Os produtores de trigo passaram por diferentes momentos de apreensão no decorrer desta safra na região. Estiagem, chuvas fortes e consecutivas e queda de granizo em pontos isolados foram alguns deles. O temor era de que estas condições pudessem afetar a produtividade e, principalmente, a qualidade do grão retirado do campo. No entanto, não é o que tem se observado. Altos rendimentos e produto com boa qualidade têm deixado os agricultores otimistas, apesar dos baixos preços praticados pelo mercado neste período. Os dados são da Emater Regional de Passo Fundo.
O engenheiro agrônomo Cláudio Dóro explica que em toda a região atendida pela Emater Regional, no total de 40 municípios, foram cultivados mais de 59 mil hectares de trigo. A área é 13% inferior em relação à cultivada no ano passado. A aposta dos produtores pelo grão se deu em função das perspectivas de clima favorável, principalmente pela previsão de ocorrência do fenômeno La Niña, caracterizado por chuvas e temperaturas abaixo da média. Apesar de alguns períodos com grandes volumes de chuva, as temperaturas mais baixas se confirmaram. Nos dois últimos anos a região teve grandes frustrações de safra, principalmente causadas por geadas e excesso de chuvas.
Dóro explica que mesmo as lavouras que tiveram problemas maiores com quedas de granizo pontuais e acamamento estão com bons rendimentos, entre 35 e 40 sacas por hectare. “Lavouras normais estão colhendo até 80 sacos por hectare, mas a média está em 55 sacos por hectare, ou seja 3.300 quilos por ha. E a qualidade do produto que está chegando nos armazéns é muito boa. O Ph está entre 76 até 82 e se concentra acima de 78 e estamos comemorando uma safra muito boa dentro daquela expectativa inicial”, pontua.
Clima, tecnologia e preço
Dois fatores se aliaram para que a safra obtivesse esse sucesso. O primeiro deles é o clima, apesar de alguns momentos menos favoráveis. O segundo é o fator tecnológico empregado pelos triticultores, aliado à experiência no cultivo, que foi fundamental para manter as lavouras saudáveis. Mesmo com o otimismo pelos resultados, os produtores estão preocupados com o mercado do cereal. Hoje, a média de cotação da saca de 60 quilos no balcão está em R$ 30. Nesse patamar, para que o produtor consiga cobrir os custos de produção ele precisa colher 50 sacas por hectare. A margem de lucro é considerada muito baixa por Dóro, principalmente levando-se em consideração todos os riscos envolvidos na produção do grão.
Analisando-se o mercado, no curto prazo não há perspectivas de aumento nos preços. Isso porque o Paraná já colheu e está colocando trigo no mercado e em breve o trigo argentino também estará competindo. “Não vemos um sinal verde para melhorar o preço. Para quem está capitalizado e tem condições de segurar o trigo, este não é o momento de vender. Na colheita há pressão de oferta e queda de preço. A tendência é deixar para vender entre abril e maio que tem pouco trigo no mercado”, sugere o agrônomo. Por outro lado, quem não puder segurar a produção terá de se submeter aos preços praticados neste período. Dóro destaca que o governo está acenando com a possibilidade de fazer compras via PEP, Pepro e AGF. No entanto, isso poderá apenas estancar a queda nos preços.
Colheita
O clima tem sido favorável para o andamento da colheita na região. A orientação é para que os produtores não utilizem produtos para dissecar as áreas plantadas como método de acelerar ou uniformizar a maturação. Dóro explica que o uso de químicos com essa função podem deixar residuais no grão que irão, consequentemente, para a farinha e poderão contaminar os consumidores. Além disso, amostras da produção estão sendo colhidas e o produtor poderá sofrer alguma penalidade caso identificado o uso inadequado de produtos desta natureza.