O presidente Michel Temer reafirmou ontem (30), em Buenos Aires, o compromisso do Brasil com o Acordo de Paris e disse acreditar que seu sucessor, Jair Bolsonaro, não romperá este entendimento. "Evidentemente que essas questões são levantadas, mas depois são equacionadas. Não vejo que não terão apoio [as questões climáticas e ambientais] do novo governo", disse após reunião da Cúpula do G20.
Temer informou ainda que as colocações do presidente da França, Emannuel Macron, questionando o compromisso de Bolsonaro com o Acordo de Paris, não foram tratadas na reunião do G20. "Apenas o presidente da França falou disso [fora da reunião], fazendo uma relação com os possíveis acordos [do Mercosul] com a União Europeia, mas não houve uma palavra aqui sobre isso" , disse. "Não creio que haveria modificação da posição brasileira [no Acordo de Paris]", enfatizou.
Em entrevistas, o presidente francês, Emmanuel Macron, condicionou o avanço do acordo entre a a União Europeia e Mercosul ao apoio do governo brasileiro ao Acordo Climático de Paris. O presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu hoje que não fará acordos internacionais na área de meio ambiente que prejudiquem o agronegócio. Entretanto, ele ponderou que a posição não é definitiva.
Sobre a polêmica, Temer avaliou que a nova gestão não deve ir neste caminho.“Eu tenho convicção, a partir de conversas com o novo governo, que essas questões são levantadas e depois equacionadas. Eu não vejo nenhuma atitude do novo governo detrimentosa para o meio ambiente. Tenho impressão de que teses sobre meio ambiente terão apoio”, afirmou em entrevista aos jornalistas.
O presidente aproveitou para lembrar que quase dobrou as áreas de reservas e parques ambientais em seu governo, destacando a ampliação da Chapada dos Veadeiros e a criação da reserva marinha "do tamanho de uma França." Ele lamentou que o desmatamento tenha crescido "no período eleitoral".
"Veja que conseguimos reduzir o desmatamento em 2017, mas neste ano, no período eleitoral, houve aumento", disse.
Michel Temer disse que entregou aos membros dos Brics uma mensagem de Bolsonaro dizendo que ele acolherá com alegria e apreço a próxima reunião do grupo, que ocorrerá no Brasil em 2019.
Previdência e Indulto
Temer evitou responder às críticas feitas por Bolsonaro à proposta de reforma da Previdência enviada pelo governo à Câmara. "Não vi essa declaração [de que a reforma "mata idosos" e é "agressiva com o trabalhador"]. "O que eu vejo é que ninguém leu a nossa proposta de reforma, que é de uma suavidade extraordinária; leva 20 anos para fazer a transição para a nova idade mínima", disse. "Protegemos o trabalhador que aposenta com salário mínimo, o trabalhador rural e quem depende de benefícios. Onde há problema é no fim dos privilégios, nos salários iguais para setor público e privado. Quem quiser maior aposentadoria, se aposentar com mais de R$ 30 mil, que pague a complementação, semelhante a uma capitalização", afirmou.
O presidente também comentou o resultado favorável, por 6 votos a 2, do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ao indulto de Natal assinado por ele em 2017. "O STF disse que o Temer acertou juridicamente, então não estou arrependido; estou constitucionalmente correto. Mas não comentei essa questão nem quando o indulto foi suspenso. Se o STF mandasse fazer diferente é claro que eu seguiria", afirmou.
Automação do trabalho
Michel Temer afirmou ainda que os efeitos da automação sobre os empregos foi uma das preocupações centrais nas discussões dos líderes mundiais no G20.
A perda de empregos em razão da automação e da introdução de novas tecnologias é um tema antigo, mas tem ganhado mais atenção recentemente. Embora haja divergências quanto ao número de postos perdidos e se há apenas extinção de postos ou substituição com a criação de novos setores, dados de estudos de organismos internacionais, como o Fórum Econômico Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), vêm mostrando que inovações têm gerado como consequência o fechamento de vagas em diversos segmentos, como nas plantas produtivas de indústrias ou nas vendas e serviços.
Segundo Temer, uma das estratégias para lidar com esse desafio é o aprofundamento das relações políticas e comerciais entre as nações. “A tese prevalecente nesta cúpula foi a do multilateralismo, e não isolacionismo. O mundo vive tensões tendo em vista que alguns sustentam algum isolacionismo. A mensagem é para abertura integral como temos feito em nosso país e a concorrência de todos para o bem-estar de todos os povos”, disse.
O presidente citou medidas adotadas por sua gestão no tema. Uma delas foi a reforma trabalhista, que segundo ele, flexibilizou as regras para buscar “aprimorar as relações trabalhistas, sem perda de direitos”. Outra foi a reforma do ensino médio, que teve como propósito garantir que as pessoas “se adequassem às novas tecnologias” e estivessem “mais apuradas para ter empregos nesta área”.
Outra iniciativa mencionada pelo presidente foi o Programa Internet para Todos, que se apoia em um satélite para provimento de conexão a áreas e instituições sem conexão hoje, como escolas. “O satélite que está permitindo que a gente leve a banda larga a todo Brasil”, comentou Temer.
Brics
O presidente também avaliou positivamente a reunião dos Bric – grupo que reúne Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul. “Reiteramos na reunião mais uma vez uma aliança muito sólida entre os países do Brics, especialmente tendo em vista o novo banco de desenvolvimento, que terá escritório em São Paulo, com filial em Brasília."