A Embrapa Trigo de Passo Fundo é referência nacional na realização de pesquisas em diversas áreas, especialmente visando à qualidade tecnológica e segurança alimentar. A inauguração recente das novas instalações do Laboratório de Pós-Colheita de Grãos terá influência em toda a cadeia produtiva especialmente do trigo e do milho. Com capacidade para realizar mais de 3,5 mil análises por ano, o novo laboratório ajudará a consolidar avanços importantes e necessário, especialmente na cadeia tritícola.
As exigências de qualidade tecnológica e fitossanitária dos alimentos têm aumentado significativamente nos últimos anos, especialmente por parte dos consumidores. Nesse contexto, a pesquisa tem papel fundamental para a obtenção de variedades que atendam aspectos exigidos pela indústria, e que resultam em melhores produtos. Além disso, com os avanços tecnológicos também é possível garantir o oferecimento de alimentos mais seguros aos consumidores.
Exigências de qualidade
O chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto, explica que há muitos anos a indústria moageira passou a comprar o trigo baseado nas características do grão visando diferentes produtos como pão, biscoito, massa, entre outros. Além disso, desde 2011 uma instrução normativa da Anvisa passou a estabelecer limites para a presença de micotoxinas em grãos visando garantir a segurança dos alimentos. “Estamos, juntamente com outras entidades, trabalhando fortemente nessa parte da qualidade sanitária do trigo, porque com essas exigências cada vez maiores do mercado temos que saber que trigo estamos produzindo e também ver o que está acontecendo e procurar amenizar e combater o que está errado para alcançar a excelência na qualidade”, explica Dotto.
Na Argentina, cada estação experimental do órgão de pesquisa estatal, que é similar à Embrapa, tem um laboratório de qualidade, enquanto no Brasil o único existente é o de Passo Fundo para atender todas as pesquisas desenvolvidas pela Empresa Brasileira em diferentes regiões.
Contaminantes
A garantia da segurança dos alimentos livres de contaminantes biológicos, físicos e químicos no momento do consumo humano ou animal, é questão central em todas as cadeias produtivas. Para trigo, a presença de contaminantes químicos como resíduos de agrotóxicos e micotoxinas é imperceptível visualmente no produto final, tornando-se um grande desafio para produção de alimentos seguros. “O alto custo para realizar análises de contaminantes em laboratórios terceirizados inviabilizava pesquisas mais abrangentes, com um maior número de amostras. Agora, com a estrutura do laboratório e profissionais qualificados dentro da Embrapa, vamos monitorar os níveis de micotoxinas em diferentes safras e regiões produtoras de trigo com resultados que servirão de base para estratégias regionalizadas de segregação e mitigação de impactos na contaminação dos alimentos”, explica a pesquisadora Casiane Tibola.
Falta de segregação ainda é problema
Um dos principais problemas enfrentados no Rio Grande do Sul ainda é a falta de segregação do trigo de acordo com as cultivares, ou conjuntos de cultivares, que tenham características e usos afins. A pesquisa tem feito o papel no desenvolvimento de trigos adequados a cada destinação. Mas isso não é suficiente. “A Câmara Setorial do Trigo, que engloba várias entidades, está trabalhando para que o produtor separe as variedades na hora de armazenar ou separe um grupo de variedades com mesma classificação tecnológica para se ter um produto com qualidade”, alerta Dotto lembrando que hoje, o trigo gaúcho é tido como sem qualidade porque se mistura variedades sem características similares. Recentemente, a Câmara Setorial do Trigo divulgou nota técnica na qual orienta produtores e armazenadores a como proceder a segregação por grupos de cultivares com características semelhantes.
Dotto explica que o novo laboratório terá reflexos em toda a cadeia produtiva do trigo, até chegar ao consumidor que é o elo final. Com o aumento da capacidade, o Laboratório de Pós-Colheita de Grãos terá capacidade de realizar mais de 3 mil análises de qualidade tecnológica e mais de 500 análises na parte fitossanitária. Além disso, no futuro, estima-se que o laboratório tenha capacidade para realizar análises para o setor produtivo.