O baixo índice de chuvas que incidiu sobre o solo gaúcho nos últimos seis meses teve reflexo na produção de milho e de soja cultivados pelos produtores do estado. Com os efeitos de uma estiagem mais severa, que retorna após sete anos desde a última a causar prejuízos significativos no campo, em 2012, 250 produtores rurais da região já ingressaram com solicitações de exoneração financeira junto ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) pelas perdas nas lavouras de milho.
Para tentar reduzir os impactos na produção agrícola, os agricultores devem liberar as terras cultivadas ao destinar o cereal que não se desenvolveu de forma saudável à alimentação animal, conforme explica o gerente regional adjunto da Emater/RS, Dartanhã Luiz Vecchi. "O cultivo mais prejudicado foi o de milho porque a falta de chuva atrapalhou a floração e enchimento dos grãos. O milho precisa armazenar água para encher os grãos, o que é diferente da soja, por exemplo. A estrutura das plantas são diferentes", mencionou.
Na série histórica observada pelo Sistema de Meteorologia da Emater, em Passo Fundo, dezembro foi o mês mais seco do semestre de cultivo com um índice de chuvas bem abaixo dos 123,3 mm de precipitação do ano anterior. Em setembro, período no qual se recomenda o início do processo de semeadura do milho, o índice pluviométrico despencou de 305,5 mm, em 2018, para 55,8mm, no ano passado. O ponto crítico nesse período de chuvas afetou em maiores proporções, sobretudo, as plantações cultivadas nas cidades de Casca, Santo Antônio do Palma, Gentil, São Domingos do Sul e Marau, conforme detalhou Vecchi. "Nenhum desses municípios decretou situação de emergência ainda, mas está se encaminhando para isso", avaliou.
Uma safra de incertezas
Embora a escassez de chuvas seja observada com maior atenção também nos cultivos de soja, que entra agora em fase de floração, o impacto direto na perda de produção do milho ainda está sendo traçado pelos especialistas e agricultores. Sem precisões numéricas na balança comercial e produtiva por "estar sendo feito o levantamento", conforme argumentou o gerente adjunto, espera-se uma safra 20% menor das 4,5 milhões de toneladas colhidas na anterior em todo o estado, segundo projeções da corretora INTL FCStone.
Com a baixa na colheita, a cadeia leiteira também deve sentir os reflexos da estiagem pela diminuição na produção de pastagem para os bovinos de leite. A preocupação com a produção agrícola foi ressaltada pelo secretário em exercício da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Luiz Fernando Rodrigues Júnior, durante uma reunião que estabeleceu um grupo para acompanhar os efeitos da estiagem no Rio Grande. Ao longo dessa semana, a Emater deve iniciar um acompanhamento mais aprofundado sobre a situação da safra do milho e da soja nas regiões do estado. “No caso do milho, dos 140 mil hectares irrigados no Rio Grande do Sul, 50% deles são derivados do Mais Água Mais Renda. Além deste, outros programas de incentivo à cultura do milho estão sendo elaborados pela Secretaria, para que 10 mil hectares por ano venham a ser irrigados, de forma que a gente possa alcançar o ideal de um terço dos 780 mil hectares do Estado com irrigação. Isso faz com que a política agropecuária do Estado esteja voltada à prevenção de uma estiagem mais prolongada”, avaliou.
Boletim da Defesa Civil
A Defesa Civil Estadual realizou, na manhã desta terça-feira (7/1), reunião técnica com os representantes do Departamento de Recursos Hídricos da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Sala de Situação e Emater para avaliar os efeitos da estiagem no Rio Grande do Sul. O clima seco e quente do verão está dentro da média prevista para o período. Esta condição meteorológica deverá se estender até o fim de fevereiro, com baixos volumes de chuvas. Na agricultura, as perdas ocorrem de forma pontual em diferentes culturas.
No momento não há indicativo em relação ao desabastecimento de água no Rio Grande do Sul, bem como risco de prejuízo à geração de energia elétrica. A Defesa Civil, contudo, alerta para a manutenção do uso racional e econômico da água, pois pode haver alteração neste quadro ao longo do verão.
Em relação à declaração de Situação de Emergência em decorrência da estiagem, a Defesa Civil esclarece que o registro deve ser relacionado à falta de água para consumo humano e a prejuízos na cultura agrícola de pequenos agricultores, o que interfere na subsistência das famílias. A partir da decretação de Situação de Emergência, o município tem 20 dias para conclusão do processo que possibilita a homologação por parte do Estado e o reconhecimento pela União. As equipes da Defesa Civil do Estado, da Sema e da Emater permanecerão acompanhando a estiagem em suporte técnico aos municípios e comunidades prejudicas.