Há 10 anos, as irmã Kerolyn e Kauany ganharam as manchetes dos principais veículos do Rio Grande do Sul. Gêmeas siamesas, elas passaram por uma cirurgia de separação no Hospital São Vicente de Paulo. Um procedimento inédito, até então, no interior do Rio Grande do Sul.
Uma década depois, as duas estão saudáveis e vivendo as descobertas típicas da idade. “Elas cresceram saudáveis, embora tivéssemos a certeza que alguns procedimentos ainda eram necessários para o desenvolvimento delas. Como toda menina, estão em uma fase de descobertas, gostam da modinha e maquiagem, há uma conexão muito forte entre elas. Brincam bastante com lousa mágica, jogos de adivinhação e têm paixão por bater fotos, dançam muito também”, conta.
Moradoras da cidade de Marau, as duas estudam na Escola Elpídio Fialho, onde recebem toda a atenção necessária. “Elas têm todo o cuidado da direção e dos professores, uma boa comunicação com os colegas, e têm responsabilidade com aquilo que ensinamos, entendendo o tempo em que necessitamos estar longe delas para poder trabalhar”, diz a mãe.
Adriana conta que as meninas compreendem toda as dificuldades enfrentadas pela família para mantê-las saudáveis.
“Entendem tudo o que aconteceu com elas, isso faz eu me tornar a mãe mais feliz que existe, pois mesmo que a luta tenha sido difícil, foi de muita aprendizagem e muita fé naquilo que Deus tem feito por nós. Ver elas hoje, vivendo como outras crianças, correndo e brincando felizes, com uma inteligência incomparável. Sou uma mulher guerreira de muita fé e agradeço a Deus todos os dias pelas meninas terem saúde e estarem se desenvolvendo como outras pré- adolescentes alegres e felizes”, finalizou.
Novos procedimentos
De acordo com o cirurgião pediátrico Gustavo Pileggi Castro, integrante do Corpo Clínico do HSVP, e responsável pelo procedimento cirúrgico das gêmeas, as meninas ainda precisam realizar tratamentos e terapias relacionadas a continência das fezes e da urina, já que a parte final do intestino e da bexiga eram compartilhadas entre as duas. “Isso se reflete em uma dificuldade, porque mesmo agora sem as colostomias que elas tinham, ambas têm dificuldade de continência fecal e urinária, então ainda usam fraldas, necessitando de cuidados permanentes. Dessa forma, estamos aguardando o retorno delas ao ambulatório para o acompanhamento principalmente dessa parte”, disse o médico.
Cirurgia inédita
As gêmeas siamesas Kerolyn e Kauany nasceram no dia 31 de janeiro de 2012. Em 2 outubro do mesmo ano, participaram de uma cirurgia de separação. Elas eram unidas por todo o abdômen, desde o fígado, os intestinos, a parte da bexiga e a genitália. A parte óssea era separada completamente, o que permitiu manter as duas perfeitas. “A cirurgia foi bastante desafiadora na época, uma equipe grande foi chamada para identificar quais eram os problemas e as dificuldades que a gente ia ter no procedimento cirúrgico. Um procedimento bastante complexo e demorado e o mais complicado ainda estava por vir, elas além de compartilharem alguns órgãos interno, o problema era o intestino e parte genital”, contou o médico Pileggi Castro.
Após o nascimento e cirurgia, as gêmeas tiveram alta hospitalar no dia 19 de fevereiro de 2013 pesando 5.700 kg e 7.030 kg. Uma equipe multidisciplinar formada por médicos, anestesistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem do HSVP cuidaram das meninas.
Caso raro
Segundo o médico, estima-se que a cada 50 mil nascimentos de crianças vivas, há probabilidade de ocorrer um caso de gêmeo conjugado. E o tipo das meninas atinge cerca de 6%, que são os denominados onfalópagos, dessa forma dentro dos casos raros, uma raridade.