Turismo: Circuito das Águas, das Tropas e do Mate vai entrar em funcionamento em 2024

Os municípios de Mato Castelhano, Gentil, Caseiros, Lagoa Vermelha, Barracão e Machadinho se uniram em uma proposta para aproveitar aspectos históricos e geográficos e ampliar o turismo na região

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A união de história, geografia e cultura é o eixo central de um circuito turístico que está em processo de implantação na região norte do Estado, e que deve estar pronto para a visitação em 2024.

Os municípios de Mato Castelhano, Gentil, Caseiros, Lagoa Vermelha, Barracão e Machadinho se uniram em uma proposta para aproveitar aspectos históricos e geográficos e desenvolver o projeto denominado “Circuito das Águas, das Tropas e do Mate”.

O projeto é desenvolvido dentro do Programa Gaúcho para Qualidade e Valorização da Erva Mate, que tem um de seus focos o desenvolvimento e implementação de circuitos turísticos. O Rio Grande do Sul foi dividido em cinco polos ervateiros, sendo que três deles já implementaram projetos turísticos. Agora, chegou a vez do Polo Nordeste, que inclui os municípios da região de Passo Fundo. 

 

O desenvolvimento dos trabalhos

Segundo Ilvandro Barreto de Melo, assistente Técnico Regional de Recursos Naturais e Turismo da Emater-RS/Ascar, entidade parceira no desenvolvimento do projeto, o ponto de partida foi uma sensibilização das lideranças dos municípios envolvidos, que entenderam a possibilidade de somar as suas potencialidades turísticas. A partir daí foi assinado um termo de cooperação para executar um projeto regional. Essa assinatura aconteceu em Não- Me- toque, durante a edição 2023 da Expodireto Cotrijal. Concomitantemente a assinatura do termo, foi elaborado o estatuto da Associação do Circuito das Tropas, das Águas e da Erva-Mate, composta pelos seis municípios, e que vai coordenar os trabalhos junto com os parceiros privados e entes públicos. Esta associação deve ter seu estatuto aprovado nos próximos dias, e deve acontecer a eleição da diretoria da entidade. Ilvandro explica que atualmente é um comitê que está fazendo o trabalho, mas ele vai ser substituído assim que a associação for instalada.

Nos próximos dias será realizada a apresentação do trabalho para a comunidade que faz parte do circuito, além de coletar subsídios para auxiliar no projeto. Serão três dias de encontros municipais para apresentar o projeto para comunidade avaliar, e sugerir o que pode ser agregado.

A organização do projeto acredita que com a instalação do circuito, visitantes de fora da região e mesmo a população local poderá conhecer mais sobre a história, as belezas naturais e culturais.

 

Sobre o circuito

Três elementos combinados em seis municípios, foram essenciais para a criação deste circuito turístico: As Águas, o Tropeirismo e a Erva-Mate.

As águas

Ilvandro destaca que as águas são o primeiro elemento fundamental para o desenvolvimento do circuito, pois a região é considerada um divisor da bacia do Rio Uruguai e da Bacia do Rio Guaíba. As águas que nascem nesta região passam por mais de 360 municípios do Rio Grande do Sul.

Em Mato Castelhano, logo na divisa com Passo Fundo, há as nascentes de quatro sub-bacias hidrográficas, que são do Taquari/Antas, Rio Passo Fundo, Apuaê Inhandava, e Jacuí. Outro potencial hídrico forte em Mato Castelhano é a Barragem do Capinguí, onde diversos projetos devem ser desenvolvidos. Na sequência, em Gentil há uma série de lagoas naturais, além da festa do peixe. Em Caseiros, na transição do Planalto médio com os Campos de Cima da Serra, há uma série de Cascatas, além da nascente do rio Inhandava. Seguindo, em Lagoa Vermelha, há também uma forte ligação com as lagoas, uma delas, inclusive, é responsável pelo nome do município, além de uma bica que existe na cidade e que é muito visitada, pela qual a população carrega um aspecto sentimental e histórico muito grande. Barracão é o nascedouro do Rio Uruguai, que é o ponto de encontro dos rios Pelotas com o Rio Canoas. Neste município há uma riqueza natural com muito potencial, já que conta com 64 cascatas catalogadas. Finalizando, Machadinho, conta com as águas termais e também a barragem da usina hidrelétrica.

O tropeirismo

Este é o segundo elemento, e tem um aspecto cultural e histórico muito significativo com nossa região. Ilvandro diz que a entrada do gado bovino aconteceu por volta de 1710, que resultou no povoamento dos campos da região. Em Mato Castelhano havia uma região que deu origem ao nome do município, e outra região chamada de Mato Português, onde hoje é o município de Caseiros. Estas duas áreas eram divididas por um local chamado o Campo do Meio. O Mato Castelhano e o Mato Português são o resultado da divisão dos territórios entre Portugal e Espanha, que iniciou ainda com o Tratado de Tordesilhas, que refletiu em nossa região, e se estendeu pelos séculos seguintes. “Esta é uma região com potencial histórico e geográfico por remeter a questões de divisão territorial entre Portugal e Espanha”, disse Ilvandro.

No inverno, o gado se alimentava de pinhão no Mato Castelhano e no Mato Português, mas no verão os rebanhos iam para o Campo do Meio, que tinha boa pastagem e boas aguadas. “Esse gado foi se reproduzindo e posteriormente foi importante para o tropeirismo. O pessoal começou a recolher esse gado e levar para os centros consumidores”, destacou.

As próprias rodovias BR 285 e BR 470 foram abertas pelos tropeiros, que saíam da região para viajar com mulas ou bovinos até Sorocaba, para depois comercializar para Minas Gerais. Os tropeiros utilizavam mais de uma rota para “fugir” dos impostos cobrados no trajeto.

Ilvandro destaca que em Machadinho o tropeirismo foi importante no sentido de retirar erva-mate, para levar até outras regiões consumidoras. Carregamentos de mulas e carroças saíam de lá para entregar em diversas regiões. Além disso, há o tropeirismo de porcos, onde os animais eram engordados no inverno com o pinhão e depois eram comercializados para produção de banha.

 

A Erva- Mate

Este aspecto foi um dos pilares na formação sócio/cultural da região. Um dos exemplos citados por Ilvandro é a redução de Santa Tereza, em Mato Castelhano, que se instalou com a intensão de exploração dos ervais, além da preparação dos campos para introdução do gado.

Ilvandro destaca ainda que outro município, Machadinho, já tem uma abordagem diferente da erva mate, onde há resort em que é possível, fazer uma emulsão em banho de produtos à base da erva-mate, além disso, são desenvolvidos na cidade, sabonetes, cremes, shampoo, e uma linha de cosméticos com base na erva-mate. 

 

Outros aspectos

Ainda há outros elementos que são agregados de forma paralela. Um exemplo é a gastronomia, pois há muitas festas populares, e uma tradição ligados a comida campeira, peixe, ovinocultura, cafés coloniais, churrasco e comida tropeira, que podem ser degustado em diferentes pontos do circuito.

Há ainda algumas curiosidades históricas, como a “Batalha de Monte Caseros”, que foi um conflito que aconteceu em 1852 próximo a Buenos Aires, e que pretendia anexar os territórios do Rio Grande do Sul e Uruguai a Argentina. Os argentinos foram derrotados, e os soldados brasileiros que lutaram e venceram receberam lotes de terra em nossa região, no município de Caseiros, onde foi constituída uma colônia militar. Segundo Ilvandro, há possibilidade de haver alguma atividade interativa com os visitantes, e que remeta a este contexto histórico.

Ainda está sendo discutida uma ação de que vai envolver toda a comunidade regional, em comemoração aos 290 anos do início do tropeirismo na região. A primeira tropa que saiu da região chegou em Sorocaba em 1733. Há uma sinalização de uma passagem inaugural a cavalo na roda de 170 quilômetros que liga Mato Castelhano a Macadinho, porém ainda não há data definida para esta atividade. 

 

Como vai funcionar

Ilvandro comenta que a ideia é estabelecer um calendário com visitas guiadas, onde o turista poderá percorrer toda a rota em grupo, conhecendo as características históricas, culturais e geográficas com o auxilio de um guia. A previsão de início é para 2024. Porém esta não será a única opção. Caso o turista optar por visitar algum ponto específico, também poderá fazer, com seu carro particular, e no horário que considerar mais conveniente. Segundo ele, a associação não terá fins lucrativos. Os valores arrecadados com venda de ingressos, por exemplo, serão revertidos para a manutenção e melhorias na própria rota. 


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