Profissionalização da produção diminui perdas

Uso de ambientes protegidos como túneis e estufas fez com que danos das últimas geadas fossem menores do que o esperado. Maior problema está no brócolis, na alface e na batata cultivados em campo aberto

Por
· 3 min de leitura
Alface produzida em áreas à céu aberto tiveram perdas de até 40% devido a geada. Produções protegidas, no entanto, não registraram danosAlface produzida em áreas à céu aberto tiveram perdas de até 40% devido a geada. Produções protegidas, no entanto, não registraram danos
Alface produzida em áreas à céu aberto tiveram perdas de até 40% devido a geada. Produções protegidas, no entanto, não registraram danos
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

As perdas registradas nas produções de hortaliças neste início de inverno foram menores do que o esperado. A profissionalização dos produtores e a adoção de tecnologias de proteção de plantas fizeram os prejuízos despencarem mesmo com as condições severas de geadas registradas. Embora minimizadas, ainda foram registradas perdas principalmente em produções de brócolis, alface e batata que são cultivadas em áreas não protegidas. A adoção de tecnologias de proteção, no entanto, devem ser feitas sempre avaliando-se o custo e o benefício dos investimentos.
O engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo Ivan Guarienti explica que na região de abrangência do escritório são cultivados mais de 4 mil hectares de hortaliças. Deste total, a maior parte está destinada a produção de batata, cerca de 2,5 mil hectares. Esta é uma das culturas que teve perdas na safrinha em função das geadas. A estimativa é de que a produtividade tenha uma redução de aproximadamente 30%. Guarienti explica que a perda se deve ao menor tamanho das batatas colhidas, uma vez que ela é classificada e precificada conforme o tamanho. Isso se deve à menor área foliar das plantas que reduziu o crescimento do tubérculo.
Outros produtos que tiveram perdas maiores são brócolis e alface. No primeiro caso, as perdas variam entre 60% a 70% e foram causadas devido às geadas e ao ataque de bactérias. Guarienti destaca que é possível sentir o cheiro das plantas apodrecendo quando se passa próximo a uma propriedade que tenha esse cultivo em função do problema. A maior parte da produção é vendida para a indústria de congelamento. Na alface os danos são calculados entre 30% e 40%.

Mudança de realidade
Neste ano foram registradas muitas geadas de forte intensidade em dias seguidos. Isso poderia ter causado danos de maior extensão. No entanto, os produtores estão cada vez mais profissionalizados e adotam sistemas de proteção como túneis e estufas. Um dos reflexos positivos disso pode ser conferido nos preços praticados na Feira do Produtor que praticamente não tiveram alteração.“Eles começaram a se profissionalizar e isso tem dado um retorno muito bom. Capitalizando, entendendo e abraçando tecnologia a tendência é irmos para perdas próximas de zero no inverno”, observa Guarienti. Ele destaca que hoje as tecnologias estão mais acessíveis e avançam rapidamente.
Manter qualidade e produtividade
Um dos fatores que ainda não podem ser controlados durante o inverno diz respeito ao aumento da duração do ciclo das hortaliças. O menor número de horas de luz por dia faz com que elas desacelerem o crescimento. Com menos horas de sol, a planta cresce menos e demora mais até estar pronta para ser colhida. No entanto, com os cuidados adequados é possível manter a mesma qualidade para os produtos.
Algumas dicas do engenheiro agrônomo dizem respeito aos cuidados especialmente para aqueles dias com previsão de geada. Neles, deve-se evitar a irrigação das plantas como forma de minimizar os danos causados pelo congelamento. Quanto mais água houver na planta, maiores serão o congelamento e o dano. Além disso, o cuidado com as tubulações de irrigação nestes dias mais frios é fundamental. Antes de acionar os sistemas é necessário verificar se canos e mangueiras não estão congelados, o que pode causar danos.
Guarienti destaca que alguns agricultores estão usando aquecedores de aviários para diminuir perdas em produção. Ele avalia que a tecnologia funciona bem, mas o produtor deve avaliar a viabilidade econômica e o custo benefício. “Não basta ter uma tecnologia e não ter resultado. O agricultor deve ter muito claro o custo benefício da tecnologia porque elas requerem muitas vezes equipamentos caros”, orienta.

Novas tecnologias
Guarienti participou recentemente de uma feira de horticultura em São Paulo e destaca algumas novidades que deverão chegar aqui nos próximos anos. Entre elas a enxertia de tomates que possibilita o plantio no solo, já que são resistentes a doenças desta natureza. Além disso, há novos inseticidas e fungicidas microbiológicos que deverão contribuir para a ampliação da produção de orgânicos e de produtos de melhor qualidade. Outra inovação que deve chegar são sistemas de lavagem de hortaliças com água ionizada. “Quando se lava a hortaliça com a água ionizada se tira grande parte de fungos e bactérias e provavelmente boa parte dos inseticidas e fungicidas que estão agregados a parte externa. Logo, logo isso chega aqui”, observa Guarienti.

Gostou? Compartilhe