A festividade prevista para esta semana em comemoração aos 26 anos do município de Faxinalzinho, já está suspensa. Após ter decretado estado de calamidade pública em razão das mortes de dois agricultores por índios caingangues, o prefeito da cidade, Selso Pelin cancelou toda a programação de aniversário da cidade.
“Não há clima para festa. Os artistas já estavam contratados, teremos de pagar R$ 20 mil de multa pela rescisão dos contratos. A situação está muito tensa, não podemos correr riscos” avaliou o chefe do executivo. Um sentimento traduzido em faixas expostas sobre canteiros e praça central. “Faxinalzinho em luto” diz uma delas. Nas rodas de conversas o assunto é um só: o pesadelo dos agricultores em perder as terras para os índios.
A situação se agravou ainda mais a partir de quarta-feira à tarde, depois que os caingangues voltaram a bloquear o principal acesso da cidade. Há três dias, o município está sem transporte coletivo intermunicipal. Para se deslocar de uma cidade a outra, somente com veículo próprio ou de carona. A aposentada Maria Ilena Dapper, 63 anos, aguarda uma solução para poder visitar o filho e pagar as contas na cidade vizinha de Nonoai. Uma das primeiras moradoras do local, ela alega desconhecer a presença de índios no território em disputa. “Quando vim para cá havia umas três casas apenas. Os índios chegaram muito tempo depois” afirma.
O bloqueio da estrada já provoca prejuízos em todo o comércio da cidade. Sem o principal acesso, motoristas se recusam a enfrentar as péssimas condições de uma via alternativa e evitam entregas em Faxinalzinho.
Proprietário de uma oficina mecânica, Flori Fortuna, 51 anos, disse que a movimentação de clientes reduziu cerca de 80%. “Tenho dois sobrinhos que trabalham comigo. Eles estão saindo às 15h30min, para chegarem no horário da faculdade em Erechim. Com a estrada bloqueada, são obrigados a fazer outro roteiro que aumenta em 50 quilômetros a distância. Precisam sair mais cedo” comenta.
Dono de uma área de 11,5 hectares, o agricultor Mario Zortea, 57 anos, já está sem estoque de ração para alimentar 12 mil pintos. Se o alimento não chegar nos próximos dias, o prejuízo será inevitável. O agricultor teve a área incluída no processo de demarcação e corre o risco de perder a terra. “Recebi esta propriedade de meu pai, que pagou com muito sacrifício. Moro a vida toda aqui, vou fazer o que se sair?” questiona.
Para evitar novas situações de confronto, as aulas nas redes estadual e municipal estão suspensas desde a semana passada. A expectativa, segundo o prefeito, é de que sejam retomadas a partir da próxima terça-feira. Enquanto isto, a estudante Aline Fátima Trindade, 14 anos, procura preencher o tempo ajudando a mãe nos serviços domésticos. Aluna do oitavo ano, ela teme pela perda do ano letivo em razão do conflito. “Tá muito difícil, estamos terminando o ensino fundamental, não podemos parar agora” comenta. Além das atividades curriculares no turno da tarde, ela participa de projetos como o Mais Educação, pela manhã. “Passo o dia todo lá, estou sentindo muita falta” lamenta.
No início desta semana, o prefeito Selso Pelin vai a Brasília participar da marcha dos prefeitos. No encontro, pretende incluir na pauta a disputa de terras na região. Segundo ele, a área pleiteada pelos índios vai atingir cerca de 170 famílias.
Cidade sente efeitos provocados pelo bloqueio da estrada
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