De um ponto alto na estrada de acesso ao município de Água Santa, tudo que se via, na manhã de ontem, eram madeiras espalhadas, postes caídos, pedaços de zinco retorcidos sobre máquinas agrícolas, árvores e vegetação arrancadas. "Parece uma cena de guerra' definiu o agricultor Elton Lorenzon, 49 anos, com os olhos marejados, enquanto observava os estragos provocados pelo tornado que atingiu a região norte do Estado, na madrugada de terça-feira.
Ontem, o dia foi de recomeço. Moradores das cidades atingidas aproveitaram a chegada do sol para iniciar o conserto dos estragos. Em Ciríaco, onde foi registrado a morte de uma pessoa, cerca de 300 moradores do bairro Planalto permaneciam sem abastecimento de água.
A propriedade de Lorenzon, na localidade de Faxinal, distante cerca de 4 quilômetros de Água Santa, foi uma das 10 áreas da região na rota do tornado. Era por volta da 1h, quando ele percebeu que o vento que batia na janela da casa vinha diferente. Assustado, junto com a esposa tentou buscar abrigo no porão, mas não teve tempo. "Só escutei um estouro. Me agarrei na parede", conta. O telhado inteiro da casa de alvenaria foi arrancado. Parte das paredes desabaram. A poucos metros dali, em outra casa, dormiam, o pai dele, de 80 anos, e o filho, um jovem de 17. Em poucos instantantes a residência foi transformada em uma pilha de escombros. "Meu filho apareceu em seguida, mas meu pai demorou, ficou preso entre algumas tábuas, mas felizmente conseguiu se salvar, apesar de alguns ferimentos", relata.
Além das duas casas, a força do vento destruiu um galpão onde ficavam as máquinas agrícolas, que foram atingidas pelos escombros. O armazém havia sido construído há quatro com recursos financiados por um prazo de 10 anos. O local onde estava instalada a leitaria, com uma produção média de 200 litros/dia, também não resistiu. "É uma vida inteira de trabalho perdida. Nasci nesse lugar. Ainda pela madrugada, quando dava os raios, eu já comecei a percer o tamanho dos estragos, mas é muito maior do que imaginei'.
Engenho Grande
O agricultor Tadeu Lorençon, 62, precisou de pelo menos duas patrolas para remover as cerca de 15 mil galinhas que morreram com o desabamento dos dois aviários em sua propriedade, na localidade de Engenho Grande, interior de Água Santa. O local foi um dos mais atingidos pelo tornado.
Além dos aviários, o vento destruiu cinco casas e o galpão das máquinas. Uma plantação, com cerca de mil pinheiros, ficou completamente devastada após a passagem do tornado. Dezenas de voluntários, a maioria moradores da região, passaram a quarta-feira auxiliando na reconstrução das casas.
Na momento do temporal, Tadeu, a esposa e filho, de 28 anos, se protegeram embaixo da escada no porão da casa. Apesar do susto, ninguém ficou ferido. Nos dois aviários havia aproximadamente 35 mil aves. A metade conseguiu sobreviver. Uma parte foi carregada pela empresa responsável e outra distribuída gratuitamente aos moradores da região. Somente em Água Santa outros 10 aviários foram totalmente ou parcialmente danificados. O prejuízo no município ultrapassa os R$ 10 milhões.
Ao observar a quantidade de pessoas trabalhando em sua propriedade, Tadeu, bastante emocionado, disparou. "O que segura a gente de pé são gestos como estes, de solidariedade. Um fato como este serve para pensarmos que não devemos colocar todas as nossas energias em cima do material. Devemos dar um passinho para trás e valorizar o que realmente tem valor. A sociedade coloca o material sempre na frente". Há dois anos, ele já havia sofrido prejuízos com uma chuva de granizo que atingiu a região. Á época, teve o telhado da casa e do galpão destrupidos pelas pedras.