O ano de 2023 começou com forte calor e chuvas esparsas, com um volume de água insuficiente para suprir as necessidades de consumo dos moradores da região norte do estado. Essa situação, somando-se ao déficit hídrico acumulado dos últimos meses, fez com muitos municípios decretassem Situação de Emergência.
Um levantamento divulgado pela 2º Coordenadoria Regional de Proteção e Defesa Civil (CREPDEC), com sede em Passo Fundo, aponta que, dentre os 76 municípios de abrangência, 11 estão em Situação de Emergência no processo de publicação dos decretos.
Segundo o coordenador da 2º CREPDEC, Tenente Coronel Paulo Ricardo Leão Saraiva, nos últimos dias uma equipe de trabalho tem percorrido diversas cidades da região para se encontrar com representantes dos poderes públicos municipais, e avaliar a situação, para dar os encaminhamentos necessários nos documentos que resultam na homologação dos decretos.
Área rural
A falta de chuva preocupa especialmente na área rural dos municípios, onde além de registros de grandes perdas na produção agrícola, há falta de água para consumo animal, em algumas localidades.
Segundo a Defesa Civil, somente na região de Passo Fundo, já decretaram, ou estão no processo de publicação dos decretos de Situação de Emergência, os municípios de Beijamim Constant do Sul, Jacutinga, Paulo Bento, São Valentim, Erechim, Ponte Preta, Campinas do Sul, Cruzaltense, Soledade, Marcelino Ramos e Ernestina.
O Poder Público de Soledade deverá, ainda nesta sexta-feira (27), publicar um decreto de Situação de Emergência. Segundo a coordenadora da Defesa Civil do município, Aline Maciel, as grandes perdas nas lavouras e o impacto financeiro que a estiagem vai causar ao município motivaram a decisão. “Hoje o município está com perda de 80% no plantio do milho e milho silagem, além de perdas em pastagens e na produção de leite, gerando um prejuízo aproximado de R$ 20 milhões”, explicou.
Ernestina
Ontem (26), uma reunião entre representantes do Poder Público Municipal, Defesa Civil, e entidades representantes dos produtores rurais de Ernestina, deram o primeiro passo para assinatura do decreto de Situação de Emergência, previsto para a próxima semana. Segundo o secretário de Agricultura do Município, Bruno Altmann, será montada uma força-tarefa para fazer um levantamento dos prejuízos na área rural do município.
Ele diz que em algumas culturas, como o milho, as perdas são irreversíveis, porém, em culturas como a soja os produtores ainda têm esperanças que a situação seja revertida, mas para isso, a chuva precisa ser normalizada.
Bruno explicou que as propriedades rurais estão sendo monitoradas, pois o nível dos córregos vem reduzindo de forma muito rápida. “Neste momento ainda não é necessário levarmos água com caminhão-pipa, mas estamos monitorando a situação, que nos preocupa”, disse ele.
Erechim
No começo desta semana o prefeito de Erechim, Paulo Polis, decretou Situação de Emergência em função da seca e dos prejuízos causados pela estiagem. “As perdas na área rural já chegam a R$ 51 milhões, segundo relatório técnico da Emater, que apontou prejuízos em lavouras de milho, soja, na produção de carne e leite”, disse o prefeito. Até o momento, estima-se uma redução de 55% na cultura de milho, 55% na cultura de milho silagem e 25% na cultura da soja. Os efeitos da seca afetam, também, a pecuária, a bovinocultura de leite e a criação de bovinos de corte. “A situação precária das pastagens devido à falta de chuva prejudica o desenvolvimento dos animais, e aí é preciso buscar alternativas para a alimentação, o que aumenta o custo de produção. As perdas somam 25% na produção de leite, prejuízo estimado em R$ 2,3 milhões. Incluindo os demais setores, o valor já chega a R$ 51 milhões.
Diante de um cenário de falta de chuva, e com as fontes de água das propriedades rurais não dando conta das demandas de consumo, algumas famílias no interior do município estão recebendo água com caminhão-pipa. “O combate à seca continua e estamos entregando água para cerca de 40 famílias que moram na área rural. A estiagem está causando prejuízos e transtornos para muitas famílias”, observa o coordenador da Defesa Civil de Erechim, Ronaldo Manica.
Corsan de Passo Fundo em alerta
O superintendente regional da Companhia Rio Grandense de Saneamento, Aldomir Santi, responsável pelo atendimento em Passo Fundo, esclareceu que a situação do abastecimento na cidade preocupa. “Continuam as chuvas esparsas e com baixo volume, além do calor intenso”, explica ele. As barragens seguem baixando o volume de acumulação. A Barragem da Fazenda da Brigada está com 1,60m negativo, e a Barragem do Arroio Miranda com 60cm abaixo do volume máximo. “Estamos monitorando e acompanhando, estamos com a transposição do Rio Jacuí desde dezembro, o que ajuda no abastecimento. Seguimos avaliando como vai se comportar o tempo nos próximos dias”, comentou.
Santi recomenda que a população da cidade utilize a água para o que é necessário, porém, evite o desperdício. Entre as recomendações está: evitar lavar o veículo e calçada com mangueira, encher a piscina, regar o jardim, que são situações onde há um grande consumo de água. Segundo Santi, isso pode evitar que nos próximos meses aconteçam situações mais críticas.
Calor recorde em Passo Fundo
A perspectiva para os próximos dias não é animadora para os produtres rurais. Segundo a previsão meteorológica o forte calor e as chuva esparsas devem permanecer.
Conforme o analista do laboratório de meteorologia da Embrapa, Aldemir Pasinato, a expectativa é que neste período (entre quinta-feira e sábado), Passo Fundo possa bater o recorde de calor. “Essa onda de calor atingiu todo o estado e a região. Nos últimos 10 dias as máximas registradas em Passo Fundo foram superiores a 30 graus. Na quarta-feira (25) os termômetros registraram 32,7º e a expectativa é que nestes dias possamos atingir os 35 graus, que é o recorde de temperatura na cidade desde 2005”, comenta.
Chuva
Em relação à chuva, Pasinato explica que há previsão de que ela possa chegar, porém, em locais isolados. “Áreas de instabilidade devem atingir a região em pequenos volumes e mau distribuídas. Além disso, em pontos específicos, pode haver vento ou eventos mais severos”, disse ele.
Pasinato lembra que as previsões de chuvas feitas nos últimos períodos têm se confirmado. Ele comenta que, como havia sido previsto, o ano de 2022 teve um grande volume de chuva, e chegou a ficar muito próximo da média histórica, porém, o problema é que a chuva foi mal distribuída durante o ano. “O segundo semestre teve um déficit de 46%, analisando os meses de julho a dezembro”, explicou.
Em 2023, a perspectiva até março é de que os índices pluviométricos permaneçam dentro da média normal, ou abaixo dos índices histórico.