Violência é reflexo da incapacidade de dialogar, acredita professor

Para Cláudio Dalbosco, a filosofia ?EURoeé indispensável para as instituições, para a universidade e para a vida cidadã?EUR?

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“A violência é sintoma de uma humanidade incapaz de dialogar. Quanto mais nos desenvolvemos tecnicamente, mais incapazes nos tornamos para dialogar”. A reflexão é do professor de Filosofia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Cláudio A. Dalbosco. Para o docente, à medida que as pessoas se tornam mais abertas ao diálogo, elas tendem a buscar outras soluções para seus conflitos que não a agressão. 

 

Neste ponto, a reflexão filosófica se torna indispensável, conforme Dalbosco. “A filosofia, na sua origem, é um esforço de explicação racional das coisas. E nisso está o logos racional discursivo, que é a crença do filósofo de resolver os problemas que se colocam pelo viés do melhor argumento. Por isso é que a presença da filosofia nessa perspectiva é indispensável para as instituições, para a universidade e para a vida cidadã”, pontua.
Segundo Dalbosco, uma sociedade cada vez mais tecnicista e sem a devida reflexão humanista acarreta na incapacidade do diálogo e da argumentação. “A tendência do mercado e também a tendência política não é de incentivo às humanidades”, aponta. Cenário perfeito para a disseminação da violência e do ódio.

 

Formação tecnicista versus filosofia
Como consequência de um modelo de educação tecnicista, o futuro e o mercado de trabalho não apontam perspectivas boas para a área das ciências humanas. “O cenário, não só para os cursos de Filosofia, mas para as humanas no geral, não é muito animador. Isso se deve a vários fatores e não é obviamente pelo desinteresse dos alunos. Todo mundo pensa no depois, no ponto de vista profissional. Ninguém vai escolher uma profissão na qual vai se sentir inseguro ou mal remunerado. Tem todo esse problema. A tendência do mercado e também a tendência política não é de incentivo às humanidades”, argumenta o docente.
Isso, porém, não é exclusividade brasileira, conforme Dalbosco. “Acredito que não seja só uma tendência brasileira, mas também mundial. Fiz um estudo comparando a universidade alemã e a universidade americana, me apoiando em um filósofo de cada um desses países, e os dois coincidem no mesmo diagnóstico: o desaparecimento das humanidades dentro das universidades. Há a tendência mundial de uma educação cada vez mais mercadológica e tecnicista. Não estamos dizendo que a técnica não é importante, mas a formação especializada precisa vir acompanhada de uma formação humanista. Acho que essa é a reivindicação que se faz”.


Papel da filosofia
Segundo Dalbosco, a filosofia vem acompanhada, desde os gregos, de um modo de pensamento que pretende debater questões mais amplas, universais. “Devido a isso, a filosofia poderia ser uma âncora indispensável na formação de todas as profissões. Se o profissional tiver um preparo intelectual de forma que possa ver de maneira mais ampla as situações específicas, e também se ele conseguir enxergar diferentes perspectivas do mesmo problema, ele vai adquirir um tipo de inteligência que potencializará o seu melhor a fim de encontrar a melhor solução possível para qualquer questão”, argumenta.


Debate com alunos
As ponderações sobre o modelo tecnicista da educação e as suas implicações foram debatidas em evento do Curso de Filosofia da Universidade Federal de Fronteira Sul, campus Erechim, na sexta-feira (22). O tema do evento era “Filosofia, Universidade, Educação e Sociedade”. Dalbosco é graduado em Filosofia pela UPF (1990), Especialista em Epistemologia das Ciências Sociais pela UPF (1993), Mestre em Filosofia pela PUCRS (1996) e Doutor em Filosofia pela Universidade de Kassel (2001), Alemanha. Realizou Pós-Doutorado pelo Núcleo Direito e Democracia (NDD) do Cebrap (2013), em São Paulo. Professor da UPF desde 1991, atua principalmente nos cursos de Graduação em Filosofia e Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação. Também é pesquisador do CNPq. Atualmente é Coordenador do PPGEDU/UPF e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia da Educação (SOFIE). Em ensino e pesquisa, tem como foco de interesse a educação e a formação humana, sempre pensadas sob o ponto de vista filosófico.

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