Bruno Todero/ON
Mario Noel foi dormir tranquilo na terça-feira. Ele não acompanhou nenhum noticiário naquela noite e não sabia do desastre que atingira o seu país. Ontem pela manhã, ao olhar os jornais e ver estampadas fotos da cidade onde nasceu, Porto Príncipe, capital do Haiti, totalmente em ruínas, perdeu o chão. Lá ele deixou, em 2007, quando mudou-se para a República Dominicana, a mãe, quatro irmãos (dois homens e duas mulheres) e vários parentes. Todos moravam na região central da cidade, que também teria sofrido consequências do terremoto. Noel, ao conversar, por telefone, com a reportagem de O Nacional, mostrava a preocupação nas palavras de alguém que ainda não havia conseguido nenhuma notícia dos entes. “O que sinto? Angústia. É triste ficar sem notícias da família”, disse, em um português misturado com francês, língua oficial do país.
Há três meses, Noel e outros dois haitianos, Parnel Jeanty e Djustin Philippe, são internos no Convento São Boaventura, em Marau. O primeiro teria uma irmã residindo em Porto Príncipe e o segundo nenhum familiar. Os três vieram para o Estado, em outubro do ano passado, para cumprir um ano de internato, chamado de ano canônico, fase inicial de formação para que se tornem frades capuchinhos. Ontem, porém, a rotina do convento foi totalmente alterada em função do drama vivido pelos noviços. Todos os internos buscavam informações sobre a tragédia no Haiti, enquanto que os três tentavam, sem sucesso, algum contato com familiares. “Ligamos e o telefone está sem sinal”, conta Noel. “Tudo o que sabemos até agora é o que vimos na internet”, completa. Ele revela que chegou inclusive a ligar para a embaixada haitiana em Santo Domingo, país próximo, mas a ligação também não completou.