Após a manutenção da classificação em bandeira vermelha na região de Passo Fundo, o prefeito Luciano Azevedo, junto com prefeitos de outros 17 municípios que integram a Associação dos Municípios do Planalto (Ampla), encaminhou na última terça-feira (30) uma carta ao governador do Estado, Eduardo Leite. A intenção do documento é esclarecer alguns pontos e pedir que o Estado reveja o modelo de distanciamento controlado implantado no Rio Grande do Sul. “Aparentemente, esse modelo do governo para a classificação se encaminha para o esgotamento. O Estado precisa encontrar um meio termo, uma alternativa. Não pode ser o sacrifício das pessoas a solução”, destaca o prefeito Luciano no texto.
No último sábado, depois de receber o anúncio de que Passo Fundo passaria da classificação laranja para vermelha, devido à piora em cinco indicadores que integram o cálculo das bandeiras – previsto no Modelo de Distanciamento Social Controlado – o Município chegou a ingressar com recurso contestando a decisão estadual. A solicitação visava retomar a classificação de bandeira laranja, que permite menor restrição nas atividades econômicas, com a justificativa de que critérios como o arredondamento teriam colocado a região sob uma classificação injusta. O Estado, porém, negou o pedido e determinou que fossem adotados os protocolos da bandeira vermelha, indicando alto risco de contágio pelo novo coronavírus na macrorregião Norte. Após o anúncio, Luciano Azevedo se manifestou nas redes sociais dizendo que havia “um sentimento regional de insatisfação em relação à decisão”.
Por discordarem da deliberação, de maneira unânime, os prefeitos que integram a Ampla se reuniram na manhã de terça-feira e decidiram elaborar a carta ao governador. Eles alegam que, desde o início da pandemia, Passo Fundo e região se comprometeu com as orientações dos governos estadual e federal com a compra de respiradores, criação de mais leitos, contratação de mais profissionais da saúde, implantação do Centro de Referência do Coronavírus 24 horas, criação do Comitê de Orientação Emergencial (COE), além de determinar por meio de decretos todos os protocolos de higiene e uso de máscaras e intensificar a fiscalização para o cumprimento das regras.
Hoje, conforme argumentam os municípios, o sistema de saúde da região está mais estruturado e preparado para atender a população do que no início da pandemia. “Nós continuamos compreendendo as regras que cumprimos desde o início, ouvindo a ciência e os especialistas com o objetivo maior de proteger a vida das pessoas. Reconhecemos o esforço do Estado, mas não concordamos mais com nova paralisação. A sociedade não aguenta mais nova paralisação. As pessoas precisam trabalhar, comer, viver, sustentar suas famílias”, destaca o texto. Por fim, a carta pede que o Estado mantenha orientação de isolamento de todos aqueles que podem ficar em casa ou estão no grupo de risco, mas que mantenha a flexibilização para a população que precisa trabalhar.
CDL repudia a decisão
Os protocolos e restrições previstos para a bandeira vermelha entraram em vigor ainda na manhã de ontem e seguem, pelo menos, até a próxima segunda (6). Por este motivo, quem circulou por Passo Fundo e região na terça-feira já encontrou as portas fechadas em estabelecimentos como o comércio de rua, shopping centers, restaurantes e padarias. Estão autorizadas apenas as vendas no formato de tele-entrega ou pague e leve. Diante deste cenário, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Passo Fundo emitiu uma nota de repúdio, em que se diz preocupada com a mudança de bandeira. “A determinação é ainda mais preocupante agora, considerando que as empresas somente foram autorizadas a abrir em maio e ainda não conseguiram se recuperar financeiramente, para lutar pela continuidade das suas atividades e a manutenção dos empregos”, diz a nota.
De acordo com o presidente da CDL, Sérgio Giacomini, a restrição nas atividades econômicas chega em um momento em que o comércio local começava a ter retorno financeiro. “Estávamos em uma crescente, embora bastante modesta, depois da reabertura em maio. O novo fechamento vai causar um problema muito sério para a economia local. As vendas por tele-entrega são muito limitantes e esse abre e fecha afeta profundamente as empresas, que não conseguem desenvolver um planejamento e nem têm certeza se podem manter os empregos”, afirma. Ainda segundo ele, a CDL tem acompanhado a discussão e solicitado iniciativas aos poderes públicos para o retorno das atividades.
Sindilojas
Quem também repudiou a classificação foi o Sindicato do Comércio Varejista de Passo Fundo (Sindilojas). Em nota de repúdio endereçada ao governador Eduardo Leite, a entidade declara que “sempre esteve preocupada com a saúde de nossos munícipes aplicando de forma rigorosa todo protocolo estabelecido, entretanto, nesse momento novamente o comércio de Passo Fundo é penalizado por motivos que estão fora de sua responsabilidade. Muitos empresários foram derrotados e fecharam seus estabelecimentos e agora quantos mais o farão? Reavalie essa decisão excelentíssimo governador Eduardo Leite pela garantia de tantos empregos que nosso setor proporciona”, solicita o texto.
Comitê Popular
O Comitê Popular por Saúde, Democracia e Direitos, por outro lado, divulgou uma nota de posicionamento em que manifesta preocupação com o avanço da Covid-19 em Passo Fundo e região. O documento aponta o atual estágio de crescimento no número de contaminações pelo vírus e a falta de insumos para o cuidado com os infectados hospitalizados como motivos para que não haja o relaxamento nas medidas de controle do contágio. “O sistema de distanciamento controlado implementado pelo governo do Estado, que começou com uma capa de orientação e base científica, vem gradativamente sendo desmontado pela pressão de dirigentes empresariais e políticos e sua falta de compromisso com a preservação e a proteção da vida das pessoas”, pontua o texto.