“Dá um nervosismo só de lembrar”. O relato de uma das testemunhas sobre a ação de criminosos em ataque a duas agências bancárias resume o sentimento da população ibiraiense. Receosos, a maioria dos ouvidos pela reportagem preferiu não se identificar. Entre os depoimentos, a agressividade com os reféns é sempre mencionada. No interior do município, na comunidade de São Pio X, para onde os assaltantes fugiram, os moradores mantêm portas e janelas fechadas. Em alguns locais, há até arames nos portões para impedir a entrada de estranhos. Na Rua Antônio Stella, no centro da cidade, as agências do Banco do Brasil e do Banrisul, uma ao lado da outra, permaneceram isoladas durante todo o dia de ontem (4). Só houve operação comercial na lotérica da cidade, que fica ao outro lado da rua, a partir das 12h.
A ação da quadrilha foi perto desse horário, na segunda-feira (3). Eles chegaram em dois carros vermelhos por volta das 13h50. “Eu escutei uma freada na esquina. No início, pensei que tivesse sido acidente de trânsito. Depois, um Voyage vermelho veio em ‘zigue-zague’ e freou pela segunda vez, na frente das agências. Nesse momento, eles saíram todos encapuzados, armados”, afirma uma comerciária que presenciou o início do assalto. Quando percebeu o que estava acontecendo, a mulher fechou as portas do estabelecimento e correu para os fundos. Lá permaneceu durante pouco mais de 20 minutos, tempo que durou o ato dos criminosos.
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Antônio Moraes, 60 anos, que trabalha como vigilante desde 1987, presenciou a chegada da quadrilha de dentro da agência do Banco do Brasil. “Eles apontaram o fuzil para nós e disseram: nós vamos te matar senão liberar. O colega estava com o controle e liberou para eles entrarem pela porta giratória. Eles nos mandaram sair do banco e diziam: ‘não me olha, não me olha. Abaixa a cabeça’”, conta. Já na rua, o funcionário esteve no cordão humano. “Tinha um, provavelmente o que coordenava a ação, que dizia: fiquem calmos, não vai acontecer nada, a gente só quer o dinheiro”, relembra.
Porém, conforme os relatos, o comandante do assalto era o único calmo. Os demais estavam agitados e chegaram a jogar gasolina no gerente-geral de uma das agências, ameaçando atear fogo e explodir o prédio caso o cofre não fosse aberto, de acordo com Moraes. O episódio desta semana foi o segundo registrado nas agências, neste ano. Os moradores alegam que em maio, quando seis criminosos chegaram em uma Parati preta e invadiram os mesmos locais, não houve tanta violência por parte dos criminosos. “Eles estavam nervosos, como se estivesse encerrando o tempo deles”, relembra essa mesma testemunha.
Apesar da precisão com o tempo, a quadrilha acabou se excedendo, conforme o proprietário de uma sorveteria. Ele estava no estabelecimento quando o assalto começou. De acordo com ele, todos os envolvidos usavam roupa igual: farda camuflada e coturno. Lembra que passados alguns minutos do anúncio do roubo, um dos criminosos apontou uma arma na sua costela e fez sinal para que saísse dali. O homem se escondeu nos fundos do local, e a partir desse momento apenas escutou a ação.
“Eu acredito que a fatalidade veio pelo atraso dos meliantes ali. O coordenador (do assalto) gritava: sete minutos. Cinco minutos. Quatro minutos. Um minuto. Vamos embora, deu, deu. E aí os caras foram para a lotérica e passaram do tempo deles. Nesse meio tempo que eles estavam ali, já tinha o helicóptero da Brigada Militar girando”, narra o vigilante. “Eles gritavam: entra no carro que é pro seu bem, entra no carro senão você vai morrer. Vamos! Vamos!”, menciona a comerciária, sobre as vítimas que foram postas no porta-malas. A quadrilha usou o cordão humano e os reféns para facilitar na fuga. Eles saíram em direção ao interior do município, momento em que começou a perseguição da polícia militar.
Medo e elogio aos policiais
Uma comerciante das proximidades do assalto cogitou trocar de endereço. A agência lotérica, que foi alvo dos criminosos no primeiro semestre do ano, havia reforçado os vidros e a porta, o que frustrou a tentativa de assalto desta segunda-feira. Antônio Moraes, o vigilante, deve deixar o ofício. “Eu já tinha pedido para a empresa o meu afastamento, em função disso e porque já tenho 60 anos. Vou parar”, sintetiza.
Enquanto o pavor toma conta de alguns, o cerco da Brigada Militar, que acabou com seis suspeitos mortos e um preso, trouxe um sentimento de segurança para outros. “A ação da polícia, a morte deles, traz uma sensação de que isso não vai mais acontecer né”, reconhece o proprietário da sorveteria.