98% dos produtores de trigo recorrem ao Proagro

Problemas com produtividade e qualidade prejudicam comercialização do trigo. Produtores buscam seguro para diminuir perdas financeiras

Por
· 3 min de leitura
Colheita do trigo se encerra nos próximos dias com produtividade e qualidade variadasColheita do trigo se encerra nos próximos dias com produtividade e qualidade variadas
Colheita do trigo se encerra nos próximos dias com produtividade e qualidade variadas
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Na reta final da colheita, os produtores de trigo não têm muitos motivos a comemorar. A safra 2017 foi frustrada, tanto em produtividade, quanto em qualidade. Com isso, a Emater Regional de Passo Fundo estima que 98% dos agricultores estejam recorrendo ao Proagro a fim de minimizar perdas. O motivo principal é o clima, que prejudicou a cultura em momentos críticos do seu desenvolvimento.
Na região de Passo Fundo atendida pelo escritório regional da Emater, que envolve 42 municípios, foram cultivados cerca de 47 mil hectares de trigo neste ano. O engenheiro agrônomo Cláudio Dóro destaca que este total é quase 13% inferior ao que foi cultivado no ano passado. Com a proximidade do fim da colheita, o cenário não é nada otimista. “A produtividade é a mais variada possível. Vai de 20 até 60 sacos por hectare. Isso depende muito da época de plantio”, afirma. O trigo de melhor qualidade e produtividade é o plantado mais tardiamente e que é colhido por último.

Clima desfavorável
As áreas plantadas mais precocemente foram as mais prejudicadas pelas condições climáticas adversas. Dóro explica que a cultura sofreu desde o início. Logo após a implantação houve períodos de falta de chuva, no mês de julho. Após, em agosto, houve chuva normal, mas em setembro voltou a estiagem e em outubro houve excesso de chuva no enchimento de grãos, maturação e colheita. Além disso, houve perdas causadas pela geada. “A condição climática não foi nada agradável às culturas de inverno. A produtividade é bem variada. Devemos fechar com média de 2 mil quilos por hectare na região. A qualidade é preocupante”, avalia Dóro.
Do trigo colhido até o momento há variação de pH entre 66 até 78, mas em média está entre 72 e 73. “Hoje, o trigo com pH de 78 ou mais, consegue preço de R$ 32 por saca. Esse com pH 72 fica com valor de R$ 25 a R$ 26. Mas temos muito trigo com qualidade inferior a 70 que é trigo para ração e daí o preço cai para cerca de R$ 18 o saco. É uma safra frustrada por uma questão de produtividade, qualidade e o preço que está baixo”, argumenta o engenheiro agrônomo. Em 2013, neste mesmo período, o preço do trigo estava em R$ 42 a saca. Após quatro anos, o valor da saca está em R$ 32, aliado a uma safra frustrada.

Desestímulo
Esses fatores podem servir de desestímulo aos triticultores e representar nova diminuição de área no próximo ano. São poucos os produtores que tiveram boa colheita, com produtividades de 50 a 60 sacos por hectare. Mesmo para esses, há problemas devido ao preço. A Emater também é responsável pela realização de vistoria de pedidos de Proagro. Conforme Dóro, cerca de 98% dos produtores recorreram ao programa. “Ou a qualidade é ruim, ou a produtividade, ou o preço é muito baixo e não consegue pagar a conta”, justifica.
Dóro reforça que o produtor que conseguiu trigo de qualidade tem venda garantida, porque a oferta é pequena. Por outro lado, quem tem trigo de qualidade inferior tem problema com liquidez. “As cooperativas estão recebendo e depois vão ter que procurar mercado e pagar quando tiverem comprador. Essa é a dificuldade”, explica. Quando não tem qualidade, o preço cai e não tem estímulo para comprar. Grande parte deste trigo vai para ração e passa a competir com o milho.

Pressão do mercado internacional
O cerealista Emeri Tonial reforça que o trigo colhido mais tardiamente apresenta melhores produtividade e qualidade. Além disso, aqueles que apresentam pH acima de 75 têm garantido valores entre R$ 30 e R$ 32 a saca. Ele enfatiza, no entanto, que outro problema é causado pela pressão do mercado internacional como dos vizinhos Uruguai e Paraguai, mas também da Rússia que tem ampliado seu mercado de exportação. A competitividade com o mercado internacional prejudica os produtores gaúchos.
Tonial esclarece ainda que nem sempre o produtor que colheu mais tarde e tenha conseguido maiores produtividade e qualidade tem realmente uma conta positiva. Isso porque, as áreas tiradas mais tardiamente influenciam na implantação das lavouras de soja. Ele enfatiza que, tradicionalmente, quando a soja é plantada mais tarde, ela apresenta menor produtividade. No balanço, não seria uma troca interessante ao produtor.

Micotoxinas
Diversas entidades representantes da cadeira produtiva do trigo, em parceria com a Emater, estão realizando um levantamento para avaliar a qualidade do trigo e a presença de micotoxinas, aflatoxinas e de resíduos de agrotóxicos. A partir disso, será feito um mapeamento que indicará as áreas com trigo de melhor qualidade e poderá auxiliar os compradores.

Gostou? Compartilhe