Com quase a totalidade das lavouras de soja em fase de enchimento de grãos, a falta de chuva tem preocupado os agricultores da região. Apesar do bom padrão apresentado pelas lavouras e da baixa pressão de pragas e doenças, a falta de água pode prejudicar o rendimento da cultura, caso a situação se prolongue pelos próximos dias. A soja está no limite da tolerância da falta de água. Até agora, no mês de fevereiro, o acumulado de chuva é de apenas 10mm, conforme registro da Estação Meteorológica da Embrapa Trigo/Inmet, enquanto a média para o mês é de 165mm.
Na fase de enchimento de grãos, a soja consome diariamente 4mm de água. O engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo, Cláudio Dóro, explica que o ideal seria que ocorressem chuvas semanais, ou que se tivesse um acumulado de, pelo menos, entre 130mm e 140mm. As chuvas dos últimos dias foram abrangentes, mas em quantidades desuniformes nos municípios da região. Enquanto alguns registraram até 100mm, outros tiveram menos de 20mm. Essa diferença no volume de chuva deixa as lavouras em situações diferentes. “Aqueles que pegaram 80mm a 100mm, ótimo, mas para os outros que pegaram 10 ou 15mm, é pouca chuva. Existe uma certa deficiência hídrica e que se acentua pelo estágio em que a soja se encontra. O padrão da lavoura ainda é bom, porque esse clima seco, com temperaturas noturnas frias, não favorece a instalação de pragas como lagartas e percevejos e de doenças, principalmente a ferrugem que está bastante controlada”, explica.
O bom padrão de sanidade das lavouras até o momento se deve, ainda, às aplicações preventivas de defensivos feitas pelos produtores. Além disso, a luminosidade a as temperaturas também são favoráveis. “Estamos com 12 horas de luz por dia e temperaturas diurnas entre 27ºC e 28ºC”, detalha. Por outro lado, a evapotranspiração é intensa pela parte da tarde e não existe a reposição ou estoque de água no solo que possa suprir a perda. “A soja está no limite, aguentando tudo que pode. O bom seria que tivéssemos boa chuva que restabeleceria todo potencial da planta para uma safra boa”, reitera. Mesmo com a falta de água, a planta não interrompe o ciclo de desenvolvimento, mas se faltar umidade, o potencial produtivo é diminuído.
Monitoramento
Dóro enfatiza que o momento é de monitoramento da lavoura, principalmente para a identificação antecipada de presença de lagartas, entre elas a helicoverpa armigera, e os percevejos que atacam as vagens. No caso das doenças, a presença de ferrugem e doenças de final de ciclo deve ser monitorada. “Pelo menos três vezes por semana o agricultor precisa fazer um X na lavoura e buscar assistência técnica quando necessário. Não se pode negligenciar”, aconselha. Ainda conforme Dóro, a estimativa de safra no Estado tem se mantido em um volume de aproximadamente 17 milhões de toneladas.
Reação nos preços
Nos últimos dias também houve uma reação nos preços da saca da soja no mercado internacional. Dóro explica que os preços pagos subiram para aproximadamente R$ 65 a saca – antes o valor estava em torno de R$ 61. Um dos motivos é a quebra de safra prospectada na Argentina causada em decorrência dos efeitos do fenômeno La Niña. A estimativa é de quebra de 50%. O fenômeno meteorológico atingiu o país vizinho, mas também o Rio Grande do Sul, principalmente nas áreas de fronteira, que também devem ter quebra de safra significativa, conforme explica Dóro. Outro fator que contribuiu para a elevação do preço da commodity foi a alteração do preço do petróleo. Com isso, o biodiesel se torna mais competitivo e, consequentemente, eleva o preço da soja – que é uma das matérias-primas.
Próximos dias
As chuvas do último final de semana foram causadas pela passagem de uma frente fria pelo Estado. No entanto, já no início da semana o céu voltou a ficar claro, e as temperaturas entraram em declínio, devido à presença de um ar de origem polar que avançou pela região sul do Brasil. Conforme boletim divulgado pelo governo do Estado, por meio do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), somente no final da semana e, principalmente, no começo da próxima semana é que há previsão de retorno das chuvas, devido ao avanço de uma nova frente fria.
A escassez de chuva no mês de fevereiro já havia sido apontada no prognóstico climático elaborado pelo 8º DISME/INMET e CPPMet/UFPEL e divulgado no final do mês de janeiro. Para os meses de março e abril o prognóstico indica que as precipitações devem ocorrer pouco abaixo do padrão nas áreas mais ao norte e próximas do padrão climatológico na maior parte do Estado.