Ao lado da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Tio Hugo e da Escola Municipal Antonio Parreiras, o trânsito aéreo começou a se intensificar, desde a última semana, e a romper o silêncio da pequena localidade com os zumbidos característicos de diferentes espécies de abelhas. Com a instalação de duas unidades hoteleiras para abrigar estes insetos polinizadores que perderam o habitat natural para o desmatamento humano, o projeto de conservação das abelhas sem ferrão começou a receber os primeiros hóspedes migratórios.
Em desenhos hexagonais, bastante fiéis aos formatos de favos de mel, as casinhas para abrigar os ninhos dos pequenos animais chegaram ao Brasil com a adesão gratuita, pelo município, do programa “Bee care”, desenvolvido pela empresa alemã Bayer e apresentado como novidade, neste ano, pela gigante do setor químico durante a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque. Talhado em madeira, a estrutura comporta troncos de árvores perfurados, onde as abelhas buscam refúgio para a reprodução, e alguns blocos de feno, para evitar a atração de abelhas africanas, que podem ser potencialmente perigosas para os moradores por possuírem ferrão. “A estrutura foi projetada para as abelhas convivem em harmonia. Estas espécies não oferecem risco ao ser humano, são inofensivas”, esclareceu o engenheiro agrônomo de Tio Hugo, Osvaldo Lima. “Há dois tipos de abelhas: as sociais, que se organizam em colmeias, e as solitárias, como essas, que fazem todo o trabalho sozinhas, desde o ninho à alimentação dos filhotes e coleta de pólen”, explicou.
Em cavidades que vão desde 2mm até 2,5cm, as abelhinhas solitárias costumam se abrigar nas árvores, mas estão em constante migração, e até em extinção em determinadas localidades, segundo o agrônomo, pelo manejo predatório do ser humano com a natureza. “O homem está destruindo com tudo. As abelhas estão vindo para cidade por quê? Porque elas já não têm mais morada”, ressaltou Lima. “85% da polinização é feita pelas abelhas. Temos que começar a pensar em ajudar esse inseto plantando mais árvores”, reiterou.
Essencial à polinização de plantas e cultivos para a alimentação humana, a ausência desse animal de coloração negra e amarela seria desastrosa para a vida planetária, conforme avalia o engenheiro agrônomo. “Elas desempenham serviços ecossistêmicos vitais. A maioria das pessoas, por falta de conhecimento, acabam matando as abelhas. Temos que protegê-las porque, daqui a algum tempo, a natureza vai cobrar de nós”, afirmou. Extinção de algumas espécies de animais, erosão do solo e até uma queda na produção de frutos são consequências diretas e sintomas da ausência dos insetos polinizadores. “O valor do serviço ambiental que elas fazem é enorme e muitos alimentos iriam desaparecer. Os hotéis instalados em Tio Hugo são locais protegidos para que elas tenham toda a segurança para colocar os ovos”, disse Lima.
Com poucos estudos sobre as espécies nativas brasileiras, quase nada se sabe a respeito da redução populacional do pequenino inseto na região. De concreto, conforme mencionou o agrônomo, apenas algumas ações implementadas pelo Poder Público de outras cidades, como em Victor Graeff onde alguns protótipos semelhantes foram colocados na praça central para servirem como moradia das abelhas. “É possível fazer essas casinhas com pet e colocando bambus, taquaras ou cerâmicas”, ensinou.