Marauense Reginete Bispo assume cadeira na Câmara dos Deputados

Deputada federal conta que construiu a militância política durante a juventude vivida em Passo Fundo

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Reginete pretende trazer o debate sobre paridade de gênero e raça para o Congresso Nacional. (Foto: Gabriel Paiva)Reginete pretende trazer o debate sobre paridade de gênero e raça para o Congresso Nacional. (Foto: Gabriel Paiva)
Reginete pretende trazer o debate sobre paridade de gênero e raça para o Congresso Nacional. (Foto: Gabriel Paiva)
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Com uma trajetória de crescimento e formação que atravessa os municípios de Marau, Passo Fundo e Porto Alegre, a socióloga Reginete Bispo (PT) foi empossada como deputada federal na última sexta-feira (3). Somando 19.728 votos, Reginete ficou com a primeira suplência nas Eleições 2022 e ingressou na vaga do PT após a escolha do deputado Paulo Pimenta como ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do Governo Lula. Apesar de ter sido eleita por Porto Alegre, o início de seus passos dentro da política e na militância tem como ponto de partida Passo Fundo.


Do campo às lutas 

O primeiro lar de Reginete Bispo foi o distrito de Laranjeiras, na zona rural de Marau. Permanecendo no município até os nove anos de idade, a deputada federal conta que carrega uma marca muito grande da infância que viveu no campo, principalmente no que a vincula à luta pela terra. “Penso que essa marca que eu tenho, de lutar pela reforma agrária e depois pela regularização dos territórios quilombolas e indígenas, vem muito da minha vivência do campo e de saber a importância que a terra tem na vida das pessoas. Sobretudo, para aqueles que trabalham na produção de alimentos no campo”, reflete ela. 

Vinda de uma família que não possuía uma tradição política e de militância, Reginete encontrou na mãe, nas oito irmãs e nos dois irmãos o apoio necessário para ingressar na luta antirracista, mesmo em um contexto histórico que reprimia quem tentava se manifestar. “Quando iniciei, em 1982, final dos anos 80, ainda vivíamos sob o regime militar, então a militância era muito restrita. Mas sempre tive o apoio, principalmente da minha mãe que gosta de polícia e alguns dos meus irmãos, como a Valquíria e o Joel que me acompanha até hoje nas atividades políticas”, pontua Reginete. Valquiria Bispo, também atuante na política e na militância em Passo Fundo, foi candidata a vice-prefeita na chapa de Juliano Roso (PCdoB) na última eleição municipal. 

 

Passo Fundo como referência

Foi durante a adolescência, depois de se mudar para Passo Fundo, que Reginete começou a atuar, de fato, na militância social junto à Pastoral da Juventude e na luta pela Reforma Agrária. Desde então, uma relação afetiva e política tomou forma quando se trata de Passo Fundo, cidade que Reginete considera a sua base. “Foi em Passo Fundo que recebi minha formação política, aqui foi o início da minha militância, principalmente na reforma agrária, mas também na reforma urbana”, relembra ela. “A base da minha formação política foi em Passo Fundo, essa base que me orienta na política até os dias de hoje”.

Entre as principais lembranças, Reginete rememora as lutas na Vila São Luiz Gonzaga, no processo de regularização do território, os dias passados nas Cáritas Arquidiocesana de Passo Fundo e na Assistência Social Arquidiocesana Leão XIII. “Passei boa parte da minha juventude militando e me divertindo nesses espaços. Tenho bons amigos, boas lembranças. Tenho muitas saudades, se pudesse voltava a morar em Passo Fundo, mas a vida tem outros rumos, no entanto, essa sempre vai ser minha referência”, afirma saudosa. 

Com a família ainda residindo em Passo Fundo, o vínculo com o município nunca diminuiu, o que a traz constantemente para cá. “Minha mãe e meus irmãos moram em Passo Fundo, então no mínimo três a quatro vezes por ano eu vou”, conta a deputada. “Embora eu resida em Porto Alegre, eu falo de Passo Fundo como se fosse a minha casa, porque a casa dos pais da gente sempre vai ser a nossa casa”.


Caminhos na política

Os rumos que afastaram fisicamente Reginete Bispo de Passo Fundo começaram a tomar forma em 1986, quando filiou-se ao PT, participando das executivas municipais de Passo Fundo e de Porto Alegre, além da secretaria estadual de Combate ao Racismo do PT-RS. Ainda em 1988, Reginete concorreu a vereadora pelo PT de Passo Fundo. 

Em 1990, seus passos a levaram a Porto Alegre, quando ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para cursar Sociologia. Logo adiante, em 1994, disputou uma vaga de deputada estadual, tentando o cargo mais uma vez em 2014. Em 2018, Reginete ficou na suplência da chapa ao Senado, com Paulo Paim (PT).


Bandeiras 

Atuante em pautas sociais voltadas à luta contra a fome, o racismo e o machismo, Reginete declara que um dos debates que pretende trazer ao Congresso Nacional é a falta de representatividade na tomada de decisões, principalmente em instituições públicas. “É a representação da pluralidade, da diversidade do povo brasileiro, do povo gaúcho, do povo passo-fundense", pondera. “Essa representatividade sempre teve uma hegemonia de homens brancos e ricos. Minha presença aqui, assim como de outras mulheres negras, está dizendo que a representatividade construída até agora não serve mais para o Brasil”, afirma.

Na opinião da deputada, a fonte de muitas das desigualdades sociais e econômicas vividas no país perpassam a ausência da diversidade em cargos de poder, o que coloca os interesses de grupos populacionais inviabilizados em segundo plano. Durante seu discurso de posse, ela ressaltou a luta pelos seus ancestrais e o compromisso com a comunidade negra. “Em nome dos meus ancestrais, dos meus pais, dos meus filhos, da população negra, em especial as mulheres negras, assumo esse compromisso. Na esperança de um Brasil igualitário, diverso e com oportunidades para todos, com olhar especial aos jovens e crianças periféricos", declarou.

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