A estiagem prolongada que atinge o Rio Grande do Sul tem causado uma baixa severa nos pontos de captação de água da Corsan em diversos municípios gaúchos. Em Passo Fundo, por exemplo, até a tarde dessa segunda-feira (3), os níveis de água na Barragem da Fazenda, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 45% da população do município, estavam 85cm abaixo do nível máximo do reservatório, enquanto a Barragem do Arroio Miranda operava com um déficit de 37cm em relação à sua capacidade máxima.
Embora a situação não seja considerada grave em Passo Fundo e a necessidade de racionamento de água esteja descartada no momento, de acordo com o superintendente regional da Corsan, Aldomir Santi, os níveis ainda sinalizam alerta e a possibilidade de racionamento poderá ser reavaliada em cerca de 60 dias. Por esse motivo, para tentar driblar os efeitos do comportamento irregular nas precipitações que se estende desde 2019, a Corsan vem adotando uma série de ações em todo o Estado que visam garantir o abastecimento da população e evitar o racionamento, como o reforço dos sistemas de abastecimento da companhia e a disponibilização de caminhões-pipa para os municípios mais afetados.
De acordo com a companhia, na Superintendência Regional Planalto – responsável por 70 municípios, incluindo Passo Fundo –, foram colocados em operação nos últimos meses 15 novos poços que estavam de reserva nos principais sistemas. As medidas também incluem, no município de Passo Fundo, o aumento da vazão da transposição do Rio Jacuí para a Barragem da Fazenda da Brigada Militar; o alteamento da Barragem da Fazenda, ampliando em 5,5% o volume de acumulação do reservatório; a instalação de uma nova adutora de água bruta com diâmetro de 300 mm e extensão de 1,3 mil metros da Barragem do Rio Passo Fundo até a Estação de Tratamento de Água (ETA) III; e a implantação de uma nova adutora de água bruta com diâmetro de 500 mm e extensão de 4.020 m do rio Jacuí até a Barragem da Fazenda da Brigada e ETA III.
Na mesma regional, também foram implantadas ações em Lagoa Vermelha, com o desassoreamento da barragem de acumulação, a operacionalização de trechos da adutora de água bruta e o reforço e alteamento do barramento com 100% de aumento no volume de acumulação.
Superintendente da Corsan explica medidas adotadas em Passo Fundo
O superintendente regional da Corsan em Passo Fundo explica que as ações vêm sendo estudadas desde o ano de 2019, quando a companhia previu que os grandes sistemas (como Passo Fundo, Carazinho, Erechim e Vacaria) passariam por períodos delicados diante do prognóstico de uma nova estiagem no Estado e, por isso, começou a investir em obras que pudessem minimizar ou evitar qualquer problema hídrico. “Em Passo Fundo, antes de termos essa nova adutora na Barragem do Rio Passo Fundo, inaugurada no fim do ano passado, ela recalcava água somente para a Estação de Tratamento I e II. Aí, fizemos essa nova adutora para levar até a ETA III e ajudar a abastecer a região nos arredores da UPF, como o bairro São José”, explica.
A nova adutora de 4.020 mil metros, do rio Jacuí até a Barragem da Fazenda e a ETA II, que está em fase de conclusão e deve começar a operar até o fim desta semana, também vem para auxiliar e reforçar o abastecimento em períodos de estiagem prolongada, como observado no município neste momento. “Em momentos como esse, em que os mananciais da barragem enfraquecem muito, nós temos que tirar ainda mais água do rio Jacuí e, por isso, precisávamos de mais uma adutora. Ela vem para somar e ajudar bastante na questão do abastecimento da Barragem da Fazenda”, esclarece Santi. No mesmo sentido, a Corsan também realizou ações para aumentar a vazão da transposição do Rio Jacuí para a Barragem da Fazenda, com a troca de bombas no sistema.
Outra medida destacada pela companhia em Passo Fundo é o alteamento da Barragem da Fazenda da Brigada Militar, que promove o aumento na capacidade do reservatório e permite acumular um volume de água 5,5% maior do que aquele que era comportado no espaço até então. “Assim, temos capacidade para reservar um volume maior de água quando chove e, consequentemente, conseguimos abastecer a cidade por mais tempo”, ressalta.
Chuvas isoladas são insuficientes para recuperar níveis das reservas hídricas
Santi relembra que, apesar de as medidas adotadas pela Corsan ajudarem a contornar os efeitos deixados pela estiagem, elas não são capazes de solucionar o problema por completo, já que sem o registro de chuva frequentes e em volumes significativos nas próximas semanas os níveis dos reservatórios continuarão em queda. “Em anos anteriores, o normal era que sentíssemos mais a estiagem lá por março e abril. Agora está bem antecipado. Estamos numa situação delicada, há anos não ficávamos tanto tempo sem chuva, com uma estiagem tão prolongada e severa. As precipitações têm vindo em volumes insuficientes para aumentar o nível dos mananciais”.
Segundo ele, para começar a amenizar o déficit nos reservatórios, o município precisaria registrar no mínimo 70mm de chuva e, ainda assim, o índice pluviométrico não seria suficiente para repor as reservas hídricas até a capacidade máxima. “Precisamos de chuvas periódicas e em volumes significativos. Se tivermos apenas chuvas isoladas, não adianta, porque ainda temos um agravante da evaporação. Devido ao calor intenso e o vento, uma quantidade absurda de água é evaporada. A baixa chega, em média, a 10cm por mês”, observa.