Passo Fundo continua sem aeroporto até 31 de outubro

As empresas aéreas cancelaram a venda de passagens e a pista permanece fechada

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Imagem de satélite: cabeceira 27 e parte da zona de proteção do aeródromo -   Reprodução - Google EarthImagem de satélite: cabeceira 27 e parte da zona de proteção do aeródromo -   Reprodução - Google Earth
Imagem de satélite: cabeceira 27 e parte da zona de proteção do aeródromo - Reprodução - Google Earth
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Das promessas dos políticos nos últimos anos aos trâmites burocráticos nos últimos meses, prossegue a novela do Aeroporto Lauro Kortz. Em meio às obras de melhorias, o Aeroporto de Passo Fundo permanece fechado para operações de pousos e decolagens até 31 de outubro. Alguns trâmites burocráticos, que estão em andamento, são exigências para a liberação. As melhorias na pista já foram concluídas, mas ainda é necessária a sua homologação. Diante desse impasse, o Departamento Aeroportuário do Rio Grande do Sul solicitou a prorrogação do fechamento do aeródromo até 31 de outubro. Assim, desde a semana passada, as empresas aéreas com slots no Lauro Kortz decidiram por cancelar a venda antecipada de passagens tendo Passo Fundo como destino ou origem.

 Até 31 de outubro

O NOTAM E2465-R prorrogou os cinco anteriores que, em sequência, desde abril mantêm o fechamento da pista. Publicado no sábado, 25/09, deixa o Lauro Kortz fora de operações até 31 de outubro deste ano. A notificação regulamenta as operações nos aeródromos brasileiros, informando através do AISWEB, que reúne os serviços do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). Após a liberação, permitirá o retorno de aeronaves da aviação geral (executiva, táxi-aéreo e particulares). Para permitir a execução das obras, o aeroporto foi fechado para pousos e decolagens em 11 de janeiro. A previsão inicial de reabertura era para 12 de maio. As obras de melhorias na pista já foram concluídas, mas ainda faltam detalhes imprescindíveis para o reinício das operações. O cronograma das obras estava de acordo com o previsto. Porém, ocorreu um atraso no recebimento de dois conjuntos de um equipamento vindo da Itália, o que prejudicou a projeção inicial. São os PAPIs (Precision Approach Path Indicator) que já foram instalados ao lado das cabeceiras. Utilizando luzes brancas e vermelhas, o sistema permite que os pilotos tenham a visualização de uma rampa ideal de descida.

 Melhorias sem ampliação

O projeto das melhorias no Aeroporto Lauro Kortz não contempla a ampliação da pista, que permanece com 1.700 metros de comprimento por 30 de largura. Com vento predominante de través, havia expectativa que fosse alargada para 45 metros. As novidades técnicas ficam por conta do aumento do PCN, indicador da capacidade operacional (peso-impacto) elevado para 42. Assim, será possível a operação com o novo Embraer E-2 da Azul. O novo índice ainda não permitirá receber aviões de grande porte como o 737-800 ou cargueiros. A segurança operacional aumentou com a retirada do barranco que havia ao lado do terminal de passageiros, pois alterava as condições do vento que chegava irregular à pista. Além disso, foi feito o grooving, ranhuras transversais que facilitam a drenagem da água sobre a pista propiciando mais aderência para uma melhor frenagem nos pousos. Além da pista, prosseguem os serviços de edificação do novo terminal de passageiros, taxiway e pátio de aeronaves. As obras seguem dentro do cronograma com previsão de entrega em dezembro.

  

Homologação vai do PBZPA à aferição dos PAPIs

 Com as obras a pista sofreu alterações e, devido à precessão, teve a numeração das cabeceiras alteradas de 08/26 para 09/27. Isso, como é praxe na aviação, requer uma nova análise para homologar o aeródromo. “A primeira fase do expediente já foi cumprida, que é a análise preliminar”, explicou na sexta-feira, 24, o diretor do DAP, engenheiro Leandro Taborda. “Com a parte documental bem encaminhada, agora temos uma segunda fase com mais alguns expedientes para a homologação”, disse em relação à análise técnica. Dentre essa documentação, Taborda inclui o PBZPA – Plano Básico de Zona de Proteção de Aeródromo, que estabelece as restrições impostas ao aproveitamento das propriedades dentro da ZPA – Zona de Proteção de um Aeródromo. Isso diz respeito às superfícies limitadoras de obstáculos. “É aquilo que está na aproximação para as cabeceiras, como edificações e antenas. Com o deslocamento do eixo da pista o entorno deve ser avaliado novamente”, completou.

 Análise técnica

Diante desse processo, ainda na sexta-feira Taborda determinou o envio de solicitação prorrogando por mais 30 dias a interdição operacional do Lauro Kortz. Sobre a parte documental, lembra que “está aprovada e agora estamos atentos a toda tramitação e aguardando a análise técnica do PBZPA”. O trâmite ocorre no Comando da Aeronáutica, através do Departamento de Controle do Espaço Aéreo, órgão gestor do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro. O diretor do DAP entende que não há entraves ou má vontade nessa esfera, “pois a preocupação é de todos”. Após as análises, o GEIV, Grupo Especial de Inspeção de Voo, poderá realizar a aferição de equipamentos, em especial os novos PAPIs instalados ao lado das cabeceiras, além de ajustes necessários nas cartas aeronáuticas. A avaliação é realizada através de testes em voo com uma aeronave-laboratório. Depois disso, a pista cumprirá os requisitos para a homologação.

 Azul e Gol cancelaram a venda de passagens

 

Não é possível reservar passagens nem mesmo para o próximo ano

 

A sequência de prorrogações no fechamento prejudicou as empresas aéreas com slots (vagas operacionais) no Lauro Kortz. Azul e Gol, que comercializavam passagens a partir de ou para Passo Fundo, enfrentavam transtornos para cancelar ou remarcar bilhetes vendidos antecipadamente. Assim, mesmo antes da publicação do último Notam, ainda na semana passada as empresas retiraram de seus sites a possibilidade de compra de passagens com origem ou destino Passo Fundo. Não há disponibilidade de voos sequer para 2022. “Com o cancelamento fica melhor para a programação deles”, explica o diretor do DAP, após conversar com representantes das aéreas. A Azul tinha no sistema dois voos diários na ligação com Viracopos, em Campinas-SP, com o Embraer-195 para 118 passageiros. A Gol vendia bilhetes entre Passo Fundo e Guarulhos, na Grande São Paulo, operando com o Boeing 737-700 com 138 poltronas.

Mala na mão

Transtornos para as empresas e também para os usuários. “Até a semana passada, as pessoas chegavam aqui no aeroporto prontas para embarcar”, conta Clarice Beffart, administradora do Lauro Kortz. “Descarregavam as malas dos carros e ficavam surpresos ao saber que não tinha voo. Outros queriam ser atendidos no balcão da companhia para remarcar a passagem ou receber alguma orientação”, completou. Porém, com o aeroporto fechado, as empresas não mantêm funcionários no local. “Teve alguns que colocaram as malas de volta no carro e seguiram a Porto Alegre para conseguir viajar”, completou Clarice.

 

Uma longa novela que começou há mais de 60 anos

 

É difícil precisar quando iniciou a novela ‘Aeroporto de Passo Fundo’. Mas, certamente, tudo começou quando transferiram às operações do antigo aeroporto (hoje o Aeroclube) para a área atual, que integrava à fazenda da Brigada Militar. Foi lá pelo final dos anos 1950. Na mesma época, iniciava a terraplenagem para a construção de um aeroporto de grande porte, na margem direita da BR-285 entre Passo Fundo e Carazinho. As questões políticas da época paralisaram a obra que ficou no esquecimento. Inicialmente, a acanhada pista do Aeroporto Lauro Kortz teve o leito improvisado com pedra britada. Tempos depois ganhou uma singela faixa central de asfalto. Desde então recebeu muitos remendos. No começo dos anos 1990 teve a largura ampliada de 23 para 30 metros e foi recapeada em 2001. No início deste ano, recebeu uma intervenção ampla que contemplou com o aumento do PCN (base), recapeamento, grooving, instalação de novos PAPIs e moderno balizamento com LED.

Da verba à homologação

Pela localização (altitude e direção do vento), o aeroporto sofre com o fechamento por neblina e voos cancelados pelo vento de través. Na última década, são incontáveis as ações realizadas com o objetivo de melhorar o aeroporto. A partir de 2013 intensificaram-se os movimentos visando a ampliação do aeroporto. Logo surgiu uma verba federal de R$ 44 milhões, alardeada por muitos meses. Foi anunciada e requentada por homens públicos em todas as esferas. Surgiram comissões e comitivas para tratar sobre o assunto. Houve uma sequência de assinaturas de protocolos, editais e muita badalação. Enfim, depois de muitas promessas, no final de 2020, já com a verba reajustada para R$ 45 milhões, iniciaram as obras de melhorias no Aeroporto de Passo Fundo. Para a intervenção na pista, a mesma foi fechada para pousos e decolagens em 11 de janeiro deste ano. Atrasos na vinda de equipamentos do exterior e a falta de homologação por trâmite burocrático determinaram uma sequência de cinco prorrogações e a pista permanece fechada.

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