Leonardo Andreoli/ON
Enquanto muitos lugares sofrem com a falta de empregos, no município de Guaporé, a 100 quilômetros de Passo Fundo, o problema é a falta de mão de obra qualificada. A cidade tem nos setores de joia e lingerie a maior absorção da mão de obra, cerca de 60%. O problema da falta de funcionários, principalmente no setor de confecção, se deve aos salários pouco atrativos e à falta de profissionalização.
O problema prejudica o desenvolvimento e crescimento planejado pelas empresas. Para a empresária Giovana Chaves, que atua nos ramos de joia e lingerie, o mercado está aquecido e esbarra na situação de falta de mão de obra. "Os dois setores são muito dependentes do fator humano, pois é um trabalho muito delicado. É um sentimento de frustração", desabafa. Segundo ela, o problema tem se acentuado nos últimos três anos.
Empreendedorismo
Entre os fatores apontados por Giovana como causa do problema está o espírito empreendedor da comunidade. "As pessoas descobriram que podem criar o próprio negócio. Elas aprendem o ofício e formam a própria empresa", explica. O crescimento no número de pequenas empresas também serviu para absorver a mão de obra existente. A empresária destaca que a falta de pessoas qualificadas é responsável ainda pelo aumento dos salários oferecidos, que refletem no encarecimento dos produtos.
Pouca valorização
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçado, Vestuário e Componentes, Walter Fabro, a cidade carece principalmente de costureiras. "Algumas empresas fazem a formação dos profissionais. No momento seguinte a concorrente busca a pessoa formada e por uma pequena diferença de salário, ela muda de empresa", acrescenta. Atualmente o salário dos trabalhadores de indústria do vestuário está cerca de R$ 100 acima do salário mínimo brasileiro. "Com isso a mão de obra migra para outros setores que remuneram melhor, seja o joalheiro, metalúrgico ou indústrias de alimentos", pontua.
Cursos
O município conta com uma unidade do Senai que disponibiliza cursos de formação para trabalhadores do ramo de joia e lingerie. Mesmo assim, na opinião de Fabro, ainda falta formação. "O setor de lingerie está num crescente muito importante na economia, as pessoas que se formam não são suficientes para suprir a necessidade", acrescenta. Para ele, seria necessária uma iniciativa do empresariado com o poder municipal no sentido de instalar escolas de qualificação, além de uma melhor remuneração aos funcionários.
Empresas
Apenas nos setores joalheiro e de confecção existem hoje 300 indústrias no município. Cerca de 35% da produção joalheira é exportada para a América Latina, América Central, Estados Unidos, México, Europa e África. Guaporé é considerado o primeiro polo gaúcho de produção de joias e o segundo em termos de Brasil. No ramo de confecção, 140 empresas distribuem a produção em todo o Brasil e exportam para as Américas e Europa. Este setor iniciou suas atividades no final de década de 1980, sendo atualmente o maior polo produtor de lingerie do Rio Grande do Sul.
Cidade
Guaporé possui aproximadamente 22 mil habitantes. O segmento industrial representa 52% do PIB, composto por aproximadamente 400 estabelecimentos industriais, predominando micros, pequenas e médias empresas.
Indústria sofre com falta de mão de obra
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