O vereador Renato Tiecher, conhecido por Tchêquinho, protocolou moção de repúdio contra o ato do PSOL intitulado “Construir a Resistência: a perspectiva das mulheres para 2019”, marcado para ocorrer no fim da tarde de hoje (11), no Plenário da Câmara de Vereadores. O parlamentar, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), também aparece em vídeo que circula pelas redes sociais se opondo ao evento. Na gravação, em frente a bandeiras do Brasil e de Jair Bolsonaro (PSL), Tchêquinho afirma que a deputada estadual eleita Luciana Genro – uma das convidadas para o debate - e seus apoiadores não estão aceitando a vitória do presidente eleito. “Criem vergonha e respeitem o resultado nas urnas. Vamos torcer para esse governo ser o melhor governo dos últimos tempos para o nosso Brasil”, disse.
Procurado pela reportagem, o vereador repetiu o teor do vídeo questionando a resistência das mulheres sendo que o presidente eleito ainda não assumiu. “É um absurdo esse pessoal querer fazer um evento na Câmara sobre resistência a esse governo Bolsonaro. O homem nem assumiu ainda, com todas as dificuldades que ele está tendo. Esse governo até dia 31 de dezembro é reflexo do governo do PT, da Dilma e do Lula. E não do Bolsonaro. Se existe ódio, se existe racismo, se existe isso e aquilo, é reflexo desse governo que está aí”, frisou.
Tchêquinho reafirmou seu compromisso enquanto representante legislativo. “A gente não está proibindo ninguém. Eu, como político, como representante de um grande povo, em torno de 65% que votou a favor do novo presidente, e dessa nova era da política, eu tenho o direito e o dever de defender essa comunidade”, enfatizou.
Apoiadores de Bolsonaro
Apoiadores de Bolsonaro em Passo Fundo estão se organizando para ir até o Plenário se opor ao evento. Nas redes sociais, a chamada é para que os integrantes usem camisetas de apoio ao presidente eleito, ou nas cores verde e amarelo, além de cartazes e bandeiras. A convocação, de acordo com um dor administradores dos grupos, Francisco Lupatini, é feita toda através da internet. “Eles estão forçando, em todo país, uma resistência contra o presidente e ele nem assumiu. O objetivo de perturbar, de colocar pessoas contra o presidente eleito democraticamente pela maioria do povo brasileiro. Nós não vamos para tumultuar. Nós vamos para colocar o nosso desagravo pela postura que estão tomando”, ressaltou Lupatini. Questionado, o vereador Renato Tiecher disse não saber de nenhuma movimentação de apoiadores de Bolsonaro em redes sociais. “O que eu fiz foi a moção repudiando. Eu faço a minha parte aqui, agora a comunidade deve se revoltar com um ato desses”, complementou.
“Atitude vergonhosa”, define presidente do PSOL
O presidente do PSOL em Passo Fundo, Celso Dalberto, definiu como “atitude vergonhosa” a iniciativa do vereador Renato Thiecher de gravar um vídeo se opondo ao ato do partido. “A Câmara de Vereadores ainda é pública. Nós reservamos (o Plenário) em nome do partidopara esse evento. É uma atividade do PSOL, que nós estamos convidando e que juntamente com isso será apresentada a direção do partido”.
Dalberto argumentou que a Câmara abre suas portas para eventos de todos os partidos. “Quando os outros partidos fazem suas convenções, seus eventos, nós como PSOL nunca fomos e não temos o intuito de ir lá e não querer que façam. É uma atitude vergonhosa. Ainda mais chamada por um vereador. Ele como membro da Câmara deveria estar zelando por ela como espaço público e não incitando as pessoas a ir lá e impedir o evento”, finalizou.
O evento
O ato “Construir a Resistência: a perspectiva das mulheres para 2019” está marcado para começar as 18h45. As convidadas para o debate são a cientista social e coordenadora do Emancipa Mulher Carla Zanella, a educadora física e militante Karen Santos e a jornalista e especialista em ciências sociais Ingra Costa e Silva. A deputada estadual eleita Luciana Genro estava confirmada para o evento, mas cumprirá agenda em Porto Alegre e não participará do ato, conforme informou sua assessoria na tarde de ontem (10).
Segundo a descrição do evento, o objetivo é discutir sobre novas estratégias de resistências das mulheres. “A atividade busca refletir sobre como atuar politicamente no novo período político que conta com Jair Bolsonaro como presidente. Ninguém desconsidera o resultado das eleições, mas nem por isso devem esperar que as pessoas fiquem sentadas aguardando que este governo faça o que bem entender, sem que a população se manifeste sobre o que acredita ser uma sociedade melhor”, explicouIngra Costa e Silva, uma das debatedoras e que também é membra fundadora dos grupos Coletivo Feminista Maria, Vem Com as Outras e do Plural Coletivo Sexodiverso.
Ingra se posicionou sobre as manifestações contrárias ao ato. “O vereador, como profissional de palanque que é, narra os fatos a partir da sua versão, mas apenas uma parte deles. Para o vereador, a atividade Construir a Resistência: A Perspectiva das Mulheres para 2019 “não agrega em nada em nossa cidade”, para o vereador a atividade que propõem debater alternativas à violência sistemática contra as mulheres, tendo Passo Fundo como uma das cidades do estado com um dos maiores índices de denúncia, é irrelevante. Quem em sã consciência repudiaria as vítimas de assédio, estupro e trabalhos precários discutir as próprias condições?”, questionou, por fim, a jornalista.