A cadeia produtiva do leite tem vivido uma situação delicada no Estado. A queda nos preços pagos ao produtor tem sido acentuada devido a entrada de produto importado, aliada pelo período de verão, no qual tradicionalmente os valores têm uma queda em função da maior oferta. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) está preocupada com a situação e busca formas de recuperar este setor produtivo que tem sido abandonado pelos agricultores.
Conforme o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, o produtor de leite vem sofrendo com a desvalorização do produto e a falta de segurança no mercado há cerca três anos. No entanto, neste ano a situação desfavorável se acentuou em função, principalmente, das importações do produto de países como Argentina e Uruguai. “Todo esse leite que vem de fora é produzido com um custo bem menor que o nosso, a tributação é bem menor, e acaba sendo uma concorrência desleal, porque entra aqui sem um real de imposto. Essas questões têm de ser revistas imediatamente para proteger a industria e o produtor daqui”, ressalta. Os reflexos já são sentidos e, de acordo com Silva, do ano passado pra cá houve uma redução de 18% de produtores envolvidos na atividade. A redução do rebanho também foi identificada em função da crise.
Silva explica que houve um momento de alta nos preços do produto no qual os produtores, motivados por boas perspectivas, investiram na atividade com qualificação e melhoria das instalações e compra de equipamentos. Agora, com a queda, muitos enfrentam dificuldades para pagar os financiamentos feitos. “Hoje tem produtor ganhando R$ 0,80 pelo litro do leite. Se seguirmos nesse ritmo vamos acabar quebrando a cadeia produtiva no Estado”, alerta.
Ação imediata
O presidente da Federação destaca que para reverter esse quadro, que tende a se agravar, é necessária a adoção de uma série de ações a curto, médio e longo prazos. A primeira delas, defende Silva, é a alteração do sistema de pagamento do leite aos produtores. “O leite é o único produto que o produtor produz sem saber o que vai ganhar. Ele entrega todo o leite e vai saber no dia 15 do outro mês o que ele vai receber pelo que foi entregue. Ele precisa ter uma segurança maior nisso”, acrescenta.
Outra necessidade é o investimenro constante na melhoria da qualidade do leite produzido para que o produto possa ser valorizado pela qualidade e não pela quantidade. A taxação de leite importando e o controle das importações com criação de cotas a fim de proteger a produção nacional também são medidas necessárias. Da mesma forma, a Fetag defende uma atuação mais estratégica da Conab para melhorar a rentabilidade do produto e também para abertura de novos mercados. Além disso, a criação do preço mínimo por estado é urgente.
Na região
Conforme o agrônomo e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar de Passo Fundo, Vilmar Leitzke, há uma oscilação da produção entre 27% e 30% entre os períodos de menor e maior produtividade de leite no Estado. Nesse período de verão, a maior oferta de pasto contribui para o aumento na produção o que reflete no preço que tende a cair. Observando o comportamento das últimas semanas, ele pontua que ainda deve ocorrer uma pequena retração no valor, mas que tende a se manter dentro do patamar atual neste período. A incerteza maior é relacionada à entrada de leite importado e os reflexos que isso terá no valor do produto interno.
Apesar de não haver um dado oficial, Leitzke explica que em contato com produtores e assistentes técnicos já é possível identificar que alguns agricultores estão abandonando a produção de leite. Os motivos são variados, entre eles produtores que se aposentaram ou que estão mudando para atividades mais rentáveis.