Pelo segundo dia consecutivo, índios caingangues voltaram a bloquear a BR 285 entre Passo Fundo e Lagoa Vermelha. Eles pedem a retomada da demarcação das terras indígenas no Rio Grande do Sul, suspensa temporariamente pelo Governo Federal. Além das 45 famílias acampadas às margens da rodovia, em Mato Castelhano, o protesto de ontem contou com a participação de aproximadamente 300 índios vindos de Água Santa, Caseiros, da localidade Campo do Meio, e também do município de Carazinho. O bloqueio iniciou por volta das 10h e seguiu até às 17h.
A rodovia foi fechada com troncos de árvores, pedaços de madeira e bancos, em dois pontos, distantes cerca de 400 metros um do outro, no quilômetro 266, localidade de Tijuco Preto. A passagem de veículos era liberada somente a cada 1h30min, o que provocou filas de até dois quilômetros em alguns horários do dia, conforme informou a Polícia Rodoviária Federal. À tarde, cerca de 20 índios, entre adultos e crianças, pintados e armados com flechas, lanças e pedaços de pau, percorreram um trecho da rodovia entoando o canto e a dança de luta.
Segundo o cacique Dorvalino Joaquim, além da retomada das demarcações, os índios também cobram uma posição do Governo do Estado em relação à indenização dos agricultores cujas propriedades estariam dentro da área apontada pela Funai como pertencente aos seus antepassados. “A gente percebe que o governo não tem uma proposta política para resolver essa situação, para o pagamento das benfeitorias e das terras dos agricultores” afirma, lembrando que a movimentação dos índios ocorre em toda a região sul, incluindo os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A manutenção ou não dos protestos, segundo o cacique, depende de um parecer favorável do governador Tarso Genro. Ontem à tarde, uma comissão representando os índios foi à Capital para tratar da questão.
Aulas suspensas
Com o bloqueio da rodovia, a Secretaria Municipal de Educação de Mato Castelhano decidiu suspender as aulas no município. Na segunda-feira, a medida atingiu estudantes do turno da tarde. Ontem, as duas escolas municipais, com aproximadamente 155 alunos, e uma estadual, permaneceram fechadas durante todo o dia.
“Além da BR, estradas secundárias de acesso à rodovia também foram bloqueadas impedindo a passagem dos veículos escolares. Decidimos suspender as aulas por medida de segurança. Temos alunos filhos de agricultores e também de índios, nos 7º, 8º e 9º anos. Eles sofrem pressão psicológica e estão em situação de confronto, por isso é melhor não expor esses alunos” explicou a titular da pasta, secretária, Elenita Terezinha Novello Grando. Segundo ela, um ofício explicando os motivos da decisão será encaminhado ao Ministério Público e também para a 7ª Coordenadoria Regional de Educação. A secretária garantiu que as aulas serão recuperadas sem prejuízos ao calendário escolar. A suspensão será mantida enquanto a rodovia permanecer bloqueada.