Famílias indígenas da reserva de Serrinha, em Ronda Alta, foram atacadas no final da manhã deste sábado, por um grupo comandado pelo cacique da aldeia. Pelo menos dois índios morreram no local. Segundo relatos, o grupo de 12 famílias expulsas da Reserva pela liderança, se preparava para iniciar um protesto na RS 324, quando foi atacado na localidade de Setor Alto Recreio. Os nomes das vítimas não haviam sido divulgados. Há informações sobre outros dois mortos no confronto, ainda não confirmadas. A Polícia Federal está no local.
“Nossa intenção era chamar a atenção das autoridades pela situação dessas famílias. Estamos na beira da rodovia, sem roupa, sem comida. Eram cerca de 40 homens. Chegaram atirando e ordenando para matar todo mundo. Consegui escapar porque fui rastejando pela lavoura até o mato”, conta um integrante do grupo, que pediu para não ser identificado.
Pedido por segurança
Segundo relato, as ameaças feitas pela liderança na reserva se arrasta há pelo menos 18 meses. No mês passado, o grupo ameaçado realizou um protesto em frente ao prédio do Ministério Público Federal de Passo Fundo, pedindo por segurança dentro da reserva.
A situação se agravou nos últimos dias. “Na quarta-feira, eles avisaram de que iriam expulsar as famílias. O pessoal ficou acampado na beira da rodovia, hoje quando retornaram para o protesto, aconteceu o ataque”, contou um indígena, que pediu para não se identificar por medo de represálias. As famílias ameaçadas perderam celulares e tiveram três veículos incendiados.
Versão do cacique
Em entrevista a Rádio Máxima FM,de Ronda Alta, o cacique Márcio Claudino, disse ter sofrido uma emboscada. Ele contou que, juntamente com mais três pessoas, havia deixado a aldeia em uma caminhonete Hilux, em direção à Ronda Alta, quando na localidade de Engenho Velho, o veículo teria sido atingido por vários disparos. Ainda conforme a versão do cacique, assim que souberam do ataque, alidados da liderança foram até o local, e ocorreu o confronto.
Grupo nega emboscada
Uma das indígenas que estava no protesto definiu o ataque como “cruel”. “Chegaram em vários carros, trazendo índios de outras aldeias, com pedaços de paus e armas de fogo, que não é coisa da nossa cultura. Arrendamento de terras defendido por ele, não é da nossa cultura. Só porque não concordamos com as coisas que ele faz, manda todo mundo sair e fica com tudo que é nosso. Onde tem a minha casa e dos meus familiares foi comprado, tenho direito”, desabafou. Integrantes do grupo atacado relata que os disparos contra a caminhonete do cacique foram feitos por eles mesmos para simular a emboscada. “Curioso que a caminhonete estava cheia e ninguém foi atingido”, declarou um indígena.
Grupo contesta atuação da liderança
A tensão na Reserva aumentou em razão das contestações e denúncias feitas à conduta do cacique na Serrinha. “Não queremos a liderança. Queremos que todos os índios sejam beneficiados, não apenas o grupos deles. Lá tem uma cooperativa, gira dinheiro, mas o poder está na mão de um pequeno grupo. Mais de 50% das famílias que vivem na Reserva não têm dinheiro e nem um pedaço de terra para plantar”, afirma. “Estão sobrevivendo do artesanato, quem sabe fazer, e de pequenas hortas. As famílias estão sofrendo muito com essa situação”, diz um dos integrantes do grupo dissidente.
Ele afirma ainda que o acordo estabelecido para a prestação de contas sobre a movimentação financeira dos negócios gerados na Serrinha, também não foi cumprido. Eles não aceitam esses questionamentos”, enfatiza.