Cientistas falam sobre condução da pandemia em CPI

Natália Pasternak e Cláudio Maierovitch respondem aos senadores sobre políticas de enfrentamento à pandemia

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A audiência pública interativa ouve o depoimento de especialistas convidados a respeito de aspectos técnicos da Covid-19 (Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado)A audiência pública interativa ouve o depoimento de especialistas convidados a respeito de aspectos técnicos da Covid-19 (Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado)
A audiência pública interativa ouve o depoimento de especialistas convidados a respeito de aspectos técnicos da Covid-19 (Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado)
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ouve hoje (11) os cientistas Natália Pasternak e Cláudio Maierovitch sobre a condução da pandemia no país. A microbiologista e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, afirmou que não existe qualquer evidência científica sobre a eficácia da cloroquina no tratamento da covid-19. Na avaliação da pesquisadora, usuários do medicamento e médicos defensores do chamado tratamento precoce com o fármaco se baseiam em “evidências anedóticas”. “Evidências anedóticas não são evidências científicas, elas não servem para a ciência, elas são apenas causos, histórias”, disse, ao afirmar que o medicamento já foi testado em casos leves e graves, em cobaias e humanos.

A cientista afirmou ainda que a cloroquina “nunca teve plausibilidade biológica para funcionar”. “O caminho pelo qual ela bloqueia a entrada do vírus na célula só funciona in vitro, em tubo de ensaio. Nas células do trato respiratório, o caminho é outro. Então, ela nunca poderia funcionar”, explicou.

Em resposta a Eduardo Girão (Podemos-CE), Natalia Pasternak disse que a politização a favor da cloroquina e da ivermectina deriva de um movimento de cientistas que buscam mais apelo midiático do que pesquisa criteriosa.

Natalia Pasternak disse que a crença de que existe uma cura fácil ilude e cria falsa sensação de segurança, que leva a comportamento de risco: “Não temos como mensurar quantas pessoas morreram de desinformação”. A cientista também citou estudo do epidemiologista Pedro Hallal que apontou que 3 de cada 4 mortes poderiam ter sido evitadas se o Brasil estivesse na média mundial de controle da pandemia.

Maierovitch

Pela primeira vez, o colegiado ouve duas pessoas ao mesmo tempo. Além de Natália Pasternak, o médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) Cláudio Maierovitch, presta depoimento à CPI. Na avaliação dele, faltaram planos adequados de enfrentamento à pandemia no governo federal.

Como exemplo, ele citou a questão dos insumos. “O plano prevê, necessariamente, o seu monitoramento. Nós estávamos acostumados a trabalhar com isso, em diversas crises, constituição de um Comitê de Operações de Emergência e Saúde, um acompanhando as respostas e necessidades de cada estado, de cada município”, acrescentou.

Para Cláudio Maierovitch, o tratamento em relação à covid-19 é de suporte, com ataque aos sintomas como a febre. Ele ressaltou a importância das medidas não farmacológicas e citou casos de sucesso de países como Portugal e Inglaterra, que adotaram medidas restritivas mais rigorosas. Na avaliação dele, para a queda da transmissão intensa do coronavírus no Brasil, seria necessário um lockdown por pelo menos duas semanas, o que impediria um “ciclo da doença”.

O médico se mostrou contrário à forma como a campanha de vacinação vem sendo conduzida no país. "O plano de imunização que tivemos é um plano pífio, que não entra nos detalhes necessários para um plano de imunização que deve existir no país. Não tivemos critérios homogêneos definidos para o Brasil inteiro de forma que ficou a cargo de cada estado e município definir seus critérios. Pode parecer democrático, mas frente a uma epidemia dessa natureza e escassez de recursos que temos, deixa de ser democrático para produzir iniquidades", avaliou.

O sanitarista falou também sobre os primeiros medicamentos que estão sendo usados no tratamento de pessoas hospitalizadas pela covid-19, como os anticorpos monoclonais. “Além destes medicamentos dirigidos a auxiliar a defesa contra o vírus, os anticorpos, existem essas outras categorias, muitas vezes medicamentos usados para câncer, medicamentos usados em doenças reumatológicas também que tentam cuidar não de enfrentar o vírus, mas de diminuir a resposta excessiva do organismo ao vírus, coisa que é feita tradicionalmente com corticoides”, ressaltou. Ele acrescentou que existem medicamentos, inibidores de fatores endógenos, do próprio organismo, que provocam reações exacerbadas e que estão em estudo, alguns, já utilizados em fase inicial.

Com informações da Agência Brasil e Agência Senado

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