Natália Fávero/ON
Os dados do Comando Rodoviário Estadual da Brigada Militar mostram que as obras realizadas na ERS 324 não contribuíram para a redução de acidentes e mortes. A duplicação de faixas e recapeamento da pista fizeram com que a média de velocidade dos veículos aumentasse elevando também o número de acidentes. Em 2010 foram registrados 239 acidentes na rodovia, 30 a mais que em 2009. O número de mortes foi o mesmo que no ano anterior: 10 vítimas fatais. Só em janeiro de 2011 foram 15 acidentes enquanto que no ano passado foram 9. Nesta segunda-feira (07/02) haverá uma Audiência Pública para discutir a duplicação da rodovia. Para muitos essa é mais uma alternativa para evitar acidentes, mas a Polícia Rodoviária Estadual afirma que só isso não basta porque “enquanto não houver conscientização e educação no trânsito os acidentes continuarão acontecendo”.
Em outubro do ano passado foram entregues as obras de melhorias na sinalização, pavimentação e duplicação de faixas. A rodovia tem 32 curvas. Em seis pontos foram adicionadas faixas para promover ultrapassagens com maior segurança. Mas depois da finalização o número de acidentes se manteve e em alguns meses os dados foram até superiores. Antes das obras, em 2009, os meses de outubro e novembro registraram 16 e 18 acidentes respectivamente. Depois da finalização em 2010, esses mesmos meses somaram 21 e 23 colisões.
Dos 239 acidentes no ano passado, 129 aconteceram no final ou depois das obras, entre julho e dezembro. A metade das mortes também foi registrada nesse período. Do total presume-se que a causa principal foi falha do condutor em 225 dos acidentes e apenas cinco por culpa da estrada.
O analista de operações do Comando Rodoviário, tenente Paulo Roberto Mariano, disse que a maioria dos acidentes são precedidos por uma infração. “A principal causa não é a rodovia e sim o ser humano. Enquanto ele não tiver educação e cultura para entender que nos 29 km de rodovia que liga Passo Fundo a Marau tem 32 curvas e que por isso os limites da ERS 324 precisam ser respeitados, mais acidentes vão acontecer”, disse Mariano.
Após as melhorias os acidentes se mantêm entre 18 e 20 por mês. “A imprudência é a principal causa. O excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos, ingestão de bebidas alcoólicas e dirigir com sono estão entre os fatores”, enfatizou.
A fiscalização da Polícia Rodoviária Estadual tem registrado velocidades mais elevadas depois das obras. Antes os motoristas mais abusados chegavam a 110 Km/h, agora a polícia já registra 130 Km/h. Mariano revela que não há tecnologia e melhorias que evitem os acidentes.
Perfil dos acidentes
A maioria dos acidentes foi por abalroamento (68), choque (58), colisão (51) e tombamento (30). Do total de acidentes, 155 foram com danos materiais, 75 com lesões corporais e 10 com mortes.
Veículos que mais se envolveram em colisões
Os automóveis lideram o ranking. Dos 443 veículos envolvidos em acidentes, 210 foram automóveis e 119 caminhões. As demais colisões abrangem camionete, motos, ônibus, entre outros.
Quem são os condutores?
Os motoristas que mais acabam cometendo ou sofrendo acidentes têm entre 26 e 40 anos. Em 2010, 177 pessoas dessa faixa etária se envolveram em acidentes seguidos dos que possuem 41 e 60 anos com 120 acidentes. Os homens cometem mais colisões que as mulheres. Do total de veículos, 378 homens estavam à frente do volante. O tenente informou que todos pensam que os jovens são os que mais se acidentam, mas as estatísticas mostram que não. “Quando os motoristas passam dos 26 anos eles acham que já sabem tudo de rodovia e começam a transgredir as regras. Muitos pensam que são pilotos ou o melhor motorista do mundo e é nessa hora que os acidentes acontecem”, declarou Mariano.
Quem são as vítimas fatais?
As vítimas são em sua maioria da mesma faixa etária das pessoas que mais se envolvem em acidentes. Dos dez mortos em 2010, quatro tinham entre 41 e 60 anos, três entre 26 e 40 anos, dois com mais de 60 e um entre 19 e 25 anos. A maioria das vítimas são homens. No ano passado foram nove vítimas do sexo masculino.
Horário e dias dos acidentes
Os acidentes acontecem mais entre 15h e 18h. Nesse espaço de tempo foram registrados em 2010, 55 colisões. A maioria dos acidentes ocorreu entre sexta-feira e domingo, totalizando 110 deles. No primeiro mês de 2011, os resultados não foram diferentes. Dos 15 acidentes, 10 aconteceram entre esses dias. O tenente do Comando Rodoviário explica que muitos motoristas que não tem contato frequente com a rodovia são os que mais pegam a estrada nos finais de semana. “Entre as 15h e 21h é o horário que o pessoal sai pra viajar. Entre os fatores para os acidentes estão a euforia em rever os amigos ou familiares ou de chegar logo na praia ou no destino”, explicou.
Audiência sobre Duplicação
Na segunda-feira (07/02), será realizada uma Audiência Pública em Passo Fundo para tratar da duplicação da ERS 324 no trecho Passo Fundo/Marau/Casca. O encontro é promovido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria de Infraestrutura e Logística. O analista de operações do Comando Rodoviário enfatiza que só a duplicação da rodovia não resolverá o problema. É preciso trabalhar a educação e provocar uma mudança na cultura dos motoristas. “Se as pessoas respeitarem as regras será mais difícil acontecer acidentes. Temos que trabalhar e educação no trânsito desde a infância das pessoas. O motorista não pode ser uma arma no trânsito”, enfatizou. O Comando sempre participa das discussões e manifestações sobre a segurança e apoia a população nas reivindicações, mas segundo Mariano os policiais sempre mostram o extrato das estatísticas para comprovar que o principal problema é a imprudência. A comunidade está sendo convidada a participar. Será às 14h, no Auditório da Biblioteca Central da UPF – Campus I, na BR 285, no bairro São José.
Histórico ERS-324
Construída em 1973, a ERS-324 é uma das mais antigas rodovias da região e apresenta grande número de acidentes. Liga municípios importantes como Bento Gonçalves, Passo Fundo e Iraí. O trecho Passo Fundo-Marau apresenta 32 curvas, sendo que a maioria é acentuada e tem fluxo diário de aproximadamente 6,5 mil veículos. É uma rota alternativa para Santa Catarina, favorecendo o turismo e o escoamento da produção regional, além de fazer ligação da Serra com o Norte do Estado. Com grande fluxo de veículos, permite o deslocamento de pessoas e produtos entre os municípios da região Serra e o Estado.
Acidentes 2009 2010 Janeiro 2011
Com danos materiais 209 239 09
Com lesões corporais 66 75 06
Com mortes 7 9 00
Mortes Total
2009 10
2010 10
Janeiro 2011 00