Apesar do cultivo da canola no país ter iniciado a de mais de 30 anos, ainda existem poucos defensivos registrados para uso na cultura. Mesmo assim, produtores apostam nesta cultura visando à liquidez que o mercado da oleaginosa oferece. As vantagens e entraves ao cultivo foram foco das discussões no VI Curso de Capacitação e Difusão de Tecnologia na Cultura da Canola, que aconteceu em 15/03, na Embrapa Trigo.
A canola é conhecida como “soja de inverno”, não apenas por originar sub produtos como óleo comestível, óleo para produção de biodiesel e proteína para produção de rações, mas especialmente pela equiparação do preço dos grãos com o preço pago pela soja nos contratos de venda. Mas é outra comparação que está chamando a atenção do Governo: o uso de defensivos, especialmente herbicidas e inseticidas, indicados para o cultivo da soja estão sendo utilizados também na canola, situação que, na avaliação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), é uma irregularidade. Segundo o representante do setor no MAPA, Arlindo Bonifácio, a indicação de defensivos requer registro específico para uso na cultura, mas, no caso da canola, a maioria dos produtos utilizados não estão registrados para a cultura. O ministério conta hoje com 1.600 produtos registrados para uso no Brasil, mas apenas dois inseticidas estão registrados para uso na lavoura de canola. A lacuna, conforme Bonifácio, resulta da falta de interesse das empresas de defensivos em investir na cultura, principalmente em função da demanda ainda relativamente pequena na quantidade de defensivos que a canola requer quando comparada à soja ou os cereais de inverno, que exigem produtos como fungicidas e outros, desnecessários na canola. “Quem registra é a empresa. As organizações de produtores geram a demanda, as instituições de pesquisa indicam e respaldam o produto, mas a entrada do processo de registro depende do interesse das empresas, que têm direito sobre determinada molécula ou princípio ativo”, diz Arlindo Bonifácio. Atualmente, o registro de um defensivo demora, em média, dois anos e chega custar R$ 30 mil por cultura. “O maior custo para o registro é a realização dos estudos de resíduos, um processo laboratorial que exige grande investimento em pessoal e infraestrutura, e pode acabar excluindo culturas menos atrativas economicamente”, avalia o especialista do MAPA, lembrando que o caminho mais fácil é justamente o crescimento da cultura e a organização da cadeia produtiva para atrair a indústria de defensivos.
Para o pesquisador da Embrapa Trigo, Gilberto Omar Tomm, o primeiro entrave da cultura que dependia da organização da cadeia foi resolvido: o zoneamento agroclimático da canola, que possibilita ao produtor fazer seguro da lavoura contra intempéries. Agora, a discussão se volta aos quesitos tecnológicos, que incluem investimento em pesquisas de manejo, identificação de híbridos mais adequados para as diversas regiões brasileiras e outros insumos.
Na avaliação do Presidente da ABRASCANOLA e Diretor da BSBIOS, Erasmo Carlos Battistella, o curso é um importante momento de reunir forças entre os envolvidos com a cadeia produtiva para buscar melhorias e políticas públicas para a cultura. “A canola ganhou um novo fôlego com o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. A partir da entrada do biodiesel, iniciou-se um novo mercado com condições para investimentos e oportunidades para os produtores no inverno, por isso, é necessário apoio do poder público para superarmos alguns pontos que ainda estão em desenvolvimento”, pontuou Battistella.
Produtores motivados
O produtor de Santa Rosa, RS, Etson Gross, é um entusiasta da canola, mantendo a área de cultivo nos últimos anos. “Sempre acreditamos na canola. Mesmo com algumas frustrações, normal em qualquer cultura, nós aprendemos a planejar a lavoura. Nos primeiros cultivos, vimos que a acidez e a baixa fertilidade exigia investir na melhoria do solo antes de plantar a canola. Depois veio a ‘canela preta’ e foram introduzidos híbridos resistentes. Agora aprendemos a lidar com a esclerotínia, reduzindo a população de plantas. O problema da debulha foi resolvido com a redução do espaçamento entrelinhas para 17 centímetros, deixando a cultura mais densa e menos afetada por ventanias”, conta o produtor e conclui: “não se pode condenar a cultura por um advento qualquer. É preciso avaliar o sistema. Se vai produzir milho ou soja na sequência e aproveitar o nitrogênio, ou produzir trigo, o aumento de rendimento nestes cultivos no ano seguinte já valem o investimento na canola”.
Em São Luiz Gonzaga, RS, o produtor Edelmar Pieniz reserva todos os anos cerca de 100 hectares para cultivo da canola, uma forma de otimizar o maquinário e manter a propriedade em movimento. “A terra, as máquinas e a mão-de-obra disponíveis na propriedade são um investimento muito alto para ficarem paradas. Assim que termino a colheita da soja, começo a semeadura da canola. A canola vai estar pronta em outubro, há tempo de utilizar as máquinas para colher o trigo em novembro e começar novamente a semeadura da soja. Não deixo o solo parado, quebrando o ciclo de doenças e reduzindo a infestação de plantas daninhas”, orienta Pieniz.