municípios, o que significa que a região vislumbrou a perspectiva de ter, pela primeira vez na história, um senador e se tivéssemos um desempenho um pouco melhor teríamos passado. Fico com um patrimônio político e eleitoral dos maiores.

 

ON – A que você atribui a sua não eleição?
BA - A minha não eleição se deveu muito à eleição atípica que tivemos em que houve uma onda entorno do presidente eleito Jair Bolsonaro que elegeu deputados estaduais e federais e também senador, muitos conhecidos e outros desconhecidos. É uma coisa meio inédita no Rio Grande do Sul das pessoas votarem sem saber quem é o candidato. Um exemplo disso é a empresária Carmen Flores ter feito um milhão e meio de votos, quase 27 mil votos em Passo Fundo sem ter tido nenhuma história de compromisso com a cidade. Lamento a derrota muito mais pela região, porque foi a primeira chance de a região ter um senador, o que retrai muito o espaço político já que não elegemos deputado federal. Nos dispersamos muito, mas Passo Fundo tem meu carinho, meu compromisso e minha gratidão sempre.


ON - E como será a tua atuação a partir de agora?
BA - Vou voltar a advogar que é o que eu estava fazendo depois de ter perdido a eleição para vice-presidente da república, vou continuar no comando nacional do PSB e profissionalmente ficar um pouco mais na iniciativa privada até para avaliar essa caminhada política, o que vai acontecer e projetar o futuro. A política teve muitas mudanças e devemos estar atentos para interpretar o que vai acontecer e, dependendo do que acontecer, avaliar se ainda cabemos nesse trilho. Vou fazer uma avaliação muito grande pessoalmente. Não tenho pretensão de ocupar cargo público por enquanto, e vou preservar muito esse patrimônio de 1,7 milhão de votos.


ON - Como será o posicionamento do partido com relação aos governos estadual e federal?
BA - Nacionalmente, nos reunimos nessa semana. Primeiro, reconhecemos a vitória do Bolsonaro, ela é legítima. Sem dúvida nenhuma, ela é vontade da maioria do povo e precisa ser respeitada. Mas por não termos ajudado na eleição, nos sentimos oposição, mas não faremos parte de uma oposição sistemática, de torcida contra, da velha prática do contra tudo. Queremos o bem do Brasil e não faremos parte de nenhuma frente de oposição com o PT. O PSB manterá sua identidade na oposição e defenderá de forma intransigente a democracia, a liberdade de imprensa, a liberdade individual, liberdade de organização e não vamos permitir nenhum retrocesso institucional, nenhum tipo de intimidação, de pressão, recrudescimento de direitos e vamos nos comportar dessa forma na torcida para que o governo que ganhou faça o que prometeu e acima de tudo contemple aqueles que hoje mais sofrem no Brasil. Diferente de outros partidos que estão de olho no Bolsonaro, nós estamos na luta com quem está desempregado, com quem está pagando combustível muito caro, é com esse cidadão que estamos preocupados, e estaremos atentos para ajudar essa massa da população e o empresariado que viVe um garrote tributário gigante e essa burocracia toda no Brasil. Continuaremos atentos ainda ao combate à corrupção. No estado não tenho informações da direção estadual, não sei se houve algum convite do Eduardo Leite - a quem também desejo sucesso. Estamos no governo até agora com o Sartori, perdemos e desejamos que o Eduardo Leite tenha o maior sucesso possível.


ON - Qual a tua avaliação do anúncio do juiz Sérgio Moro ao Ministério da Justiça e Segurança?
BA - Acho que a indicação do Moro é um golaço do Bolsonaro, mas é um problema para o Moro inicialmente. Como brasileiro, acho que é um ponto de equilíbrio importante, nesse governo, a presença de um juiz com as qualidades e a inteligência do Moro com 22 anos de magistratura. É um contraponto importante com relação a muita coisa que durante a campanha é dita sem pensar, sem avaliar. Acho que ele será uma régua que não permitirá que se cometam arbítrios ou que atropelem a constituição, acho que para o Brasil é extremamente importante, agora para a carreira dele que terá de ser interrompida, não sei se foi o melhor caminho.


ON - O discurso de combate a corrupção ocupou muito espaço durante a campanha. Você acha que durante o mandato o novo governo tende a manter esse compromisso?
BA - O convite ao Moro é um sinal de que ele quer fazer o que todos queremos que é sermos vigilantes a todo momento, combatermos a corrupção e atacarmos esses crimes que lesam a Pátria e os brasileiros. É uma luta importante, mas precisamos de um governo de gente honesta e competente. Só honestidade não basta. Precisamos associar honestidade, combate a corrupção e competência para resolver os problemas do país. Tenho um projeto de emenda constitucional, que segue tramitando, que cria o Conselho Nacional de Combate a Corrupção. Tendo a oportunidade, vou conversar com o Onix Lorenzoni, que é gaúcho e está indicado para a Casa Civil, para que o novo governo olhe essa emenda constitucional. Acho que é um caminho da sociedade estar organizada em todos os níveis e escrito na constituição como uma ferramenta muito grande de combate a corrupção. Temos que ter vigilância permanente contra a corrupção. Chega de ladroagem, de dissimulação política, de enrolação.


ON - Como tu avalia essas articulações do governo eleito com o governo Temer, na tentativa de alinhavar algumas reformas ainda este ano?
BA - O governo Bolsonaro está fazendo um gesto de quem quer o MDB com o governo, de quem quer de novo as velhas figuras do MDB na volta do governo. Isso pode ser uma jogada de alto risco para quem semeou no Brasil todo o desejo de fazer mudanças de verdade. É muito difícil fazer mudanças de verdade com Renan Calheiros, com o Temer, com essa velha guarda. Bom, a governabilidade é fundamental, mas essas velhas figuras que todos conhecemos e se que envolveram em vários episódios de corrupção ao longo dessa recente história podem ser um gol contra. E essas reformas que precisam ser feitas devem partir da proposição do novo governo que tem legitimidade e não uma proposta que está tramitando de um governo que, teoricamente, não foi eleito. A reforma da previdência proposta pelo Temer foi esmagadoramente rejeitada pela sociedade e as melhores reformas poderão ocorrer se escritas, reescritas, ou pensadas e enviadas ao congresso pelo novo governo depois que ele tomar posse. O governo que ganhou não pode se eximir de propor as reformas que ele pensa. A melhor coisa é não se aproximar do governo Temer e suas propostas, é tomar posse, escrever as suas propostas e propor ao congresso essa mudança, teria mais sentimento de mudança do que conversar com esse congresso que foi em grande parte renovado e querer votar com a velha política. Acho que esse não é o melhor caminho.


ON – E com a relação à reforma da previdência, qual deverá ser o posicionamento do partido?
BA - Essa reforma de fazer um trabalhador ir aos 65 anos de idade, seremos contrários. É impossível imaginar um cara na construção civil trabalhando num andaime de um prédio com 65 anos. Agora, o serviço púbico precisa ser revisto do ponto de vista da previdência que é onde está efetivamente o maior rombo. O serviço público municipal, estadual, nacional, o poder judiciário, os legislativos todos, eles precisam entrar no radar das reformas. Na previdência somente será eficaz se atingir a todos. Não se pode ter alguém que pague 7% e outro 14%, ai a conta não fecha.


“Na região fui o primeiro em praticamente 100% dos municípios, o que significa que a região vislumbrou a perspectiva de ter, pela primeira vez na história, um senador.”


“Moro será a régua que não permitirá que se cometam arbítrios ou que atropelem a constituição”.

 

“É muito difícil fazer mudanças de verdade com Renan Calheiros, com o Temer, com essa velha guarda. Bom, a governabilidade é fundamental, mas essas velhas figuras que todos conhecemos e se que envolveram em vários episódios de corrupção ao longo dessa recente história podem ser um gol contra.”

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