Mesmo sabendo que não há chances, o procurador do Estado Rodinei Candeia, licenciado para a disputa eleitoral deste ano, mantém a pré-candidatura a prefeito pelo PSL e vai submeter o nome ao partido, na data da convenção, marcada para 9 de setembro. Rodinei foi afastado da executiva provisória municipal na semana passada, depois que o mandato à frente do partido encerrou. A executiva estadual decidiu nomear outro grupo para fazer valer o acordo firmado entre PSL e PSDB no Estado, que prevê aliança em 14 cidades gaúchas, entre as quais Passo Fundo. Por esse acordo, o PSL apoiará a candidatura de Lucas Cidade a prefeito, contrariando a intenção de Candeia, que se preparava para ser o candidato do partido no município.
As chances de ter o nome aprovado são praticamente nulas e tem a ver com aspecto legal da formação partidária. O PSL está estruturado por comissões provisórias, são 481 no Estado, e as decisões são tomadas exclusivamente pelas executivas e não passam pela votação dos filiados. Pela legislação partidária, as comissões provisórias tem mandatos de 180 dias e, dentro deste prazo, deveriam organizar seus diretórios. O que o PSL vem fazendo é renovar as comissões provisórias garantindo poder ao presidente nacional, que é Luciano Bivar, e aos presidentes estaduais, no caso do RS, o deputado federal Nereu Crispim. Nos municípios onde não houve entendimento para a coligação ou não estão de acordo com o direcionamento das executivas, os membros são substituídos, como ocorreu em Santa Cruz do Sul e em Erechim, além de Passo Fundo.
Ao tomar conhecimento da manobra para retirá-lo da disputa, Candeia tentou barrar judicialmente. A primeira ação, em recurso no Tribunal Regional Eleitoral, ele pediu investigação da Justiça Eleitoral, contra o deputado federal Nereu Crispim, presidente da Comissão Provisória Estadual do PSL, o deputado estadual Mateus Wesp, presidente estadual do PSDB, Lucas Cidade, presidente da Comissão provisória do PSDB, e pré-candidato a prefeito, o governador Eduardo Leite, e o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior.
No entendimento do autor da ação, por se tratarem de autoridades públicas, no caso dois deputados, governador e prefeito, e pelo fato de Lucas Cidade ser pré-candidato, sujeito, portanto, às regras eleitorais, a Justiça deve apurar se há alguma eventual situação de abuso de poder na coligação entre os dois partidos. Sobre o pedido de apuração referente ao nepotismo, Candeia se refere à nomeação de dois filhos do deputado Crespim, para cargos públicos no governo do estado.
Para Candeia, a negociação entre os dois partidos em troca de cargos dos filhos do presidente do PSL no governo do Estado está muito próximo de corrupção. E ele lamenta que a Justiça Eleitoral se atenha tão somente a questões pequenas de uma campanha, como a colocação de placa em muro, enquanto deveria estar atenta e enfrentando questões que abalam o processo eleitoral, tirando o direito de escolha do próprio eleitor. “Quando os dirigentes partidários fazem uma manobra para me afastar da eleição, eles também tiram do cidadão de Passo Fundo o direito de escolha”, acrescenta. Manobras que, segundo ele, envolve cargos no poder público, gestão de dinheiro público como o fundo eleitoral e passa longe do olhar mais atento da Justiça Eleitoral.
Campo fértil da picaretagem
O ingresso de Candeia no PSL se deu de forma tumultuada no ano passado, depois que ele deixou o PP. O presidente da época, Francisco Lupatini, teve discordância em relação ao encontro que formalizaria a filiação no PSL. Os dois trocaram críticas e Lupatini acabou deixou o PSL. Candeia assumiu a comissão provisória, passando a organizar o partido para as eleições. “Estou na política há pouco tempo, mas o suficiente para aprender que esse espaço é campo fértil para picaretagem. Para pessoas que não têm outra função na vida senão buscar vantagem a qualquer preço”. Mesmo assim, garantiu que não vai deixar o PSL, por entender que a situação não seria diferente em outra sigla e por acreditar no retorno do presidente Bolsonaro ao partido. “A confiança é de que o retorno do presidente possa mudar o ambiente interno partidário”, acrescentou.
Ativo na campanha
Candeia aguarda definição do ex-vereador e empresário Valdair Gomes de Almeida sobre a candidatura a prefeito. Por lealdade, disse que se ele for candidato vai apoiá-lo. Se não for, não há chance de apoiar outro candidato. Acha que fora da disputa, a eleição fica sem uma terceira via que seria representada por ele como de centro-direita. Tem críticas em relação ao mandato do prefeito Luciano Azevedo, especialmente no que se refere a execução orçamentária. Sobre Márcio Patussi, disse que a dificuldade de apoiar é em função do posicionamento do PDT em relação ao Governo Bolsonaro, mas percebe que o candidato não representa essa ala.
O que está certo é a participação ativa nas eleições, especialmente nas redes sociais. “Vou intensificar minha participação na política”, assegurou. Nesse aspecto, não vai poupar críticas a Lucas Cidade. “Vou apontar sua participação na falcatrua para inviabilizar minha candidatura e dizer que é lamentável que comece sua vida política com essas práticas”, pontuou.
Das lições que vai levar deste processo é que, em política, deve-se levar em conta e conhecer o caráter de uma pessoa, depois suas qualificações técnicas.