O menino de 12 anos, encontrado morto na segunda-feira (1º) em Ipiranga do Sul, não foi vítima de ataque de cobra. O Instituto Geral de Perícias (IGP) informou, por meio de nota, na tarde de ontem (2), que a causa da morte de Guilherme da Silva Andrade foi asfixia mecânica por afogamento. De acordo com o Laudo de Necropsia, foram encontrados sinais internos de asfixia, além de sinais específicos de afogamento.
Segundo o IGP, os membros não apresentavam fraturas ou quaisquer outras particularidades. Por fim, foi coletado um fragmento de pulmão para pesquisa de plâncton, exame confirmatório de afogamento.
O corpo do menino foi encontrado no fim da manhã de segunda-feira (1º) por familiares e amigos, na localidade de Butiá Grande, em Ipiranga do Sul. Conforme testemunhas, no fim da tarde de domingo, ele se banhava em no Rio Teixeira, junto do irmão, de 15 anos, quando aconteceu o afogamento. Um adulto que estava nas proximidades conseguiu resgatar o irmão, mas Guilherme foi para o fundo do rio.
Os familiares afirmavam que eles teriam sido atacados por uma cobra de grande porte, uma sucuri. Guilherme residia em Passo Fundo e havia ido passear com a família em Ipiranga do Sul. Após o acidente, o Corpo de Bombeiros foi acionado e realizou buscas no local, mas sem sucesso. Equipes de mergulho, da PATRAM da Brigada Militar, e Cães de do 7ºBBM, foram acionados para buscas coordenadas e em conjunto que seriam realizadas na segunda-feira (1º), porém o corpo foi localizado antes.
As investigações sobre a morte de Guilherme estão sendo realizadas pela Delegacia de Polícia de Sertão, sob comando do delegado titular da 6ª Delegacia Regional da Polícia Civil, Adroaldo Schenkel.
Bombeiros buscam suposto réptil
Os bombeiros divulgaram nota oficial informando que seguem as buscas na região para localizar a suposta cobra. “Informações dão conta de que havia um morador que trouxe da região central do Brasil, há aproximadamente 20 anos, cobras; e que as criava em um açude que veio a se romper, levando os animais ao Rio Teixeira. Pela devida precaução que se exige, orienta-se que não se transite no local (próximo ao rio) até que o fato seja devidamente esclarecido, por grave risco à vida que esse tipo de animal pode causar”, dizia a nota.
Possibilidade não é descartada, diz bióloga
A bióloga e responsável pelo Serpentário da Universidade de Passo Fundo (UPF) Simone Nunes trabalha no zoológico da instituição há 20 anos. Durante esse período, afirma que nunca chegou, à repartição, nenhuma jiboia ou sucuri que estivessem soltas na região. Não são animais endêmicos, mas não se descarta a possibilidade de ter serpentes nos rios locais. “A possibilidade de alguém trazer e depois largar (na natureza) ou o animal fugir existe porque, infelizmente, as pessoas usam esses animais como pets. A gente nunca recebeu aqui. Já recebemos, algumas vezes, informações (sobre supostas cobras) e quando fomos averiguar vimos que eram histórias fictícias”, ressalta.
Serpentes de grande porte podem sobreviver nestas condições climáticas, pois se tratam de animais resistentes. Conforme Simone, há casos registrados no RS de cobras de grande porte que foram encontradas em rios. Uma cobra sucuri, que foi a espécie relatada por testemunhas, vive em média 30 anos. Não é cobra venenosa, mas podem acontecer acidentes com humanos, segundo a bióloga.
Elas atacam para se alimentar, como todas as outras serpentes, ou em defesa quando se sentirem ameaçadas. Simone desmistifica que a cobra quebra os ossos da vítima. “Ela vai abocanhar, se enrolar no corpo da presa e matar por asfixia. Algumas serpentes da região se alimentam dessa maneira – como a falsa coral e a papa pinto –, elas se enrolam no corpo do camundongo – que é do que elas se alimentam – e matam. Ao contrário do que as pessoas pensam, elas não quebram ossos, elas matam a presa por asfixia. No caso de sucuri, como ela se alimenta dentro da água, a presa vai ser asfixiada e vai ter um afogamento porque ela vive no fundo do rio”, explica.
Contrabando de animais silvestres
O presidente do Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (Gesp), Paulo Cornélio, lamenta a falta do escritório regional do Ibama em Passo Fundo nestes momentos. A Base Avançada do Ibama encerrou as atividades na cidade no início de dezembro do ano passado. Com o fechamento das unidades, a fiscalização e captura de animais silvestres passou a ser realizada pelo Batalhão Ambiental da Brigada Militar.
Cornélio pontua que o contrabando de animais silvestres é um problema sério, uma vez que as pessoas capturam esses animais e quando eles crescem, acabam sendo soltos na natureza. Um exemplo disso é o filhote de jacaré que foi encontrado no lago do Parque da Gare, em maio do ano passado.
A bióloga condena a prática de trazer animais silvestres para a região. “É completamente inadequado para o animal. Embora algumas espécies possam se adaptar, não é o habitat natural delas. Certamente algum dano ou sofrimento terá para o animal. Jamais pode se ter animais silvestres como pets. Até porque existe uma legislação que impede que isso aconteça e caracteriza como crime ambiental”, enfatiza.