“Impessoalidade do processo político” pode explicar abstenção elevada

Consideração é do juiz da 128ª Zona Eleitoral, Luis Clovis Machado da Rocha Jr. Em Passo Fundo, mais de 36 mil eleitores não votaram

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Foto Gerson Lopes/ ONFoto Gerson Lopes/ ON
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Exatos 114.128 eleitores compareceram às urnas em Passo Fundo para registrar o voto no último domingo (06), ou 75,65% dos 150.867 que estavam aptos junto à Justiça Eleitoral. O índice de abstenção de 24,35% representa que 36.738 pessoas deixaram de participar da escolha do prefeito, vice-prefeito e vereadores para os próximos quatro anos - para efeito de comparação, é um número maior do que o resultado obtido pelo segundo colocado na disputa à prefeitura. Com essa realidade, a análise dos índices registrados nas últimas quatro eleições municipais demonstra que a abstenção saltou nos últimos 12 anos em Passo Fundo, tanto que mais pessoas votaram em 2012 do que agora.

O fenômeno, porém, não parece ser exclusividade local. Enquanto mais de 122 milhões de brasileiros compareceram às urnas no domingo, o índice de abstenção ficou em cerca de 21%, abaixo dos 23% registrados em 2020, mas em um patamar ainda alto, na opinião da presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármem Lúcia, que apresentou um balanço do 1º turno das Eleições Municipais, realizado em 5.569 cidades do país. Em 2016, 17,58% dos eleitores faltaram.

A “impessoalidade” do processo eleitoral

Ao avaliar a presença nas seções de votação, o juiz da 128ª Zona Eleitoral, Luis Clovis Machado da Rocha Jr, compara que em cidades menores da região a participação da população tem se mostrado mais acentuada, na contramão de grandes centros.

A tese se confirma com os dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral registrados em pequenos municípios do entorno de Passo Fundo, como, por exemplo, em Tio Hugo, onde apenas 8,45% dos eleitores faltaram; em Ernestina, 14,05%; em Mato Castelhano, 9,49%; em Pontão, 10,15%; em Marau, 17,62%. “O fenômeno da abstenção tem sido mais alto nos municípios maiores, com mais eleitorado. Se você fizer o panorama, por exemplo, de Coxilha, de Mato Castelhano, mesmo de Ernestina que teve só um candidato, Não-Me-Toque, verá que a abstenção foi muito menor, não chegou a 15%. Em municípios grandes, como Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, São Paulo, abstenção é maior”, aponta o juiz. Na capital gaúcha, o índice chegou a 31,51% no 1º turno; em Caxias do Sul, 25,13%; e em Santa Maria, 27,54%.

Em sua visão, os dados se justificam por um distanciamento pessoal entre os políticos e a população em comunidades maiores. “Provavelmente, essa impessoalidade da propaganda eleitoral, da impessoalidade do processo político, especialmente com os vereadores, porque as pessoas não conhecem os vereadores, não têm contato com os candidatos nas cidades grandes, e isso gera mais impessoalização e desinteresse. Aí, as pessoas não querem participar, elas não têm esse envolvimento”, atenta ele.

Por outro lado, os cidadãos residentes nos pequenos municípios têm uma natural proximidade, que vai além do aspecto geográfico, se refletindo também na política. “Nas cidades menores, como todo mundo se conhece, como todo mundo sabe como cada um pensa, as pessoas querem participar mais ativamente e porque toda política na cidade pequena afeta diretamente as pessoas”, relaciona o magistrado.

Como aumentar a participação?

Semanas antes da eleição de domingo, a Justiça Eleitoral gaúcha lançou, em parceria com a Associação Gaúcha das Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT), a campanha “Venha reconstruir o estado com a força do seu voto”, com o objetivo de incentivar a população a participar do processo eleitoral, por meio do voto, diminuindo a abstenção e fortalecendo a democracia.

Além de ações como essa, no entanto, o juiz eleitoral Luis Clovis Machado da Rocha Jr considera ser importante uma aproximação maior entre os agentes políticos e o eleitorado. “Acho que é possível reduzir a abstenção com algumas mudanças na campanha eleitoral e na legislação. Os Políticos precisam se aproximar dos eleitores e talvez a campanha devesse ser mais longa. Entretanto, as maiores mudanças não dependem apenas da ação da Justiça Eleitoral, senão do próprio Parlamento e dos candidatos”, finaliza.


Abstenção nas últimas eleições municipais em Passo Fundo

A avaliação dos números registrados nas últimas quatro eleições municipais demonstra que a abstenção saltou nos últimos 12 anos em Passo Fundo.

Em 2012, mesmo com menos eleitores cadastrados, cerca de 136 mil, quase 117 mil foram às seções de votação. Agora em 2024, foram pouco mais de 114 mil votantes, diante de um contingente de 150 mil eleitores aptos. Veja na sequência outros dados:

2024

Eleitorado apto: 150.867

Comparecimento 114.128/ 75,65%

Abstenção 36.738/ 24,35%

2020

Eleitorado apto: 146.664

Comparecimento 109.327/74,54%

Abstenção 37.337/ 25,46%

2016

Eleitorado apto: 142.329

Comparecimento 119.412/ 83,90%

Abstenção 22.917/ 16,10%

2012

Eleitorado apto: 136.208

Comparecimento 116.967/ 85,87%

Abstenção 19.241/ 14,13%

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