A abertura da colheita do trigo no Rio Grande do Sul, oficializada em cerimônia na última semana, marcou o começo de um período otimista para os produtores gaúchos, que têm presenciado uma alta significativa na área de cultivo e no preço do grão neste ano. Na região de Passo Fundo, de acordo com o engenheiro agrônomo e gerente regional da Emater, Oriberto Adami, a produtividade dos mais de 90 mil hectares de área plantada do trigo poderá ser calculada a partir da próxima semana, quando os produtores devem começar a intensificar a colheita do grão.
Conforme o especialista, até o momento, o volume de área colhida nos 42 municípios que integram o raio de abrangência da unidade ainda é pouco significativo e, por isso, é difícil estimar o cenário de produtividade do grão nesta safra. No entanto, o último informativo conjuntural da Emater já alertava para possíveis danos deixados pela alta nebulosidade, frequentes precipitações e baixa insolação registradas em Passo Fundo na última semana, fatores que predispuseram as plantas ao surgimento de doenças e levaram os produtores a monitorar pragas, doenças e realizar tratamentos fitossanitários. A umidade excessiva também dificultou o início das atividades de colheita nas áreas de maturação mais adiantada.
O gerente regional da Emater explica que a fase de floração e enchimento de grãos é a mais crítica para a cultura. Isto porque, especialmente nesse período, a chuva excessiva — como ocorreu na região — pode favorecer o ataque de doenças fúngicas e prejudicar, até mesmo, o processo de fotossíntese da cultura, causando abortamento de flores e má formação de grãos. “Isso deve refletir em queda na produtividade e qualidade do grão. Não sabemos ainda o quanto. Provavelmente não será muito, mas que houve perda, houve sim. Veremos quais foram os reflexos dentro de dez dias, quando teremos uma área mais extensa colhida”, esclarece. Para os próximos dias, o ideal é que o tempo mantenha-se estável ou com chuvas em pouca intensidade, contribuindo para a estabilização de doenças e o processo de colheita do grão.
Safra histórica
Mesmo com a notícia de incidência de praças e doenças nas lavouras de trigo, devido ao excesso de umidade em parte do território gaúcho, a expectativa da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) ainda é de safra recorde no Rio Grande do Sul. A pasta projeta uma colheita superior a 3,78 milhões de toneladas no grão no Estado. Em 2020, foram 2,26 milhões. "Nosso Estado deve ter, neste 2021, a melhor produção de trigo na história”, disse a secretária Silvana Covatti, durante a cerimônia de abertura de colheita do trigo.
O aumento aconteceu também no preço do produto, cuja saca de 60kg está custando, em média, R$ 80. No mesmo período do ano passado, o produto estava cotado em R$ 62,13. “Estamos tendo um dos melhores preços dos últimos anos. É um valor que permite uma boa rentabilidade mesmo em caso de redução de produtividade. É o principal motivo para a área de cultivo do grão ter aumentado. O preço é o principal balizador para os produtores”, observa Oriberto Adami.
Além disso, a confiança dos produtores no cereal elevou o trigo à principal safra de inverno, à frente da aveia branca (799.714 toneladas), cevada (129.934 t) e canola (55.672 t). Conforme o Estado, a área cultivada com o grão no Rio Grande do Sul superou 1 milhão de hectares, o que não acontecia desde 2014. Dos 915,7 mil hectares cultivados na safra passada, neste ano a área cultivada saltou para 1.177.487 hectares.
A Região Sul do país deve responder por 92% da produção tritícola nacional em 2021. Serão colhidas cerca de 7,547 milhões de toneladas, num total de 8,191 milhões de toneladas no Brasil segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O país não é autossuficiente na produção de trigo, necessitando importar anualmente cerca de 6 milhões de toneladas, principalmente da Argentina, para suprir a demanda interna.