Leite defende a superação de conflitos políticos para enfrentar crise do Estado

Governador enfrentou vaias durante fala na abertura dos trabalhos da Assembleia legislativa

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O governador Eduardo Leite apresentou ontem o relatório da situação financeira do Estado, na primeira sessão plenária da Assembleia Legislativa. Mesmo sendo vaiado por parte do plenário ao pedir apoio para a venda de estatais, Leite disse que “é preciso também ouvir o silêncio das ruas sobre o tema” e foi firme na defesa da proposta que pretende mudar a constituição estadual. O governador Eduardo Leite reforçou que a grave situação do Estado exige mudanças estruturantes. O governo está adotando como medidas prioritárias aquelas que buscam o equilíbrio fiscal e, consequentemente, a retomada do desenvolvimento do Rio Grande do Sul. “Não é choro ou lamentação. Menos ainda desculpa. Trata-se de divulgar o diagnóstico da situação do Estado, com transparência à sociedade, para que todos compreendam os problemas e possamos levar a efeito as soluções. Tal e qual um paciente que, a partir de um diagnóstico de doença, não mudou seus hábitos ou não respeita a medicação, o médico precisa reprisar o diagnóstico, teremos de tratar do nosso diagnóstico tantas vezes quantas forem necessárias para que sejam compreendidas as medidas de solução”, começou dizendo o governador em seu discurso.


Os dados completos desse panorama, não apenas das finanças, mas do perfil da economia e das condições sociais do Estado, foram compilados em um documento entregue aos deputados. Alguns deles foram destacados por Leite, como o total de Restos a Pagar de pessoal e fornecedores, somados aos valores não pagos de dívida à União, de R$ 15 bilhões; e os R$ 26 bilhões de passivos decorrentes de precatórios atrasados e de saques de depósitos judiciais, e outros R$ 72,3 bilhões que estão comprometidos com financiamentos da União e de instituições financeiras, atingindo cerca de R$ 98,3 bilhões. “Certamente, tais problemas estruturais refletem-se na precariedade dos serviços públicos prestados à população. Com isso, o Estado não cumpre na plenitude o seu papel principal de promotor do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas. Torna-se evidente, portanto, que a superação dos gargalos existentes requer a definição de uma nova agenda”, afirmou o governador. “Estamos aqui, um novo governo e um novo Parlamento, que alimentam novas esperanças, mas o que a população deseja mesmo é um novo futuro”, acrescentou.


Esse novo futuro dependerá da quebra de alguns paradigmas. O primeiro deles é o conflito. O governo promete trabalhar pela formação de consenso estratégico, o que começou pelo diálogo aberto com os deputados eleitos para o primeiro mandato – 23 já foram ao encontro do governador desde a primeira quinzena de janeiro. “Não queremos a anulação de diferenças. Respeito a autenticidade e as diferentes ideologias e acredito que podemos avançar a partir das diferenças, buscando o que é melhor para o Estado”, ponderou o governador. O segundo paradigma, afirmou, trata da autoridade e da legitimidade que a Assembleia Legislativa tem para fazer escolhas, já que a democracia representativa não diz respeito apenas à impossibilidade de reunir os 11 milhões de gaúchos, o que a tecnologia já permite, mas delega a responsabilidade da decisão ao governo e os deputados eleitos pela maioria. É com base nisso que o governo deve protocolar, ainda nesta semana, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que dispensa a exigência de plebiscito para a venda ou federalização de CEEE, Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e Sulgás, considerada vital para a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal.


“Um plebiscito joga para uma decisão da massa um tema complexo, que necessita análise de custos operacionais, de oportunidades de mercado, de alterações tecnológicas. Lança para a decisão de todos e, consequentemente, para a responsabilidade direta de ninguém”, defendeu o governador na tribuna. Ao encerrar sua manifestação aos deputados, que contou com a presença maciça do seu secretariado, Leite afirmou: “Precisamos do esforço de cada um, para que haja recompensa para todos. O RS precisa do esforço de cada cidadão – do empresário, do agricultor; precisa do esforço de cada um dos seus servidores; precisa do esforço da nossa imprensa; precisa do esforço de cada um dos Poderes – de cada um dos deputados, de cada um dos juízes e desembargadores, de cada procurador e promotor, de cada conselheiro, de cada secretário, do governador e do vice. O RS precisa de cada um. Cada um por todos nós”.

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