Médica infectologista depõe sobre saída do Ministério da Saúde e critica discussão sobre tratamento precoce

Ela classificou a discussão sobre tratamento precoce como “delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”

Por
· 2 min de leitura
Luana Araújo foi anunciada para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)Luana Araújo foi anunciada para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Luana Araújo foi anunciada para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado, nesta quarta-feira (2), a médica infectologista Luana Araújo disse que não sabe o motivo de sua saída da equipe do Ministério da Saúde. Ela foi anunciada para a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, mas não foi oficialmente nomeada.

A médica disse que atuou como consultora do ministro Marcelo Queiroga e que não recebeu "um centavo" por esses dias de trabalho e pagou do bolso os deslocamentos. Ainda sobre a Secretaria, Luana disse que convidou os profissionais mais talentosos de sua área para trabalhar na secretaria, mas eles não aceitaram por conta da "polarização esdrúxula" e da "politização incabível" do momento.

Questionada se sua posição pública contrária ao uso da cloroquina no tratamento de pacientes de covid-19 foi o motivo de sua saída, a médica também não soube responder. "Entendi que a coisa estava se arrastando e que não iria acontecer", afirmou.

Ao se definir como "uma pessoa assertiva e segura da sua competência", a infectologista relatou que não recebeu uma justificativa detalhada do motivo da desistência do seu nome para integrar a equipe do ministério e que a nomeação não teria aval da Casa Civil. “O ministro, com toda a hombridade que ele teve ao me chamar, ao fazer o convite, me chamou ao final e disse que lamentava, mas que a minha nomeação não sairia, que meu nome não teria sido aprovado”, relatou.

Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com residência em infectologia pela mesma instituição, Luana Araújo também é mestre pela Universidade de Saúde Pública Johns Hopkins. A médica disse à CPI que quando foi convidada pelo atual ministro da Saúde para chefiar uma secretaria na pasta lhe foi apresentado “um projeto sólido, baseado em evidências, de superação desses obstáculos no contexto brasileiro, e também a necessidade de alguém técnico e competente para conduzir esse trabalho” . “Aceitaria o convite para esta posição enquanto me fosse garantida a autonomia necessária e sempre – sempre – fossem respeitadas a cientificidade e a tecnicidade. Vejam, eu pleiteei autonomia, não insubordinação ou anarquia”, ressaltou.

Tratamento precoce

Sobre se teria discutido protocolos de tratamento precoce da covid-19, com o ministro, Luana ressaltou que o Brasil não deveria estar ainda debatendo um assunto que, segundo ela, já é "pacificado em todo o mundo". Ela classificou essa discussão de “delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”. "O ministro Marcelo Queiroga é um homem da ciência. Todos nós somos absolutamente a favor de uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública", observou.

“A gente precisa desenvolver soluções, estratégias claras, adaptadas ao nosso povo. A gente precisa ajudar o gestor, que, neste momento, é o ministro Queiroga, a conseguir os resultados que ele precisa. Porque desses resultados dependemos todos nós”, acrescentou.

Luana Araújo defendeu a autonomia médica no tratamento de pacientes, mas afirmou que a decisão do profissional deve ser baseada em pilares como “conhecimento científico acumulado”, “ética” e “responsabilização”. Para a infectologista Luana Araújo, pessoas que defendem algo sem comprovação científica, como a cloroquina, expõem seu grupo a extrema vulnerabilidade. "Todo mundo que diz isso tem responsabilidade sobre o que acontece depois."

Testagem

Questionada sobre o que fez na pasta nos dez dias de trabalho, a infectologista disse que foi consultora de Queiroga em vários assuntos: desde a vacinação propriamente dita, do momento das gestantes e dos eventos adversos, até o programa de testagem em massa. “Acho que é público que o nosso programa de testagem, até esse momento, era um programa com inúmeras falhas, um programa reativo, um programa que precisava retomar as rédeas do diagnóstico e do rastreamento de contato de pacientes”, avaliou.

Com informações da Agência Brasil e Agência Senado

Gostou? Compartilhe