Onze crianças, com idades entre dois e sete anos, foram diagnosticas com toxoplasmose em Lagoa Vermelha. Entre os casos, dez são de crianças que estudam ou estudavam, até o ano passado, em uma mesma turma da Escola Estadual Duque de Caxias, localizada no município. A principal suspeita até o momento é de que elas tenham sido contaminadas ao brincarem em uma caixa de areia que ficava no pátio da escola. Apesar da preocupação levantada pela incidência da doença, a Secretaria de Saúde do Estado não caracterizou a situação como um surto, pois na maioria dos casos a contaminação teria acontecido há mais de um ano e em número pouco expressivo. Os casos estão sendo diagnosticados somente agora porque a toxoplasmose pode demorar a se manifestar – ou, até mesmo, nunca apresentar nenhum sintoma.
Os casos começaram a vir à tona depois que a primeira criança foi diagnosticada com a doença. Por precaução, outros pais começaram a examinar os filhos e descobriram a contaminação, mas nem todas as crianças apresentaram sintomas. De acordo com o prefeito de Lagoa Vermelha, Gustavo Bonotto, as ações no momento estão concentradas na escola onde houve a maior incidência de casos. A intenção é examinar todos os estudantes da instituição para confirmar se a contaminação se restringiu a uma única turma de alunos ou se essa se expandiu a outros alunos.
“Ainda estamos realizando investigações, mas acreditamos que de fato tenha sido através da caixa de areia, que já foi retirada da escola. A hipótese de água contaminada foi descartada porque, se fosse por isso, haveriam muitos outros casos confirmados. O que a Vigilância de Saúde do Estado nos informou é que a toxoplasmose é uma doença relativamente comum, que muitas vezes não se manifesta ou tem sintomas que passam desapercebidos. Até agora, a maioria das contaminações diagnosticadas são atemporais e assintomáticas, elas não são simultâneas. O que nos gera preocupação é por ela ter tido esse ambiente em comum”, explica o prefeito.
O secretário de Saúde de Lagoa Vermelha, Eloir Morona, garantiu também que todas as crianças foram atendidas e medicadas pela rede pública de saúde e que a Vigilância Sanitária fez visitas à escola, mas não constatou nada fora do normal na água e nos alimentos acondicionados lá. “Estamos concentrando esforços para realizar exames nas crianças do município, inclusive de outras escolas, e orientamos que os pediatras nos postos de saúde fiquem alertas aos sintomas característicos da doença. Também estamos orientando que, por garantia, os estudantes tomem apenas água mineral”.
Além disso, de acordo com o prefeito do município, os pais das crianças infectadas têm recebido orientações de um médico pediatra. “Estamos providenciando também a vinda de um especialista na doença, que realizará a capacitação dos profissionais da nossa rede de saúde”, salienta.
Rotina na escola sofreu alteração
A diretora da Escola Duque de Caxias, Lucélia Sguarizi, informou que a rotina na instituição não sofreu alteração porque a toxoplasmose não é uma doença transmissível de pessoa para pessoa, não sendo necessário então isolar os alunos com suspeita de contaminação. “Estamos apenas seguindo orientações repassadas pela Vigilância Epidemiológica. Não podemos desprezar a situação, mas também não podemos deixar que o fato interfira na qualidade do ensino prestado”.
O que é toxoplasmose?
De acordo com o Ministério da Saúde, a toxoplasmose é uma infecção causada por um protozoário chamado “Toxoplasma Gondii”, encontrado nas fezes de gatos e outros felinos, que pode se hospedar em humanos e outros animais. É causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados e é uma das zoonoses mais comuns em todo o mundo. Os casos agudos são, geralmente, limitados e com baixas incidências. A fase aguda da infecção tem cura, mas o parasita persiste por toda a vida da pessoa e pode se manifestar ou não em outros momentos, com diferentes tipos de sintomas. Quanto à infecção crônica, a taxa de incidência é baixa até os cinco anos de idade e começa a aumentar a partir dos 20. A maioria das pessoas infectadas pela primeira vez não apresenta sintomas e, por isso, não precisam de tratamentos específicos. Os sintomas normalmente são leves, similares à gripe, dengue e podem incluir dores musculares e alterações nos gânglios linfáticos. A doença em outros estágios, no entanto, pode trazer complicações, como sequelas pela infecção congênita (gestantes para os filhos), toxoplasmose ocular e toxoplasmose cerebral em pessoas que têm o sistema imunológico enfraquecido, como transplantados, pacientes infectados com o HIV ou em tratamento oncológico.