Leonardo Andreoli/ON
A localidade que deu origem aos municípios de Passo Fundo e, por conseqüência, Mato Castelhano guarda uma riqueza aproveitada por 61% dos municípios do Estado. Em Povinho Velho estão as nascentes de quatro sub-bacias hidrográficas importantes para a constituição da malha hídrica do Rio Grande do Sul. Para resgatar essa história e mostrar a importância da preservação desta área, a Emater, com o apoio da Embrapa Trigo, UPF, Gesp, Corsan, prefeituras de Passo Fundo e Mato Castelhano, e Faculdade Portal, realizaram o Dia de Campo no Berço das Águas. A história de Povinho Velho antecede a chegada dos jesuítas, ou dos tropeiros que se estabeleceram por lá. Povos indígenas já ocupavam a área, por um motivo em comum: a disponibilidade de água.
O lugar das 4 mil almas
Ignorada por algum tempo por espanhóis e portugueses, a região chamou a atenção dos jesuítas. A história é contada por representantes do Muzar da UPF e do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (GESP), Flávia Biondo da Silva e Paulo Cornélio, respectivamente. Por volta de 1630, os jesuítas chegaram à região e instalaram a Redução Jesuítica de Santa Tereza, que chegou a contar com quatro mil almas – forma como contavam as pessoas. Isso aproximadamente 100 anos antes de se instalarem na Região das Missões. Mais tarde a redução foi destruída pelos bandeirantes. Os animais que eram criados por eles foram soltos e começaram a se reproduzir livremente. Eles atraíram os tropeiros que vieram ao Campo das Vacarias, recolhê-los.
Tropeiros
Com a chegada dos tropeiros foi criado o Povinho da Entrada da Mata. Por volta de 1830 ele abrigava uma estrutura importante, com cartório, delegacia e igreja. Nesse período foi aberta a Estrada da Camponesa, que marca uma divisa entre os dois municípios, seguindo o caminho utilizado pelos índios nos divisores de água. Mesmo assim, em alguns locais eles eram obrigados a cruzar os rios. Daí a origem dos nomes Passo Fundo e Passo do Cruz.
No entanto, toda a estrutura foi mudada para onde hoje fica Passo Fundo, porque no local não tinha como acumular água suficiente para a formação de uma cidade, mesmo sendo o nascedouro de quatro sub-bacias hidrográficas do Estado, que abastecem hoje a 302 municípios gaúchos. Mais tarde o local passou a se chamar Povinho Velho, e deu origem a Passo Fundo e Mato Castelhano.
É preciso preservar
Todo o resgate histórico tem como objetivo demonstrar a necessidade de preservar o local. O organizador da atividade, Ilvandro Mello, explica que as ações devem ser realizadas em conjunto pelos municípios que utilizam desses recursos. “O mais importante é a junção dos municípios para um futuro projeto que beneficie essa comunidade, os proprietários dessas áreas e as pessoas que utilizam a água”, reforça. Ele destaca também a importância do rio Passo Fundo, que passa por 17 municípios até encontrar o rio Uruguai, na região do Goio-En, no município de Nonoai. O rio tem participação na formação madeireira do Estado. Lá começou o ciclo das balsas do rio Uruguai. “É possível, num projeto conjunto, trazer benefícios turísticos, econômicos, ambientais e sociais, para aproveitamento desse potencial”, estima Mello. Duas dessas sub-bacias: a Passo Fundo e Apuaê-Inhandava deságuam no Rio Uruguai. As outras - Alto Jacui e Taquari-Antas - deságuam no Guaíba.
Estudantes
Na manhã de ontem, o dia de campo recebeu aproximadamente 200 estudantes de Passo Fundo e Mato Castelhano. Eles tiveram a oportunidade de conhecer a história, aprender formas de preservação, e ainda ver de perto a nascente-mãe do rio Passo Fundo. À tarde, autoridades e representantes de 17 municípios passaram pelas quatro estações que abordaram a influência das florestas na proteção e na dinâmica da água; recuperação de áreas degradadas; qualidade da água; e a história de Povinho Velho. O projeto pretende se transformar em permanente e envolver outros municípios banhados pelas nascentes.
Nas corredeiras das águas e dos tempos
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