Pausa para a leitura!

Cerca de 700 alunos das escolas municipais de Pontão param, todos os dias, por 60 minutos, para ler

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Horário de leitura é sagrado nas escolas municipais de PontãoHorário de leitura é sagrado nas escolas municipais de Pontão
Horário de leitura é sagrado nas escolas municipais de Pontão
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Uma professora atravessa o corredor externo e entra na sala de aula carregando uma caixa de livros. É a senha de que nos próximos 60 minutos, a leitura terá exclusividade entres os alunos da 6ª série da escola municipal Alberto Torres 2. A mesma cena se repete diariamente nos educandários das redes municipal e estadual, desde o ano passado, quando o município de Pontão decidiu colocar em prática o projeto “Construindo o conhecimento através da leitura”.

Desde então, os cerca de 700 alunos, incluindo ensino fundamental e médio, paralisam as atividades curriculares para dedicar uma hora de leitura em sala de aula. O desafio foi lançando pelo reitor da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS), Jaime Giolo, e desenvolvido pela prefeitura da cidade.

Com acompanhamento e assessoria da UFFS, os professores recebem um treinamento no início do ano. Para dar conta da demanda, a meta é que cada aluno leia pelo menos 50 obras durante o ano letivo, a prefeitura investe recursos próprios e recebe novos títulos através da parceria do Mais Educação, do governo federal. “É uma das cidades da região que mais investe em livro” afirma um vendedor de livros que visitava a escola durante a reportagem.

Secretária de educação, Vera Lucia Varelo explica que em 2014, a pausa para leitura ocorria sempre na primeira hora da aula, simultaneamente nas quatro escolas municipais e nas duas estaduais, que aderiram ao projeto, mas para conciliar com horários dos professores, precisou ser alterado. “Agora cada turma tem o seu momento de leitura durante a aula, mas nenhuma delas deixa de cumprir a meta” diz. 

Avanços no Ideb
Apesar de ser um projeto de médio e longo prazo, os resultados já começam a aparecer. Nos aspectos que podem  ser medidos em números, Vera cita o crescimento do município de 4.3 para 5.6, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A avaliação leva em consideração o fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. A titular da pasta  destaca também a redução de 12% para 4% no índice de reprovação nas escolas da rede municipal. Avanços atribuídos à leitura. “O projeto está apenas no segundo ano de execução, mas não temos dúvidas de que já vem tendo reflexo no desempenho dos alunos” avalia.

Na opinião de quem trabalha diariamente em sala de aula, a leitura também provoca mudanças visíveis. “Estão usando novas palavras nos textos, escrevendo e interpretando melhor. Também há uma mudança comportamental, deixando a timidez de lado e se comunicando melhor. Quem não tinha o hábito da leitura acaba se interessando por influência dos colegas” avalia a professora Maria  Emilia Moretti.

Para garantir a leitura completa do livro, cada aluno mantém um caderno de registro, contendo informações sobre a obra, data e a página em que parou. A lista de obras é ampla e variada, mas  coleção Diário de um banana, de Jeff Kinney, e a saga de Harry Porter, juntamente com os gibis,  estão entre os mais disputados nas caixas.

Diretora da Alberto Torres 2, Cerci Amaro Cavalheiro Lucas explica que os estudantes ainda têm a possibilidade de levar livros para casa. “Desde que não sejam os mesmos do projeto, porque aí perde o sentido da leitura em sala de aula” observa.

O gosto pelo desenho ganhou um colorido especial para o  estudante Gean da Silva Oliveira, 12 anos, depois que passou a participar do projeto. Aluno do 5º ano, ele diz que a leitura o ajuda a descobrir novas paisagens, lugares e pessoas. “Enquanto leio vou imaginando como seria o lugar, depois desenho. Agora, por exemplo, a personagem está em uma caverna procurando por uma profecia. Tenho um caderno onde costumo anotar também  que estou entendendo sobre as histórias”  revela.

Comunidade participa do processo de leitura
A intenção de possibilitar o ambiente de leitura em todos os níveis da formação do aluno vem sendo cumprida à risca em Pontão. Na escola de educação infantil Sementinha do Amanhã, personagens e cenários saíram das páginas e ganharam as paredes do educandário. Sentada sobre um tapete estendido no centro de uma das salas, cercada por dezenas de crianças, a professora Fabiana Nunes, 37 anos, trabalha a ‘Hora do Conto’ com os alunos. Utilizando-se de fantoches, pinturas e desenhos, ela vai provocando a imaginação dos pequenos, que não se contentam apenas em ouvir as histórias. “Eles passam a contar estas mesmas histórias da maneira deles, dando liberdade à imaginação. Recontam depois em casa para os pais, num processo de memorização” acrescenta.

O desafio de inserir a leitura no hábito das crianças, adolescentes e jovens da cidade, não é apenas dos professores e administradores. Diretora da Sementinha do Amanhã, Neusa Cavagnoli afirma que a participação ativa dos pais tem sido fundamental no processo. “A cada 15 dias, um pai ou familiar do aluno realiza a contação de história aqui na escola. A participação da comunidade é de 100%” afirma, apontando para uma das paredes do prédio decorada com bonecos e pinturas feitas pelos pais.

Responsável por atrair o interesse dos alunos do maternal, crianças com idade entre dois e quatro anos, a professora Sandra Souza não mede esforços e esbanja criatividade. “Estou confeccionando o Gato de Botas para eles com o material que retirei de um bichinho de pelúcia que tinha em casa” conta sorrindo.

Para o prefeito da cidade, Nelson José Grasselli (PT), retomar o hábito da leitura nas escolas é o principal motivo do projeto. Para o chefe do executivo, o conhecimento  adquirido através dos livros será decisivo na vida destes estudantes. “É um processo a médio e longo prazo, mas fará toda a diferença lá na frente. No mundo em que vivemos ler é fundamental” opina.

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