As estimativas de produção de grãos para 2016/17 apontam para uma safra entre 208,1 e 226,5 milhões de toneladas, numa área plantada entre 58,1 e 60,9 milhões de hectares. Essa área deve aumentar 12,7% nos próximos 10 anos, passando para 65,6 milhões de hectares. Os dados são do Ministério da Agricultura e demonstram que a produção vem aumentando a cada ano em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, não é diferente: o estado tem boa parte de sua economia baseada no setor agrícola. Diante de toda essa área a ser plantada a cada safra, o que desafia os produtores é buscar práticas eficazes, evitando os constantes problemas enfrentados.
O sistema de plantio direto é utilizado em grande parte da área plantada no estado e se caracteriza por ser uma prática eficiente – diferentemente do plantio convencional que se fazia antigamente. No entanto, o plantio de forma direta atua especialmente para minimizar as perdas de solo, mas precisa de práticas complementares que auxiliam na redução das perdas hídricas, igualmente importantes. Uma dessas práticas é o plantio em nível.
Para minimizar esses problemas e auxiliar o agricultor na hora do plantio, pesquisadores da Universidade de Passo Fundo (UPF) desenvolveram um dispositivo que é acoplado ao trator e que orienta o operador a seguir em nível durante a semeadura. De acordo com o professor Vilson Antônio Klein, um dos idealizadores do equipamento, essa é uma ideia antiga que se concretizou com um equipamento simples e eficiente, o qual está sendo apresentado pela primeira vez ao público durante a Expodireto 2017, que acontece de 6 a 10 de março, em Não-Me-Toque. O lançamento tecnológico será realizado na quarta-feira, dia 8 de março, no estande da UPF na feira, porém, o dispositivo está disponível para visualização dos produtores durante todo o evento.
Os problemas e a solução
Conforme o professor, é cada vez mais comum a ocorrência de grandes enxurradas e, como consequência, da perda de um volume considerável de água nas lavouras. “Efetivamente, nossos solos já estão com problemas de infiltração, sobra água que sai da lavoura e arrasta nutrientes e pesticidas, acarretando problemas de poluição ambiental e perda financeira ao agricultor”, constata ele, evidenciando que o plantio em nível é uma das práticas reconhecidamente eficazes para fazer a água infiltrar no solo. “Na semeadura direta, cada sulco deixado acaba sendo anteparo para o escoamento da água, ou seja, são vários pequenos sulcos que vão facilitar a infiltração”, explica.
O grande problema, segundo Klein, é como o operador da máquina pode saber que está se deslocando em nível na lavoura. “Existem equipamentos bastante sofisticados, com GPS e com custo elevadíssimo, que possibilitariam fazer esse controle”, salienta o docente, ressaltando, no entanto, que nem todos os produtores podem investir valores altos em equipamentos como esses e, nesse sentido, foi desenvolvido o dispositivo. “É um equipamento simples, colocado em cima do trator, que, por meio de sinais luminosos, vai indicar ao operador o caminho, para que conduza o trator em nível na lavoura”, explica, informando ainda que se trata de um equipamento barato que pode ser disponibilizado para todos os agricultores.
A tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores, agrônomos e engenheiros eletrônicos, em parceria com a empresa Inelca - Indústria Eletrônica Ltda, incubada no Parque Científico e Tecnológico da UPF (UPF Parque). Conforme o professor, o dispositivo autônomo possui uma placa com um inclinômetro, que indica a posição da máquina. “Se a frente do trator está em um nível mais baixo, vai mandar subir. É algo simples, é autônomo e não depende de sinal nem de GPS”, destaca, salientando que haverá licenciamento para uma empresa fabricar e, em breve, o produto estará disponível. O equipamento já teve patente depositada em cotitularidade da Fundação Universidade de Passo Fundo e da Inelca.