Embora mais da metade da população brasileira seja negra e, no total do eleitorado do país, as mulheres também apareçam em maior número, essas parcelas da população ainda são a minoria nos espaços de poder. Na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, por exemplo, em 70 anos, apenas nove vereadoras ocuparam as cadeiras do legislativo. É para dar voz e vez aos segmentos que ainda encontram pouca representatividade na política que, nos últimos meses, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) do Rio Grande do Sul tem incentivado a criação de candidaturas coletivas compostas especialmente por jovens, negros, artistas, mulheres e LGBTs. Em Passo Fundo, a primeira candidatura coletiva da história do município foi lançada pelo partido nesta semana, com foco no protagonismo da juventude.
De acordo com o presidente estadual do PCdoB, o ex-deputado Juliano Roso, o movimento está sendo estimulado nas 46 maiores cidades do Rio Grande do Sul. O apelo do partido é voltado, principalmente, ao público jovem. A intenção é que, em cada uma delas, pelo menos um jovem concorra às eleições municipais. Assim, ainda segundo ele, cria-se uma nova geração de militantes preparados para os futuros embates políticos e engajados na construção de cidades mais democráticas e inclusivas. “Queremos criar representação no Parlamento. Através de candidaturas coletivas, conseguimos aglutinar um conjunto de pessoas que têm interesses em comum e dar visibilidade a essas pautas. Quando eles se apresentam de forma coletiva, têm mais força”, esclarece.
Apesar da proposta de coletividade, a Justiça Eleitoral não permite que um grupo se candidate para o mesmo cargo público. As candidaturas devem ser registradas de forma individual e, por se tratar de um mandato pessoal e intransferível, somente a pessoa eleita pode assinar projetos de lei, decretos, votar e exercer demais atos administrativos privativos para o cargo. A sigla esclarece, porém, que o Tribunal Superior Eleitoral permite aos grupos que se candidatam de forma coletiva – e se elegem – o direito de se organizar internamente para exercer o mandato em grupo. É assim que os jovens que compõem a primeira pré-candidatura coletiva de Passo Fundo, batizada de “Movimento Coletivo”, pretendem se organizar.
Para a presidenta do diretório municipal do PCdoB, Eliana Bortolon, o movimento é uma resposta prática às demandas dos jovens. “Entendemos que um Partido quase centenário, como é o PCdoB, se oxigena e ganha vitalidade permitindo ações pioneiras como é esta candidatura coletiva”, expõe.
Movimento Coletivo
Fomentado a partir das redes sociais desde novembro do ano passado, com a ajuda da União da Juventude Socialista (UJS) de Passo Fundo, a chapa Movimento Coletivo é construída, principalmente, por jovens oriundos de movimentos estudantis que participaram do processo de ocupação das escolas estaduais no ano de 2016. “Começamos convidando lideranças dispostas a participar. Esse grupo foi crescendo e a ideia da candidatura se consolidando. Hoje, temos 23 pessoas inscritas e já estamos recebendo novos contatos pelas redes sociais”, explica uma das militantes do projeto, Helen Ferron, que tem 19 anos de idade.
Ainda de acordo com a estudante, a ideia é construir uma plataforma de reivindicações da juventude para Passo Fundo, definindo através de reuniões as principais bandeiras do grupo, que carrega como mote o questionamento “O que você quer para Passo Fundo? Nós queremos saber!”. “O que já sabemos é que nossas propostas serão focadas em segurança e política de enfrentamento ao machismo, racismo e LGBTfobia. Acreditamos que, de forma coletiva, conseguimos dar voz para diferentes lutas e lutadores. Acreditamos em um mandato democrático, representativo e aberto a receber as demandas de quem precisa.Por isso apostamos em uma candidatura construída por muitas mãosConsidero atrasada a ideia que alguém que fica atrás de uma mesa em seu gabinete sabe, sozinha, o que a população precisa”, resume.
A candidatura coletiva ainda não tem um nome definido para o registro da candidatura e deixa claro que, no momento, essa não é a principal preocupação do grupo. “Essa é uma segunda etapa da construção que estamos fazendo. Neste momento, não estamos preocupados com a representatividade e acúmulo de ideias que estamos buscando. A pessoa que o grupo decidir que nos representará terá compromisso verdadeiro com nossas reivindicações e com o coletivo”, finalizaFerron.