Candidatos devem viver campanha eleitoral atípica em 2020

Com a provável impossibilidade de promover comícios e participar de eventos públicos, devido às regras de distanciamento social, candidatos às eleições municipais deverão apostar nas redes sociais para se conectar o eleitorado

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A definição de novas datas para as eleições de 2020 e a preocupante pandemia do novo coronavírus constituem um cenário de campanha eleitoral atípico para quem pretende concorrer à prefeito ou vereador nos municípios brasileiros. Com uma curva de contágio pela Covid-19 ainda em ascensão no país, especialistas em marketing político enxergam como pouco provável que candidatos possam promover, nos próximos meses, uma campanha tradicional, com comícios e outras ações presenciais, como era de costume.

 Neste ano, as redes sociais devem ganhar especial relevância na busca pelo eleitorado. É o que aponta uma inédita pesquisa de percepção sobre as eleições de 2020, realizada pela agência Critério, envolvendo 52 pré-candidatos de todo o Rio Grande do Sul, entre os dias 10 e 16 de junho. Entre os consultados, 78,8% responderam que as mídias sociais devem ser prioridade entre as ferramentas de comunicação na disputa deste ano. O levantamento mostra ainda que, do total de pré-candidatos consultados, 61,5% pretendem concentrar mais energia no Facebook e outros 32,7% no WhatsApp.

Para a jornalista e especialista em marketing eleitoral, Soraia Hanna, o momento é histórico e de muitos testes para a política. Em um período em que o país vive crises de saúde, política e economia, com mais de 75 mil brasileiros mortos pelo novo coronavírus e quase 12 milhões de desempregados, os políticos devem mostrar empatia e engajamento no enfrentamento à pandemia mesmo durante a época de pré-campanha. Tanto que, ainda de acordo com o levantamento feito pela Critério, os pré-candidatos sinalizam o emprego e a saúde como as principais pautas a serem trabalhadas nas eleições deste ano, representando 32,7% e 23,1% das respostas, respectivamente. Temas como a corrupção, muito em voga nas eleições anteriores, mostraram-se menos relevantes nas respostas dos prefeituráveis. 

A grande dificuldade, ainda conforme a especialista, é saber dosar o conteúdo que é dividido com o público. Cada vez mais atento à vida dos candidatos e às informações compartilhadas dentro das redes sociais, Soraia salienta que os eleitores estão alerta ao que é de fato relevante e o que se trata de mera promoção. “Os pré-candidatos precisam usar as redes para mostrar quem eles são e como eles podem contribuir para a cidade, mas é necessário ter um bom timing, ser sensível ao momento que estamos vivendo. Visibilidade não é reputação. Não adianta que os candidatos apareçam por nada, bombardeando de inutilidades, que exagerem na linguagem do conteúdo ou que queiram se transformar em atores do dia para a noite. Sem uma boa construção, não se mantém em pé o que não é verdadeiro e terá o efeito contrário. As pessoas não gostam de oportunismo”, alerta. 

Para Soraia, o candidato que deverá se sobressair nas eleições será aquele capaz de se conectar de forma mais pessoal e humanizada com a população. “Passou o tempo em que as grandes agências davam um banho de loja e resolviam o problema dos candidatos. Hoje, é preciso resgatar a essência daquela pessoa, expor os seus propósitos e mostrar para a comunidade com quais pautas o candidato está engajado e de que forma ele pretende trabalhá-las, construindo, dialogando. Uma campanha sem o contato olho no olho, o abraço, aquele bater de porta em porta, pode sim representar um desafio para os candidatos, mas é necessário se adaptar, com organização e apoio profissional”.

As interferências do novo calendário na campanha eleitoral

Se, por um lado, o adiamento do eleitoral pode dar aos pré-candidatos um maior tempo para que se organizem antes das eleições, por outro, o cenário pode desgastar mandatos que já estão em curso ou, ainda, fortalecê-los em caso de apoio público. A lista de fatores que influenciam o futuro das candidaturas torna ainda mais nebulosa a tentativa de prever quais serão os resultados alcançados em novembro. Como define Soiara, é um caminho de dois lados e com três cenários: um, envolvendo os candidatos que buscam a reeleição; outro, envolvendo os candidatos apoiados por aqueles ainda em exercício do mandato; e, por fim, aqueles que constituem a oposição.

Exposição

Para quem busca a reeleição, o adiamento dá aos políticos a chance de um maior tempo de exposição – para o bem ou para o mal. “Pela própria natureza do cargo, eles aproveitam o momento para mostrar atitudes, mobilizar a comunidade, construir políticas públicas e se engajar na luta contra o vírus. Mas eu volto a lembrar que nem sempre visibilidade quer dizer reputação. A exposição garante um certo alcance e traz benefícios para a campanha, mas ele também corre o risco de tomar decisões que tenham impactos negativos ou que não tenham uma boa compreensão da comunidade. Isso tudo depende da composição do cenário político local. Se não for bem dosada, a decisão pode ser vista como oportunista”, esclarece.

Situação que, em casos de decisões equivocadas, colocam em risco também aqueles candidatos que são apoiados pelos atuais administradores. Esses, buscam na gestão do atual prefeito referências para o seu próprio trabalho. “Ele terá que mostrar, em condição adequada, tudo que está sendo feito com responsabilidade pelo atual prefeito e sinalizar que o projeto, embora seja de outras pessoas, será preservado por ele”, pondera Soraia. Nesse jogo tênue, residem ainda os candidatos da oposição, que, para a especialista em marketing eleitoral, precisam ter tranquilidade ao visualizar a exposição que recebem os atuais prefeitos ou vereadores. “Muitas vezes, a oposição pensa que essa exposição garante a reeleição, mas é precisa ter cuidado com essa percepção para não criar o sentimento de oportunismo, no sentido de ser alguém que só critica as questões do atual eleito. Ele terá que encontrar um caminho em que possa questionar e avaliar ações, mas também propor e se juntar a outras, especialmente nesse enfrentamento da pandemia, que é um inimigo em comum e envolve um valor humano”.

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