Segundo a MetSul Meteorologia, o temporal com ventos de até 300km/h, que passou deixando estragos no norte do Rio Grande do Sul no início desta semana, pode ser classificado como um tornado de nível F3. Para o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, a associação ao termo deve-se às características da tempestade, que apresentou ventos fortes e violentos, com um centro de baixa pressão no interior do fenômeno, responsável pela sucção daquilo que se encontra na superfície por onde passa. “É um evento ciclônico pelo tipo de movimento dos ventos, com tempestades violentíssimas, pelas características dos danos causados e pela duração. Apesar dos grandes estragos, são ventos que, se classificados como tornados, que é ao que se assemelham, seriam fenômenos fracos para os padrões internacionais”, explica.
De acordo com o agrometeorologista, a causa foi, possivelmente, o encontro de duas massas de ar com propriedades físicas muito diferentes em termos de temperatura e umidade. Durante o episódio, a região se situou em um ponto de encontro entre a massa de ar quente e úmido vindo da região norte da Amazônia e a massa de ar frio e seco que se deslocava pelo Sul do Brasil. “Não são fenômenos raros para nós. Eles acontecem principalmente nas chamadas estações de transições, como o outono e a primavera. São as épocas mais propícias para a ocorrência desse tipo de evento”. Cunha esclarece ainda que estes fenômenos se diferenciam dos chamados furacões pela duração e abrangência: enquanto os furacões começam nos oceanos e se deslocam até atingir o continente, com um ciclo de vida entre cinco e sete dias e escala de abrangência de milhares de quilômetros, o que aconteceu no Estado foram tempestades que iniciaram e terminaram sobre o continente, duraram poucos minutos e tiveram escala espacial de pequena abrangência, embora bastante destrutivas.
Ainda segundo o especialista, é possível prever com antecedência este tipo de fenômeno, mas previsões mais precisas, com localização e horários específicos, dependem de uma boa cobertura por radares meteorológicos - o que ainda não existe em todas as regiões do país. “Mas tanto é possível de prever que os alertas das instituições já davam conta dessa possibilidade e deixavam em alerta todo o Sul do país sobre a possibilidade de tempestade violenta”. Sobre o retorno deste tipo de tempestade, Cunha garante que é algo pouco provável pelos próximos três ou quatro dias. “Como eu disse, isso ocorre com o encontro dessas massas de ar com grandes diferenças físicas. A partir do momento que uma das massas de ar se distancia, já não há mais essa probabilidade. Agora a massa de ar frio e seco está dominando todo o continente. Nos próximos dias, a tendência é que as temperaturas baixem bastante e haja ocorrência de geadas até este fim de semana em algumas regiões”, explana.