A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) e Emater/RS-Ascar, em parceria com a prefeitura de Machadinho, realizaram na sexta-feira (25), um seminário sobre sucessão familiar. Segundo dados de uma pesquisa feita no município, 55% dos estabelecimentos rurais com base na agricultura de economia familiar não terão sucessores em curto e médio espaço de tempo se nada for feito em prol da sucessão.
O evento teve como objetivos buscar alternativas e soluções para o esvaziamento das propriedades rurais familiares. Entre as causas para o êxodo dos jovens do campo, estão a quase inexistência de políticas públicas voltadas a este público, bem como a dificuldade por parte dos pais destes jovens rurais em transferir capital e poder a seus filhos.
O titular da SDR, Ivar Pavan, disse aos jovens que somos ensinados, ao longo do tempo, que "nós agricultores somos menos importantes que os outros. Ser agricultor, hoje, é mais importante que muitas outras atividades. Nós temos que nos convencer de que ser um agricultor é ser um cidadão igual aos demais", enfatizou Pavan. Ele afirmou que esse é um dos mais importantes debates que os jovens rurais precisam ajudar a fazer.
"Tenho a convicção de que os jovens só vão ficar na roça se tiverem motivação e não porque o governo quer ou porque os pais querem. Vão ficar se perceberem que lá podem fazer um projeto para o futuro", disse o secretário. Pavan fez um comparativo entre a vida dos jovens no meio urbano e rural, mostrando que a vida dos jovens na cidade não é tão fácil como aparenta, dando como exemplos as dificuldades de locomoção, os altos custos de vida e a baixa qualidade de vida. "Em muito pouco tempo, os jovens urbanos terão inveja dos jovens rurais pelo modo de vida que vai se construir no campo", concluiu.
O presidente da Emater/RS, Lino De David, falou sobre as mudanças de visão sobre o meio rural e os desafios da sucessão familiar. Sobre os fatores que dificultam o processo da sucessão, De David citou os empregos na cidade, os projetos de urbanização, a falta de estímulo por parte dos pais, a insegurança dos pais em transferir a propriedade aos filhos e a busca dos jovens por independência financeira, preferindo ganhar baixos salários na cidade a ficar na propriedade, quando muitas vezes não recebem remuneração pelo trabalho desenvolvido.
De David também frisou as mudanças que vêm acontecendo no campo. "O agricultor familiar do futuro não será como o atual ou o do passado. A agricultura será extremamente moderna do ponto de vista tecnológico, baseada na mecanização, diminuindo a penosidade do trabalho agrícola. Não devemos ter vergonha de discutir isso, para que os órgãos de pesquisa e indústrias invistam em máquinas e equipamentos que diminuam esse trabalho penoso do meio rural", avaliou, parabenizando o evento pela escolha e discussão do tema da sucessão.
Na avaliação do gerente regional adjunto da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo, Jorge Buffon, o assunto é pertinente e urgente. "Para nós da Emater, é fundamental tratarmos desse assunto e aprofundarmos este tema. Estamos preocupados e engajados nessa causa", salientou.
Experiência
Alguns jovens apresentaram suas experiências. A estudante Natiele Debona contou que mora com os pais, e as principais atividades da família são a criação de gado de corte e a produção de leite. "Eu amo tirar leite e gosto muito do que eu faço lá. Eu pretendo continuar lá e não ter patrão. Passeio a hora que eu quero, tiro leite se eu quiser, se não quiser não tiro", disse Natiele.
Paloma Tessaro, que vive em uma propriedade de dois hectares com os pais, também deu seu depoimento. "Primeiro eu queria ser veterinária e ir para cidade grande, era o que eu pensava para mim. Agora eu trabalho com produtos hidropônicos com minha família e é muito bom trabalhar em família, porque a gente se ajuda. Eu recebo meu salário, mas não cobro, o que eu faço é com amor. Vou sentir saudades porque vou sair para fazer faculdade de Agronomia, mas vou voltar para cuidar com todo amor, como meus pais cuidam daquilo que é nosso", disse Paloma. Na propriedade, ela e a família produzem morango, alface, rúcula, agrião, brócolis, beterraba, entre outros produtos.