A crise vivenciada pelo Brasil e as reviravoltas que surgem a todo momento repercutem imediatamente no mercado internacional e cotação do dólar. O reflexo disso é imediato para as commodities cujos preços são cotados em dólar e a desvalorização do real torna o produto brasileiro financeiramente mais atrativo para compradores externos. Por outro lado, esses produtos tendem a encarecer no mercado interno já que há um aumento no volume de exportações. A análise é do consultor da New Agro Commodities João Pedro Corazza.
Corazza explica que a moeda norte-americana influencia diretamente nos preços praticados ao produtor. Além disso, o mercado exportador atua de forma mais atraente em períodos de safras, de fevereiro a maio, nos principais portos brasileiros garantindo uma boa liquidez de negócios. Ele observa que a volatilidade gerada pelas constantes novidades no cenário político nacional demonstra que o mercado financeiro não está de acordo com a política econômica praticada pelo atual governo. “O mercado tem por costume especular no boato e realizar seus lucros na concretização do fato. Soubemos que o momento econômico brasileiro é muito turbulento e não será de uma hora para outra que o país sairá da crise, valorizando novamente o real”, acrescenta destacando que a tendência é de continuidade da valorização do dólar, mas com patamares inferiores aos previstos no final do ano passado.
Estoques mundiais
No mercado da soja, os estoques mundiais estão em níveis recordes e a produção é crescente, tanto no Brasil quanto na Argentina. Corazza destaca ainda que o principal produtor mundial, os Estados Unidos, continua semeando áreas consideráveis e com perspectiva de boa produtividade. “Por outro lado, o consumo ainda é gigante. Isso tudo impossibilita de haver mudanças bruscas na cotação do bushel em Chicago. A relação produção x estoque x consumo atual, já parece estar precificada entre 8,5 e 9,5 dólares o bushel”, pondera. Outro fator favorável que de certa mantém o setor otimista é a crescente demanda mundial por alimentos o que fortalece a necessidade de produções cada vez maiores. “Esse é o principal motivo de tornar o agronegócio blindado frente a qualquer problema político enfrentado nas mais diversas nações do planeta. É o agronegócio quem alimenta o mundo”, reitera.
O mercado mundial da oleaginosa entra agora no período chamado mercado de clima norte-americano. O consultor explica que esse período costuma reservar emoções para os participantes da cadeia, uma vez que afetará diretamente na oferta do grão para o próximo ano comercial. “A alteração severa dos números só se dará caso aconteça uma catástrofe na próxima safra americana. É esperada uma La Niña, mas a princípio não de forma muito impactante”, antecipa.
Preços elevados
Os preços das principais commodities, entre elas, a soja, o milho, o petróleo e os minérios são dolarizados. Corazza analisa que as incertezas políticas, de certa forma, beneficiam as exportações em virtude da desvalorização do real. “Quanto maior for a turbulência na economia, maior será a volatilidade do câmbio. Exemplo prático é pensar que 1 milhão de dólares compra quase 4 milhões de reais em mercadorias no Brasil. As cotações estão atraentes no interior em virtude das exportações, tanto de soja a granel quanto de farelo e óleo. O preço do milho nunca esteve tão alto, motivado pelo quê? Pelo grande volume do produto que foi mandado a outros países”, detalha. A demanda internacional acaba por enxugar as ofertas internas fazendo com que na entressafra os preços tendam a se manter em alta, motivados pela demanda de indústrias locais.
Atenção do produtor
Neste cenário o consultor destaca que o produtor não deve ficar esperando acertar o olho da mosca. “A manutenção na atividade com garantia de boa lucratividade só se dará com vendas escalonadas, garantindo sempre bons números. Outra coisa que se deve ficar muito atento é a inflacionada nas cadeias produtoras e consumidoras finais. Com preços nas alturas, a demanda enfraquece, o consumo diminui e é escolhida outra matéria prima que possa substituir sua necessidade”, enfatiza. Além disso, o alerta é para que o preço fixado leve em conta o custo de produção. “Com ele na ponta do lápis, o retorno, com certeza estará garantido”, conclui.