Julho e outubro são, até então, os únicos meses de 2016 que registram chuvas acima do esperado. Entre a tarde da última segunda-feira (17) e a tarde de ontem, o observatório meteorológico da Embrapa Trigo contabilizou 78mm de chuva em Passo Fundo. A média esperada seria de 153mm até o final do mês, mas em 18 dias o número já fecha em 165mm. Destes, 61mm decorrem da chuva de segunda-feira, que veio acompanhada de temporal na região, com rajadas de vento de até 101km/h, causando destelhamentos, quedas de árvores e ruas alagadas.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Passo Fundo, cerca de seis chamados foram atendidos para realizar a remoção de árvores, 30 pessoas foram até eles para receber lonas e estima-se que 40 casas tenham sido atingidas. Os bairros mais atingidos foram: Valinhos, São José, Zacchia, Victor Issler e São Cristóvão. Embora a chuva continue e a previsão de temporal se estenda até a noite de hoje, na tarde de ontem não foram registros danos semelhantes causados pelas condições climáticas.
Outro problema, trazido pela concentração de chuva, é o alagamento em ruas não asfaltadas. Residente do bairro Santa Marta, Luã Eberhardt queixa-se que quando a precipitação vem em volume mais intenso, o mesmo problema insiste em ocorrer, atingindo quase três quadras do bairro: valetas se abrem e a água acumulada na rua escorre até as residências. “Nós mesmos, que moramos nessa rua, precisamos nos reunir pra tapar as valetas. Uns vizinhos já foram até a Prefeitura, mais de uma vez, pra pedir alguma solução, mas eles sempre dizem que farão depois de um mês ou no próximo semestre, e até agora nada”.
No bairro Valinhos, o mais afetado no município, até a tarde de terça-feira a maioria das casas danificadas pelo temporal permanecia coberta com lonas. A residência do aposentado Aquiles Gardino teve oito folhas de telhas arrancadas com a força do vento. Ele mora com a esposa, que também já é idosa, e explica que quem tem mais condições já consertou a própria casa. A dele, no entanto, ainda não pôde ser reparada. “Na segunda nós ligamos para os Bombeiros e eles disseram que davam lonas, mas como duas pessoas velhas vão conseguir subir na casa pra arrumar? Precisei pedir pro meu filho, aí ele colocou um pedaço de lona e hoje ele saiu tentar arrumar umas telhas pra gente. O problema é que contra a natureza a gente não tem o que fazer. Quem é que sabe o que vai acontecer?”.
O observador meteorológico da Embrapa Trigo, Ivegdonei Sampaio, comenta que a força do temporal foi muito localizada, caso contrário os estragos poderiam ser ainda maiores. “Grande parte da força ficou fora do perímetro urbano. Se tivesse se dirigido aos bairros, como se dirigiu aqui na Embrapa, no bairro São José, onde é mais afastado, com certeza o número de famílias atingidas seria maior. Aqui retorceu ferros, estourou vidros de janelas, derrubou árvores, deixou a gente sem luz, sem telefone e sem internet”. Ele salienta que a preocupação ainda não foi erradicada nesta semana. Há riscos de temporal até a noite de hoje e a previsão indica trégua da chuva somente na quinta-feira.
Rio Grande do Sul
A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Rio Grande do Sul estima que 45 municípios e mais de 1300 residências tenham sido atingidas pela ventania, chuva forte ou queda de granizo em todo o estado. A situação segue sendo monitorada pelas equipes e, através de site e redes sociais, avisos para áreas de riscos são emitidos em tempo real. A informação é de que todas as regiões do Rio Grande do Sul foram atingidas e registraram pelo menos algum tipo de dano em decorrência do evento climático, que atua desde o último fim de semana.
Até a tarde de ontem, entre todos os municípios atingidos, 149 famílias estavam desalojadas e 104 desabrigadas. A continuidade na elevação dos níveis dos rios, conforme informações dos meteorologistas da Sala de Situação, combinada com a precipitação até o final de quarta-feira, indica a possibilidade de que estes números aumentem. Em nota publicada no site, a Defesa Civil diz que, “Neste momento a prioridade é dar assistência às comunidades atingidas. Por isso, as equipes regionais estão nos municípios atingidos a fim de prestar todo auxílio necessário. O processo de Situação de Emergência é uma etapa posterior a de socorro, mas os coordenadores já emitem laudos e realizam levantamentos junto das coordenadorias municipais de Defesa Civil”.